Música

Celebridade após a morte: o obscuro cantor popular português que é notícia em Inglaterra

Dono de uma carreira modesta, José Pinhal morreu em 1993 num acidente de viação. Hoje é um fenómeno de popularidade.
José Pinhal morreu em 1993

“O mundo não estava preparado para ele”, é a citação escolhida para o título artigo do “The Guardian”, publicado esta quarta-feira, 8 de fevereiro, que tem como protagonista um artista português que poucos conhecem. José Pinhal é descrito com um “ícone da kitsch-pop” cuja obra, perdida nos arquivos, foi recuperada nos últimos anos.

A música do cantor foi redescoberta por acaso, graças às gravações encontradas na casa de um antigo agente. Os temas começaram a ser passados de mão em mão e foram cativando quem os ouvia. No Facebook nasceu um grupo que pedia a reedição dos temas de Pinhal e onde ainda hoje convivem centenas de fãs.

“Em meados dos anos 00, o meu irmão comprou o apartamento que era o escritório de um agente de músicos populares portugueses no norte do país. Cipriano Costa usava o modesto apartamento na Travessa da Fontinha como gabinete de produção que agenciava artistas como Herman José e Ana Bola, José Cid, Simara e… um tal de José Pinhal”, escreve Paulo Cunha Martins no grupo, o homem que redescobriu os temas do artista matosinhense.

“Entre os diversos cartazes que ficaram esquecidos nos móveis da cozinha existiam duas cassetes, volume 1 e volume 2. Resolvi transcrever a cassete com o primeiro álbum do José Pinhal e durante vários anos, aqueles temas ficaram em incubação no meu disco duro, sendo ocasionalmente expostos a amigos próximos e pontualmente partilhados em pens”, revelou. “A música e a memória de José Pinhal está viva e tudo o que está a acontecer ultrapassa todas as minhas expectativas. Ainda bem que encontrei aquelas duas cassetes.”

Como uma bola de neve, a popularidade foi crescendo até que em 2016 foi criada uma banda de tributo, a José Pinhal Post-Mortem Experience. Em concertos improvisados e outros parte de festivais como o Bons Sons ou Paredes de Coura, a palavra de Pinhal espalhou-se-

O mérito é, claro, todo dos temas dançáveis e viciantes como “Tu És a Que Eu Quero (Tu Não Prendas o Cabelo)” ou “Porém Não Posso”. Entre os hits está também a versão do tema de José Cid, “Magia (Bola de Cristal)”.

Mais: em 2020, a vida trágica de Pinhal foi redescoberta e contada nas salas de cinema, graças ao documentário “A Vida Dura Muito Pouco” de Dinis Leal Machado. O artista nascido em Santa Cruz do Bispo, Matosinhos, percorria os circuitos locais, entre concertos e espetáculos em discotecas.

Chegou a lançar três discos que não tiveram grande sucesso comercial. Haveria de morrer em 1993, num acidente de viação, quando regressava a casa de um dos seus concertos.

Mais recentemente, um clube de discos de vinil dedicado à música lusófona — o Lusofonia Record Club — avançou para o lançamento de uma edição especial e limitada dos LP dos discos de Pinhal. Os temas também estão disponíveis no Spotify.

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