“É oficial. Deixei o meu coração em Lisboa. A minha primeira vez em Portugal e fizeram-se sentir em casa. Nunca me vou esquecer da forma como me trataram, do amor e paixão, das mãos no ar e como dançaram e gritaram todas as letras.” Foi com esta dedicatória que Taylor Swift se despediu de Lisboa após ter passado com a Eras Tour pelo Estádio da Luz em maio, onde atuou para mais de 120 mil fãs ao longo de duas datas. Este domingo, 8 de dezembro, a digressão chega ao fim, com um concerto para cerca de 60 mil pessoas em Vancouver, e deixou bem consolidado o seu lugar na história da indústria musical.
Ao longo de 152 concertos, a artista passou por 49 cidades em cinco continentes. Embora o valor final arrecadado pela artista ainda não tenha sido revelado, vários meios internacionais, como a “Forbes”, adiantaram que ultrapassa os 1,8 mil milhões de euros, mas a publicação admite que o valor poderá ser ainda maior.
A confirmar-se, a The Eras Tour transforma-se na digressão que mais dinheiro fez em toda a história. Atualmente, o recorde pertence aos Coldplay que, com os 175 espetáculos da Music of the Spheres World Tour, terá acumulado 1,04 mil milhões de euros quando acabar em 2025.
O dinheiro foi um detalhe que mais cabeçalhos fez desde que a Eras Tour arrancou a 17 de março de 2023, em Glendale (Arizona, nos EUA). Rapidamente se tornou conhecimento público que, em várias das cidades pelas quais passava, Swift fazia doações generosas aos bancos alimentares. O valor nunca foi revelado, mas o Edinburg Food Project disse, em junho deste ano, que era um “presente que faria com que as pessoas em crise pudessem sentir o impacto duradouro da Eras Tour”.
Aqueles que tornam os concertos possível também foram bem recompensados. Em agosto, a “TMZ” noticiou que a cantora deu um bónus de 91 mil euros a todos os 50 camionistas. Feitas as contas, Taylor ofereceu cerca de 4,56 milhões de euros à sua equipa.
Não foram apenas os condutores que receberam um bónus. Embora não tenha sido revelado o valor, uma fonte que falou com o site garante que também os dançarinos, membros da banda, técnicos de luzes e som e equipa de catering ganharam mais dinheiro do que aquele que estavam à espera.
Uma digressão sísmica
Os concertos da cantora ficaram marcados pelos gritos dos fãs, pela troca de pulseiras da amizade feitas em casa, pelos recordes e também pelos terramotos. Em julho do ano passado, as atuações em Seattle, nos EUA, deram origem ao “Swift Quake”, um abalo de 2,3 na escala de Richter.
Não foi só no continente americano que o fenómeno da pop fez a terra tremer. Em Portugal, o segundo e último concerto da cantora no Estádio da Luz, no dia 25 maio, também gerou atividade sísmica.
Durante o espetáculo foi detetada atividade sísmica em nove estações espalhadas pela cidade de Lisboa, de acordo com o “Público”. Um espectrograma, elaborado pelos investigadores da FCUL, permite observar a evolução da vibração sísmica ao longo do concerto, assim como a decomposição em vibrações com várias frequências, desde um a oito hertz. Os registos mostram que “Shake it Off” foi a canção que gerou uma maior vibração do solo, com uma magnitude de 0,82 na escala de Richter. Os temas “You Belong With Me” (0,80), “Love Story” (0,72) e “We are Never Ever Getting Back Together” (0,61) foram outros que também registaram atividade sísmica.
O pesadelo com a Ticketmaster
As controvérsias à volta da Eras Tour começaram mesmo antes dos bilhetes serem postos à venda — e a protagonista da confusão foi a plataforma Ticketmaster. A Eras Tour, anunciada em novembro de 2022, era uma das mais aguardadas, visto que marcava o regresso da cantora aos grandes palcos após a pandemia.
A procura por bilhetes era algo nunca antes visto. Para lidar com isso, o serviço implementou o sistema Verified Fan, cujo objetivo era minimizar o número de bots e revendedores.
No entanto, o processo revelou ser desastroso. No dia da pré-venda, mais de 14 milhões de pessoas tentaram entrar no site, sendo que o sistema tinha sido projetado para acomodar apenas 1,5 milhões de utilizadores com códigos Verified Fan.
A sobrecarga resultou em filas de espera virtuais de até oito horas, quedas constantes no site e muitos fãs com códigos válidos que não conseguiram comprar bilhetes. A situação foi agravada pela falta de comunicação da Ticketmaster, que não explicou adequadamente os problemas e que, mais tarde, cancelou a venda geral de entradas, alegando que a procura tinha superado todas as expectativas. Milhões de fãs ficaram sem resposta.
Além disso, o modelo de preços dinâmicos utilizado fez com que os valores dos bilhetes disparassem durante o processo de compra, enquanto ingressos revendidos alcançavam preços exorbitantes noutras plataformas. A repercussão foi imediata: os fãs despejaram raiva nas redes sociais e a própria cantora publicou um comunicado no qual criticava a Ticketmaster, afirmando que confiava na empresa para lidar com a situação, mas ficou dececionada com o caos gerado.
O episódio também chamou a atenção de legisladores nos Estados Unidos, levando a audiências no Congresso sobre práticas desleais e o domínio quase monopolista da Ticketmaster, que é controlada pela Live Nation. Intensificaram-se as críticas que diziam que a fusão de ambas as empresas limitava a concorrência no mercado de venda de bilhetes, o que prejudicava tanto os artistas, como os consumidores.
Ao todo, foram contabilizados cerca de mil desmaios durante o concerto de Taylor Swift. Nas redes sociais, os fãs juntaram-se para reclamar das condições do local que acolheu a Eras Tour, nomeadamente o calor excessivo e a proibição de entrada com garrafas de água.
A notícia foi depois comentada por Taylor Swift, que desabafou nas redes sociais. “Não acredito que estou a escrever estas palavras, mas é com o coração partido que digo que perdemos um fã hoje à noite, antes do meu espetáculo. Não sei muita coisa além do fato de que ela era incrivelmente bonita e jovem demais.”
“Não vou conseguir falar sobre isto no palco porque me sinto dominada pela tristeza quando o tento fazer. Neste momento, sinto profundamente esta perda e o meu coração está com a sua família e amigos. Esta foi a última coisa que eu pensei que aconteceria.
A jovem era natural de Pedro Gomes, no estado de Mato Grosso do Sul, no Brasil, e estudava psicologia na Universidade Federal de Rondonópolis. Numa das suas últimas publicações nas redes sociais, colocou uma contagem regressiva para cumprir o sonho de assistir a um concerto da cantora.
Os cancelamentos que viraram os fãs contra Taylor Swift
No mais recente álbum, “The Tortured Poets Department”, Swift tem um tema chamado “I Can Do It With A Broken Heart”, onde diz que, apesar de ter um coração partido, faz tudo aquilo que esperam dela: lançar novos álbuns e cantar. A artista comprovou-o em abril de 2023, altura em que terminou o relacionamento com o ator Joe Alwyn, com quem estava desde 2016. Embora pudesse estar a sofrer de um desgosto amoroso, prosseguiu com a Eras Tour, que tinha arrancado em março.
Nunca foi, então, conhecida por cancelar a espetáculos, visto que antes de 2024, houve poucas ocasiões em que o fez. E quando aconteceu, foi por razões extremas: cancelou uma digressão em 2020 (que passaria pelo NOS Alive) devido à pandemia da Covid-19 e, em 2014, durante a Red Tour, não subiu ao palco em Banguecoque devido a um golpe militar do ex-primeiro-ministro Prayuth Chan-ocha.
Na digressão da Eras, voltou a cancelar espetáculos, novamente por uma razão fora do seu alcance e que poderia tirar a vida a centenas de fãs que estariam presentes nas atuações em Viena entre 8 e 10 de agosto. A decisão foi tomada após a polícia austríaca ter detido dois suspeitos de terrorismo ligados ao Estado Islâmico. Os radicais, na casa dos 20 anos, estariam a planear um atentado nos espetáculos da artista.
Os jovens radicalizaram-se através da Internet e chegaram a prestar juramento de lealdade ao Estado Islâmico em julho, revelaram as autoridades. Na casa em Ternitz de um dos jovens foram encontras várias substâncias químicas. O jovem estava em conluio com outros naturais de Veneza que se tinham candidatado ao cargo de segurança durante os espetáculos.
A Barracuda Music, a promotora dos concertos da Eras Tour em Viena, disse que os espetáculos foram cancelados “pela segurança de todos”. O dinheiro dos bilhetes foi devolvido, mas, mesmo assim, Taylor Swift não se livrou das críticas dos fãs, visto que demorou algumas semanas até falar publicamente sobre o caso.
Quebrou finalmente o silêncio a 21 de agosto. Numa publicação do Instagram em que celebrava o final da digressão europeia, que encerrou a 20 de agosto em Londres, partilhou ter-se sentido assoberbada pelos cancelamentos em Viena, mas que estava assustada pela segurança de toda a gente.
“Ter os concertos em Viena cancelados foi devastador. O motivo encheu-me de uma nova sensação de medo e de uma tremenda culpa porque muitas pessoas planearam ir aos espetáculos. Mas também fiquei muito grata às autoridades porque, graças a elas, estávamos em luto pelos concertos e não pelas vidas”, começou por escrever.
“Decidi que toda a minha energia deveria ser destinada a ajudar a proteger quase meio milhão de pessoas que vieram assistir aos shows em Londres”, acrescentou. Depois, Swift direcionou a atenção para quem a criticou por ter permanecido em silêncio, garantido que apenas o fez para assegurar de que não haveria riscos de atentados nos concertos seguintes.
“Deixem-me ser bem clara: não vou falar publicamente sobre algo se achar que isso pode provocar aqueles que querem magoar os fãs que vêm aos meus concertos. Em casos como este, ‘silêncio’ é, na verdade, mostrar moderação e esperar para me expressar no momento certo. A minha prioridade era terminar a digressão europeia em segurança e é com grande alívio que posso dizer que o fizemos.”
Lisboa teve um momento único em mais de 150 concertos
Não é descabido dizer que Taylor Swift ficou rendida a Lisboa. Durante o primeiro concerto, disse que se queria mudar para a cidade e, em conversa com o público, afirmou que tinha cometido um grande erro ao não ter vindo a Portugal mais cedo.
O ponto alto da passagem pelo Estádio da Luz, porém, surgiu após a apresentação de “Champagne Problems”, interpretada no piano. Tal como é habitual, a este momento seguem-se longos minutos de gritos e aplausos — e o público português não desapontou, tendo-o feito por mais de seis minutos.
Outros países repetiram este feito, mas há algo que distingue Lisboa das outras cidades: as luzes do Estádio da Luz foram ligadas. Nunca se soube o porquê, mas os fãs acreditam que foi uma surpresa por parte da equipa da cantora, para que pudesse ver os fãs que a aplaudiam efusivamente.
Na segunda noite, mostrou novamente o seu amor a Portugal, desta vez no segmento das canções surpresa, em que interpretou um mashup entre “You’re On Your Own Kid” e “Long Live”, dois temas que foram escritos a pensar nos fãs — e que são os hinos da base de fãs da cantora.
And when the stadium lights turned on for Taylor to see us all in Lisbon N1 after champagne problems? That is one of the best core memories I have from #TSTheErasTour!! pic.twitter.com/R0oHuGbbJe
— joi (Taylor’s Version) (@joimcpo) December 1, 2024