Música

Cláudia Pascoal: “Tem sido terapêutico mostrar a minha identidade na música”

A NiT falou com a artista que está na final do Festival da Canção. Representa uma nova fase, que irá culminar no seu segundo disco.
Cláudia Pascoal arranca a final no sábado.

Cinco anos depois, Cláudia Pascoal está na final do Festival da Canção. Desta vez, não só como intérprete, mas enquanto compositora. “Nasci Maria” é o tema que levou ao concurso da RTP1 e que poderá representar Portugal na Eurovisão — onde Pascoal já esteve em 2018, com “O Jardim”, canção composta por Isaura.

“Nasci Maria” representa uma nova fase do percurso de Cláudia Pascoal. Tornou-se conhecida pelas versões em programas como “The Voice Portugal” e “Ídolos”, mas desde então tem-se vindo a maturar artisticamente. O seu segundo álbum, que chega em maio, vai refletir um lado mais autoral e identitário da sua obra. Cláudia Pascoal tem recuperado as raízes minhotas para as cruzar com sonoridades pop e mensagens atualizadas. 

A NiT falou com a artista de 29 anos nas vésperas da final do Festival da Canção — onde vai encontrar concorrência difícil. A gala está marcada para sábado, 11 de março, e vai ser apresentada por Filomena Cautela e Vasco Palmeirim.

Como está a ser a preparação para a final? Suponho que esteja bastante atarefada.
Estou bastante atarefada porque vou fazer algumas mudanças de última hora. Mas muito limitadas, porque não dá para fazer muito mais.

Pode dar alguma pista?
Na verdade não é assim tão interessante [risos]. Eu tenho uma aproximação muito grande com a realização, é o meu segundo trabalho, realizo videoclips e outros projetos, portanto a minha exigência na realização, nas luzes e nesses detalhes é de facto feroz. Por isso estou a tentar pôr tudo como idealizei, porque falharam algumas coisas que eu agora gostava de ajustar.

Como está a encarar a final, tendo em conta que esteve na primeira semifinal e depois viu a outra? Quão confiante está? Qual é a sua expetativa?
A minha expetativa é que corra tão tranquilamente como a outra semifinal. Correu tudo bem, comemos chouriça, partilhámos pão e é um pouco essa a dinâmica de que estou à procura [risos]. E vou estar à beira da minha amiga Inês Apenas. Foi sempre o nosso grande sonho e objetivo, irmos as duas à final e finalmente o concretizámos, por isso vai ser muito divertido. 

A Cláudia vai fazer a primeira performance da final. Isso é uma boa ou uma má notícia? Ou acredita que não tem influência no resultado?
Confesso que não era o que idealizava. Nunca gostei de ser eu a começar, fosse as apresentações na escola ou ser a primeira a atuar. É o que é. Mas até é porreiro. Assim atuo e depois fico só a ver o programa como estaria em casa, mais relaxada. Se calhar é mais pressão no início, mas depois consigo relaxar.

A “Nasci Maria” já estava disponível para o público ouvir há algum tempo, mas obviamente ganhou uma nova vida com a sua interpretação na semifinal. Como tem sido a receção desde esse momento?
Acho que está a ser muito melhor do que estava à espera. Achava que, pronto, ia atuar… A minha expetativa das reações vinha do videoclip, que me deu imenso trabalho, e depois realmente quando atuei fiquei muito agradada com a reação do pessoal, de perceber o trabalho que tive comigo e a minha equipa, da realização, luzes e coreografia. Foram meses de trabalho, mas isso foi notado, o que é sempre espetacular. Fiquei mesmo muito contente com a recetividade. E a reação das pessoas é constante e impressiona-me sempre como é que o Festival da Canção está tão presente na casa dos portugueses. Fico sempre: como assim, estas pessoas todas estão a ver isto? É inacreditável.

Mas esta não é a sua primeira vez no festival, até porque já o ganhou. Porém, agora está numa fase diferente da sua carreira, está no concurso enquanto compositora, com um registo muito mais autoral. Tem sido uma experiência muito diferente?
Diferente e, honestamente, terapêutica. Eu tinha uma grande ânsia para mostrar o meu projeto e identidade. E como tive uma fase em que me envolvi sempre como intérprete — ou seja, a dar voz a outras canções, tanto na primeira vez do festival como no “The Voice” ou “Ídolos” — era para mim uma ânsia mostrar o que estou a fazer e o meu trabalho atual. Acho que esse objetivo foi absolutamente concretizado. Sinto-me mesmo muito contente que as pessoas percebam agora o que estou a fazer e que me queiram seguir… Foi um carimbo de “está a valer a pena”, as pessoas estão a perceber a diferença entre Cláudias cinco anos depois, portanto agora é continuar com o meu trabalho e o meu segundo álbum.

“Nasci Maria” é uma música que compôs enquanto trabalhava no segundo álbum e que acabou por encaixar bem no Festival da Canção, ou fê-la especificamente para o concurso?
Fiz especificamente para o Festival da Canção. Ou seja, na verdade já tinha completado o meu álbum, estava fechado — estamos só na parte da mistura — e depois surgiu esta oportunidade de ser compositora. E quando decidi ser eu a intérprete escrevi a canção… e, ao mesmo tempo, ao lado, estava a pôr as indicações das câmaras, da coreografia… Foi uma música feita já a pensar em palco. Algumas pessoas até dizem que a música é um bocadinho repetitiva, mas foi propositado, para tentar criar as secções visuais que eu queria transmitir na própria atuação. Foi um exercício super diferente mas integra-se completamente no segundo álbum porque continua com o mesmo registo de produção e mensagem, de tributo à tradição.

Já existe data para o lançamento do álbum?
Sai em maio. Até lá vou lançar mais duas canções e o álbum vai sair com os concertos de apresentação, no Teatro Maria Matos, em Lisboa; e no Hard Club, no Porto. 

Estava a dizer há pouco que tinha aquela ânsia de mostrar o seu lado mais autoral e que conseguiu fazê-lo no Festival da Canção. Mas isso ainda se vai concretizar mais com o segundo álbum.
Sim, sinto mesmo que este “Nasci Maria” foi o ponto de partida para mostrar tudo o que aí vem. Tenho participações com pessoas que nunca sonhei que entrassem num álbum meu, e que admiro desde sempre. É mesmo o culminar de objetivos e, honestamente, de muito, muito trabalhinho.

Pode desvendar algumas dessas participações?
As maiorzinhas não posso. Porém, posso desvendar que tenho uma música com a minha mãe, que foi sempre um sonho. É assim uma cena um bocadinho mais fora, mas acho que resultou bem, estou muito contente com esse objetivo. É uma música que escrevi diretamente para ela, como se fosse uma carta para ela, e desde o início das maquetes que tinha várias vozes — porque queria que fosse quase um coro minhoto. E pensei: porque não convidar a minha própria mãe? Quase como se a minha mensagem também fosse passada para a minha avó. É uma música dedicada a todas as mães.

Usou a palavra “tradição” para definir a linha que tem estado a construir e que se vai materializar com o segundo álbum. O que é que a levou em particular para esta temática, que tanto é lírica como sonora?
A composição deste álbum começou na quarentena. Acho que não foi de uma forma propositada que me liguei assim tanto ao Minho, mas a verdade é que é onde estão as minhas recordações e onde senti mais saudade de voltar. Por isso tive a ânsia de falar daquilo que falo, sem vergonhas, sem preconceitos, que acho que é algo com que, ao longo da vida, me debati um bocadinho… Esse preconceito de ser da vila e de ter pronúncia. Acho que anulei todos esses bichinhos que tinha na cabeça e agora canto, com muito orgulho, de onde sou. E este álbum é o fruto disso, é gritar a minha identidade e esse tributo à minha tradição — mas também à evolução.

Porque não é um álbum tradicional. Recupera essas raízes, mas reinventa-as.
Exatamente. Não só a nível sonoro, mas também na mensagem. Por exemplo, na “Nasci Maria” claramente estou a fazer um tributo à tradição e às cenas sonoras de quase folclore, mas estou também a dar um abanão a esta coisa do patriarcado, que está muito aliado à nossa tradição portuguesa. É com muita saudade que canto à tradição, mas também sempre com o foco para evoluir.

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