O último dos quatro concertos em Portugal dos Coldplay foi ainda mais especial que os anteriores. Carminho e Ivandro subiram ao palco com Bárbara Bandeira (que já tinha aberto as hostes nos três anteriores) logo ao início da noite, antes da atuação de Griff. Porém, não foram os únicos.
Este domingo, os 5ª Punkada, banda de pop/rock da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra, também tiveram oportunidade de tocarem com os Coldplay — inclusão é um dos temas defendidos pelos artistas.
A despedida do quarteto terminou de forma inédita. Chris Martin convidou o grupo — cujos membros sofrem de paralisia cerebral — para tocar o tema “Metade de Mim”, canção integrada no disco “Somos Punks ou Não?”, lançado no final de 2021.
Chris Martin cantou o refrão com os 5.ª Punkada em português e resto da banda o instrumental. No final da performance, Carminho, Ivandro, Bárbara Bandeira e Griff juntaram-se a eles em palco. Um momento cheio de emoção, que ficará na memória de muitos, especialmente da banda nacional.
Depois de várias tentativas para conhecerem os seus ídolos, o quinteto conseguiu realizar o sonho. Segundo o jornal “as Beiras”, a oportunidade surgiu de sábado para domingo, depois do presidente da Câmara Municipal de Coimbra ter apresentado um vídeo da banda aos Coldplay.
Quem são os 5.ª Punkada?
Fundado em 1993, o quinteto já conhece bem os palcos e a indústria. Já percorreram Portugal, de norte a sul, e somam mais de 300 concertos em vários países europeus. As conquistas não são poucas: com três discos de originais, são a primeira banda constituída por pessoas com deficiência a ser agenciada.
Na linha da frente do grupo está sempre Fausto Sousa, o quinquagenário vocalista e único membro da formação original dos 5.ª Punkada. Foi com o seu sonho que o projeto arrancou. Apaixonado pelos sons do heavy metal, sempre quis ser vocalista, estrela da música.
O objetivo só se pôde concretizar graças ao trabalho e vontade de Francisco Sousa, pioneiro da musicoterapia no País, que decidiu pôr em prática as vontades dos utentes da APCC. “O objetivo era o de que eles pudessem usufruir dos benefícios de fazer música em grupo”, explicou Jacob, à NiT.
A vida do grupo ficou marcada por um momento trágico. Num concerto na Guarda, Francisco Sousa estava no palco a tocar rodeado pelos restantes membros, quando sofreu um ataque cardíaco. Acabaria por morrer. “A banda assistiu a tudo, sem saber muito bem o que se passava. Foi complicado”, nota.
Entre várias mudanças no elenco ao longo dos anos, os 5.ª Punkada são hoje compostos por Fausto, claro, como vocalista e responsável pelo sound beam — um instrumento que permite transformar o movimento em som —, Fátima Pinho nas teclas, Miguel Duarte na bateria e Jorge Maleiro na guitarra.
Jacob, de 45 anos, é o quinto elemento, desde esse marcante ensaio em 2001 em que aceitou juntar-se à equipa. Até então, tinha feito um pouco de tudo. Formado em música, mas sem ambição de dar aulas, chegou a ter a sua banda, a trabalhar na Rádio Universidade de Coimbra e acabou a fazer um pouco de tudo. Até foi carteiro.
O nome da banda remete para o universo punk, não da música em si, mas na atitude, na vontade de afrontar o sistema instalado e quebrar as regras. Querem provar que podem fazer tudo aquilo que querem e que tantas vezes lhes dizem que não podem fazer.
Veja o vídeo da atuação emocionante do quinteto com os Coldplay e leia também a crónica da repórter da NiT que esteve presente no primeiro espetáculo.