Para antecipar o seu muito aguardado novo álbum, “30”, Adele fez uma emissão especial a 14 de novembro, na estação de televisão americana CBS. Parte de “Adele: One Night Only” consistiu numa entrevista dada pela cantora à apresentadora Oprah Winfrey.
Na conversa, abordou a relação difícil com o pai, Mark Evans, que morreu de cancro em maio deste ano. Tinha apenas 57 anos. Durante a maior parte da vida, Adele e o pai foram distantes. A cantora era apenas uma miúda pequena quando Mark Evans deixou a mãe. A artista sempre disse que essa lacuna foi determinante na sua vida.
Na emissão especial, voltou a dizer que “a absoluta ausência e falta de esforço” do progenitor foi a “maior ferida” da sua infância. Além disso, considera que esta relação atribulada com o pai influenciou as relações amorosas que desenvolveu ao longo da vida. O que, por sua vez, alimentou a sua criatividade. Muitas das letras que escreveu são desabafos sobre o seu estado de espírito.
“Tinha zero expetativas de toda a gente, porque aprendi a não as ter graças do meu pai. Ele é a razão pela qual não experienciei totalmente o que é estar numa relação de amor com alguém”, disse a Oprah Winfrey.
O comportamento de Mark Evans também influenciou os conceitos de casamento, amor e família para a artista. Para Adele, um divórcio era um falhanço enorme. “Tenho estado obcecada com a família nuclear a vida toda porque nunca vivi numa. Desde muito cedo que prometi a mim própria que, quando tivesse filhos, ficaríamos juntos. E tentei durante muito, muito tempo.”
Contudo, Adele percebeu que não estava feliz no seu casamento com Simon Konecki, com quem tem um filho, Angelo. Acabaram por aceitar que iriam ter de se separar. “Levo o casamento muito a sério… e agora parece que não. Era quase como se o tivesse desrespeitado ao casar-me e divorciar-me tão rapidamente. Sinto vergonha porque foi tudo muito rápido.”
O divórcio ficou concluído este ano, mas o casal separou-se em 2018, no mesmo ano em que casaram. O novo disco, “30”, foi certamente bastante influenciado pelos sentimentos de perda e de fim de relação.
Porém, a cantora britânica de 33 anos conseguiu chegar a um ter uma breve relação positiva com o pai antes de ele falecer.
Durante muitos anos, Mark Evans não ouviu a música composta pela filha. O único tema que conhecia era o single “Hometown Glory”, de 2007, escrita quando Adele tinha 16 anos. “Ele era do género: é demasiado doloroso — e desligava-a. Nunca mais ouviu nenhuma das minhas canções.”
Em abril deste ano, Adele e o pai tiveram finalmente uma conversa por vídeochamada que lhe trouxe a paz interior que de precisava. Durante o diálogo, a cantora apresentou ao pai as canções de “30”. “Senti que aquele enorme vazio ficou preenchido. Perdoámo-nos, e depois mostrei-lhe o álbum no Zoom.”
Além disso, mostrou todos aqueles singles que muitos de nós conhecemos — como “Rolling in the Deep” ou “Someone Like You” — mas que Mark Evans nunca tinha ouvido. “Obriguei-o a ouvir. O facto de ele percebido a dor que senti através das minhas músicas foi incrível para ambos. As favoritas dele eram todas as minhas favoritas, o que foi incrível. Estava orgulhoso de mim. Isso ajudou-me imenso, e quando ele morreu, senti a ferida a fechar-se”, acrescentou a cantora.
Numa entrevista recente com a revista “Rolling Stone”, Adele tinha dito que se tinha sentido “livre” depois da morte do pai. “Tenho-me sentido tão calma desde então. Realmente libertou-me.” Quando soube o que tinha acontecido, comparou a sua reação a um elemento do filme “The Green Mile”, onde as doenças são sugadas das pessoas. “Foi como se tivesse largado um lamento, alguma coisa saiu de mim.”