Música

Como Tina Turner superou a morte trágica dos únicos dois filhos biológicos

Um suicidou-se, o outro morreu vítima de cancro apenas cinco meses antes da morte da mãe.
Tina Turner com os filhos

A 20 de agosto de 1958, nascia Raymond Craig, o primeiro filho de Tina Turner, tinha a norte-americana apenas 19 anos, fruto da sua primeira relação. Dois anos mais tarde, já ao lado do músico e futuro marido Ike Turner, dava à luz Ronnie. Seriam os seus únicos filhos biológicos.

Turner, que morreu esta quarta-feira, 24 de maio, aos 83 anos, haveria de adotar mais dois filhos, neste caso filhos biológicos de Ike Turner. Depois do divórcio, o ex-marido mandou as crianças viver com Tina. Ike Jr e Michael acabariam por ficar definitivamente a seu cargo.

Apesar da escolha, a relação nunca foi a melhor com nenhum dos pais. As mazelas de um casamento abusivo ficaram à vista em todos os que cresceram e viveram na casa dos Turner. Foi a própria artista que revelou, na sua autobiografia, que o divórcio fez com que se afastasse um pouco de todos os filhos.

Exceção feita a um, o mais velho, Raymond Craig. Craig era o filho da sua primeira relação com o saxofonista Raymond Hill, que curiosamente tocava na banda de Ike, os Kings of Rythm. Viveu a sua vida na sombra da mãe, nunca enveredou pela música — ao contrário dos irmãos — e acabou como agente imobiliário na Califórnia.

Em 2018, já com 79 anos, Turner estava longe dos tempos áureos. Nas poucas entrevistas que dava e nas poucas revelações — lançou nesse mesmo ano um livro de memórias —, ia-se percebendo que a saúde estava frágil. Desde 2013 que os episódios se sucediam: de um AVC ao diagnóstico de cancro nos intestinos, à necessidade de transplantar um rim, fruto da hipertensão de que sofria.

Foi mergulhada nesse drama que recebeu a notícia traumatizante da morte do seu filho mais próximo. Craig Turner foi encontrado morto na sua casa de Los Angeles, em julho de 2018, vítima de ferimento de uma arma de fogo que terá sido disparada pelo próprio. Tinha 59 anos.

Turner sempre o descreveu como o mais emocional dos miúdos que sofreram os efeitos secundários da violência doméstica que a mãe sofria às mãos de Ike. “Os miúdos do Ike nunca reagiam, mas o meu filho mais velho, o Craig, era um rapaz muito emocional. Ficava sempre a olhar para mim cheio de tristeza. Um dia, o Ike estava a discutir comigo e o Craig bateu à porta para perguntar se eu estava bem”, contou em 2005, numa entrevista a Oprah Winfrey.

O acontecimento traumático marcou Turner. Poucos dias depois, a própria partilhou nas redes sociais uma imagem da homenagem feita pela família. As cinzas de Craig foram espalhadas nas ondas do Pacífico. “O meu momento mais triste como mãe”, escreveu. “A 19 de julho, despedi-me pela última vez do meu filho, quando reuni família e amigos para espalhar as suas cinzas ao largo da costa da Califórnia. Ele tinha 59 anos quando morreu de forma trágica, mas será sempre o meu bebé.”

A despedida de Craig

Só um ano mais tarde a artista decidiu falar publicamente sobre a morte. “Continuo sem saber o que o levou a fazer isto”, explicou à “BBC” sobre Craig, que dizia parecer-lhe estar plenamente satisfeito com a sua vida, tanto a nível laboral como ao lado da nova namorada. “Por essa altura, ele tinha-me dito que nunca tinha sentido por uma mulher o que sentia por ela.”

Nos planos estava uma viagem de Tina à Califórnia para conhecer a nova companheira. “Ele até redecorou o apartamento que eu lhe tinha oferecido há uns anos. Arranjara um novo emprego numa agência imobiliária importante. Estava feliz. Não sei o que o arrastou para o fundo, exceto talvez a solidão. Acho que poderia ter a ver com isso, a solidão. Mas sempre que penso nessa hipótese, penso porque é que não ligou à nova namorada que o ajudava tanto?”

A mãe descrevia-o como uma “pessoa introvertida” e “muito tímida”. E só ao fim de algum tempo a rever as últimas conversas é que reparou “numa mudança”. “Das últimas vezes que falámos, as conversas já não eram iguais. Só percebi isso depois do suicídio.”

Em conversa com Oprah Winfrey, Turner recordou também das últimas frases que o filho lhe terá dito. “Só quero ouvir a tua voz e esse riso”, recordou. “Ele nunca me tinha dito algo do género. Acho que foi uma forma de me dizer adeus, mas eu não o percebi na altura.”

A morte de Craig não seria o último adeus a um filho. O seu segundo filho biológico, Ronnie, morreu em dezembro de 2022, cinco meses antes de Tina Turner morrer. “Deixou o mundo demasiado cedo”, escreveu a mãe nas redes sociais.

Ronnie, que foi músico profissional, estaria a lutar contra um cancro do cólon — e terão sido as complicações associadas que resultaram na sua morte. “Sofro ao fechar os meus olhos e ao pensar em ti, meu querido filho”, escreveu a mãe, cinco meses antes de ela própria não resistir à doença.

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