A par de Bruno Mars, Katy Perry era a artista mais pop — e que potencialmente traria mais gente — à edição deste ano do Rock in Rio Lisboa. Tal como o concerto do cantor nascido no Havai, para esta atuação também se esperava um espetáculo com vertentes que ultrapassam bastante a música — que foi exatamente o que aconteceu.
Para todos os que se deslocaram ao Parque da Bela Vista — e foram bem menos dos que quiseram ver Bruno Mars, Demi Lovato e Anitta — e estavam mais à espera de um espetáculo do que de um concerto, não saíram desapontados.
Qual Cirque du Soleil, Katy Perry atua com uma dezena de bailarinas em palco que mudam de fato em quase todas as músicas. Em certos temas, usam máscaras gigantes, de flamingos a passear pelo palco a um tubarão que quis ter protagonismo na frente e até fez festas na cabeça de um segurança.
Além disso, todo o cenário de imagens de fundo está pensado ao pormenor — cada música tem direito ao seu, e a atuação iniciou com um olho gigante que ia mudando de cores e formas. A própria Katy Perry torna-se parte essencial desta parte mais de espetáculo ao usar quatro fatos diferentes (e bem originais) ao longo da atuação que, por causa disto, tem de fazer várias pausas. Mas a banda que a acompanha lida bem com essa situação. Tudo está planeado ao pormenor e bem estruturado, sem espaço para falhas.
“Para todos os que estão a perguntar quem sou eu, I’m Katy Perry with a motherfucking haircut”, brincou a irreverente cantora com as famílias que ocupavam o Parque da Bela Vista, sobre o seu cabelo curto e loiro, bem diferente do visual que tinha quando se tornou mais conhecida. Como tantas vezes acontece em Portugal, por causa da nossa posição geográfica, tratava-se do último concerto da tour de “Witness”, disco que a cantora lançou em junho de 2017.

Aproveitou o seu primeiro grande hit, “I Kissed a Girl”, para ir buscar uma bandeira colorida do orgulho gay ao público e cobrir-se com ela, com a ideia de quebrar preconceitos que ainda possam existir. Depois, e tal como Jessie J, também não ignorou o facto de Portugal ter perdido contra o Uruguai e ter sido eliminado do Mundial de futebol umas horas antes. “Sei que perderam um jogo de futebol muito importante há pouco, mas estamos aqui todos juntos para celebrar a música e divertirmo-nos num sábado à noite no Rock in Rio.”
De resto, Katy Perry quis desfilar (e desta forma tentar conquistar o público) os seus grandes singles dos últimos dez anos. Ouviu-se e cantou-se “Teenage Dream”, “Hot n’ Cold” (ou “quente e frio”, em português, como a cantora pediu à multidão para traduzir), “California Gurls”, “Et”, “Roar” ou “Swish Swish”, entre outros.
Se quem estava à espera de um espetáculo não ficou desapontado, quem queria um verdadeiro concerto, com uma componente musical mais forte e como prioridade, não teve o que queria. A atuação teve alguns problemas de som e Katy Perry não se mostrou, ao vivo, a cantora mais talentosa do mundo. Foi antes uma entertainer pura, a maestrina desta troupe de bailarinos, e executou a fórmula da tour inteira para entreter um público, sem grande espaço para a criatividade do momento. Era mais um dia de trabalho para a cantora. No fundo, tudo se resume ao final do concerto: Katy Perry é simplesmente “Fireworks”. E ficamos com a sensação de que falta alguma profundidade além disso.
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