Como a maioria das mulheres, Carolina Epifânio, já foi vítima de assédio. “Desde os piropos aos apalpões não solicitados até às vias mais extremas, é uma realidade muito presente no universo feminino”, conta à NiT a jovem fã de Raye que encontrou nos temas da cantora muitos dos problemas e preocupações que a assaltam. Também por isso fez questão de estar presente no terceiro e último dia do MEO Kalorama, que conta precisamente com a presença da britânica.
“O facto de ela falar sobre isso de forma tão aberta e vulnerável acaba por ser muito inspirador e empoderador”, explica a setubalense de 24 anos. As lágrimas, essas estão garantidas, confessa. Tanto que a maquilhagem é à prova de água.
Em “Ice Cream Man”, que quase garantidamente vai fazer parte da setlist, a artista de 26 anos fala sobre o dia em que foi violada. “Ela diz sempre que odeia interpretar esta canção e que é super traumático para ela, mas que, ao mesmo tempo, é muito terapêutico. Está a revelar uma situação que vai deixar as pessoas muito mais alertas. Não podemos atirar o trauma para debaixo do tapete. A atitude dela enquanto agente de mudança é muito inspiradora.”
Carolina, que trabalha na área do marketing digital e faz gestão de podcasts, conheceu, sem saber, a música de Raye em 2015 graças às colaborações com artistas como Jax Jones e David Guetta. “Quem não era um adolescente a ouvir EDM naquela altura que se acuse”, brinca.
Começou a ficar ainda mais interessada na discografia em 2023, após a parceria com Stormzy. Depois, mergulhou na discografia da britânica. Quando ouviu “My 21st Century Blues”, o primeiro e único álbum, soube que “era uma combinação de sonho”.
Nas letras, Raye fala sobre violência sexual, feminismo, opressão que sente não só na sociedade, como na indústria musical, a cultura da Internet e a forma como afeta a perceção do corpo. “Também fala sobre o consumo excessivo de drogas. Um dos hits que a popularizou foi ‘Escapism’ onde ela aborda isso e sobre o facto de ter usado estas substâncias para tentar calar todos os pensamentos negativos. Este era o mecanismo de cooperação que tinha.”
De forma direta ou indireta, Carolina acredita que as canções de Raye são extremamente relacionáveis para todos os “jovens incompreendidos, depressivos e traumatizados”.
Outro aspeto que a inspira é o facto da cantora “não se calar”. Apesar de não ser uma performer tão mainstream, faz sempre com que a sua voz seja ouvida e “defende as bandeiras em que acredita”. “Não deixou que a fama interferisse com a sua plataforma e agora faz com que os seus valores cheguem a mais gente”.
A imagem corporal é outro dos temas que toca a nova geração. “Diziam que ela não era suficiente e que o corpo dela não era ideal. Isto são temas que me impactam muito.”
Descobrir a discografia da cantora trouxe-lhe mais confiança e ajudou-a a sentir-se mais empoderada. No entanto, já tinha começado a olhar para si de forma mais positiva anteriormente. “Há muito tempo que pesquiso sobre isso para me tentar informar e crescer nesse sentido de me sentir mais à vontade. Quantas pessoas não acabam por cometer alguns excessos para tentarem calar os pensamentos intrusivos?”
Quanto ao concerto deste sábado, sabe apenas que será uma experiência única. “Estou preparada para ser surpreendida.”