Rafael Ribeiro, com o telemóvel da mãe na mão e a música a tocar, adorava cantar enquanto caminhava pelas ruas. Um dos momentos que mais o marcou ocorreu quando tinha apenas seis anos e foi gozado por um grupo de jovens trajados.
“Não me lembro do que estava a cantar naquele momento, mas os risos foram tantos que nunca consegui esquecer. Fiquei muito afetado por este episódio e, por vergonha, fiquei bastante tempo sem cantar”, revela agora, aos 18 anos. Contudo, alguns amigos reconheceram o seu talento e ajudaram-no a não permanecer na sombra. No final do secundário, partilharam o dom de Rafael com os professores e acabou por ser convidado para uma atuação na escola.
Aceitou o desafio e, acompanhado por colegas que tocavam piano e guitarra, a atuação foi um sucesso. “Correu muito bem e várias pessoas ficaram surpreendidas ao ouvir-me cantar. Depois, voltei a atuar noutro evento e ganhei mais validação, embora já acreditasse no meu talento”, conta o jovem à NiT.
Rapidamente ganhou notoriedade entre os colegas e decidiu que tinha chegado o momento certo para realizar um sonho antigo. Reconhecendo que não tinha capacidade para grandes concertos, encontrou nas ruas um espaço seguro para se expressar. “O meu principal objetivo era expor-me, sem medos, para perder completamente a vergonha”, confessa.
Com o plano traçado, as ruas da baixa do Porto tornaram-se o seu novo lar. Rafael começou a cantar em abril, ainda durante o período escolar, e, apesar dos nervos, a confiança foi crescendo. Quando as inscrições para o “The Voice” abriram, decidiu finalmente concorrer ao formato que acompanhava há anos.
“Sempre quis inscrever-me, mas sentia vergonha e fui adiando. Ainda bem que o fiz, porque sinto que só agora consegui mostrar verdadeiramente quem sou”, afirma.
Quando fez a prova cega, com “Summertime Sadness” de Lana del Rey, Rafael estudava economia na Universidade de Aveiro, em busca de um futuro seguro, uma vez que considerava a área da música “difícil”. Contudo, dois meses após o início do curso, decidiu anular a matrícula para se dedicar exclusivamente à música.
“Não tinha formação musical e ingressar num curso musical exigia alguns testes. Como não os tinha, optei por outra área. Nesse momento percebi que só conseguia ser verdadeiramente feliz com a música”, acrescenta.
Após deixar os estudos de lado, concentrou-se no concurso. Um dos desafios mais difíceis foi interpretar “Another Love”, de Tom Odell, cujos arranjos foram modificados na véspera da gala. “Tive pouco tempo para me preparar, mas em palco tudo correu bem.”
O cantor recorda também a reunião com o mentor, Fernando Daniel, e a equipa dos ensaios, assim como o abraço que deu à mãe ao saber que tinha vencido. “Nunca me senti tão feliz como naquele momento. Foi uma noite intensa, cheia de emoções. Fui atrás do meu sonho e consegui realizá-lo”, destaca.
Na final, interpretou “Cantor de Sonhos” de Tony Carreira. Embora “acompanhe pouco” a música portuguesa, considera a escolha de Fernando Daniel acertada, pois identifica-se com a letra. Rafael não tem propriamente artistas favoritos, mas menciona a banda Cigarettes After Sex como uma grande inspiração.
Com o sonho de ter vencido o “The Voice” alcançado, Rafael expressa o desejo de prosseguir os estudos na música, embora possa ser necessária uma pausa. O jovem de 18 anos afirma que, por agora, o seu foco está no contrato discográfico com a Universal Music Group. Além disso, foi convidado pelo mentor a acompanhar a passagem da “VHS Sessions Tour Internacional” por França, Inglaterra, Suíça e Luxemburgo. “Os ensaios estão prestes a começar e estou realmente muito feliz”, conclui. Quando tiver tempo livre, Rafael deseja voltar a cantar nas ruas, onde tanto aprendeu.