Os The Offspring foram confirmados como uma das bandas que este ano vão passar pelo Super Bock Super Rock. O grupo norte-americano de punk rock vai atuar a 13 de julho no palco principal da Herdade do Cabeço da Flauta, no Meco.
Os bilhetes diários custam 60€, sendo que os passes gerais — que também dão acesso a campismo — estão à venda por 115€. Nesta edição do festival também estão confirmados nomes como Wu-Tang Clan, The 1975, Steve Lacy, Franz Ferdinand, Father John Misty, Ezra Collective ou Black Country, New Road, entre muitos outros.
Na casa dos 50 anos, os músicos dos The Offspring já não são jovens rebeldes. Mas os concertos mantêm-se enérgicos — até porque os riffs de guitarra, as linhas de baixo preponderantes, a bateria acelerada e os refrões que pedem para ser cantados ao vivo não deixavam margem para outra coisa.
A banda foi fundada em Los Angeles em 1984 e foi nos anos 90, sobretudo com o lançamento do terceiro álbum — “Smash” (1994) — que se tornaram num dos grupos de punk rock de cariz popular mais célebres de todo o planeta. Os membros viram-se obrigados a dedicar-se completamente à banda, visto que as longas digressões e as presenças na comunicação social não lhes deixavam tempo para dedicar a outras atividades ou trabalhos.
Foi nessa altura que o vocalista do grupo, o carismático Dexter Holland, teve de tomar uma decisão. “Nós tínhamos um agente e eu disse-lhe: ‘Há alguma forma de poder continuar a estudar e tocar na banda’? E ele disse: ‘Nem pensar. Se quiserem fazer isto, têm mesmo de fazer isto’. Estávamos na MTV e em todo o lado. Tive de escolher”, disse em entrevista à “Vice”.
Dexter Holland, que hoje tem 57 anos, sempre foi muito ligado às ciências. No liceu tinha boas notas, embora não fosse algo de que se orgulhasse propriamente — sobretudo no circuito do punk. “Quando estás a crescer, tens quase vergonha disso, não é? Por isso desvalorizei-o durante muito tempo.”
Após o secundário, Holland ingressou na Universidade do Sul da Califórnia através de uma bolsa e começou a estudar medicina. “Estava a ter uma certa crise de identidade. Será que quero mesmo ir para medicina? Estava a adorar estar na banda, mas parecia irrealista. Não estava muito comprometido com nenhuma das coisas.”
Acabou por mudar de curso para biologia. Licenciou-se em 1988 e fez um mestrado em biologia molecular. Estava a iniciar o doutoramento quando “Smash” foi lançado — e mudou, repentinamente, a vida da banda. O disco, que incluía temas como “Self Esteem” ou “Come Out and Play”, vendeu 11 milhões de cópias, embora tenha sido editado por uma editora independente. Foi um estrondoso sucesso.
Curiosamente, o agora icónico verso “I gotta keep ‘em separated” surgiu a partir de uma experiência com balões de Erlenmeyer que o músico usava nos laboratórios, e que precisava de deixar separados para que conseguissem arrefecer mais depressa. Isto apesar de “Come Out and Play” ser uma música que pintava um retrato obscuro da criminalidade dos gangues em Los Angeles.
Dexter Holland acabou por escolher a banda, que viria a lançar outros discos de sucesso, como “Ixnay on the Hombre” (1997), “Americana” (1998) ou “Conspiracy of One” (2000). Durante 20 anos, Dexter Holland deixou em suspenso os seus estudos e nunca prosseguiu com o doutoramento. Apenas regressou na década passada à faculdade, numa fase mais madura da sua vida, em que os concertos se tornaram mais espaçados.
Em 2017, publicou a sua tese de doutoramento em biologia molecular “Discovery of Mature MicroRNA Sequences Within the Protein-Coding Regions of Global HIV-1 Genomes: Predictions of Novel Mechanisms for Viral Infection and Pathogenicity”. Como o (longo) título indica, trata-se de um estudo relacionado com o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH).
“Gosto de biologia molecular, mas, em particular, gosto muito de virologia. E pensei que o VIH era obviamente um flagelo para a humanidade, mas que também era interessante em relação à mecânica como funciona. Por isso fui por aí.”
Nesta entrevista, Dexter Holland também estabeleceu uma série de paralelismos entre a música e a matemática — visualiza as notas como determinadas formas geométricas, por exemplo. E, no fundo, entre a arte e a ciência. “As coisas são entusiasmantes na ciência tal como são na música (…) A medicina é uma arte tal como a investigação é uma arte. Tens de ser criativo na forma como desenvolves experiências.”
No ano passado, o músico foi mesmo convidado pela Universidade do Sul da Califórnia para discursar na cerimónia de conclusão de licenciatura do curso de medicina. De traje académico, mas mantendo os brincos e o seu típico cabelo loiro espetado, o doutor Dexter Holland revelou como em 1994 teve de contar à sua orientadora de doutoramento como ia deixar os estudos — e pelo meio teve de explicar o que era uma banda punk e o que era a MTV. No discurso, partilhou a história dos balões de Erlenmeyer terem inspirado aquele verso de “Come Out and Play”, e despediu-se dos recém-licenciados com palavras de apoio.
“O Isaac Newton pode ter dito: ‘Se vi mais longe, foi por me apoiar nos ombros de gigantes’. Meus amigos, é nos vossos ombros que outros se vão apoiar. Vocês são os gigantes por que se vão guiar aqueles que se seguem (…) Parabéns à classe de 2022.”