Diogo Pinto tinha 16 anos quando, no meio da plateia de um concerto de Katy Perry no Campo Pequeno, em 2009, foi chamado ao palco. O medo apoderou-se dele. “Tinha ido com amigos, não conhecia nenhuma canção”, recorda. Acabou por não ser convidado a cantar, mas não regressou ao seu sítio sem receber um beijo da cantora.
No final, antes de se ir embora, pediu-lhe um beijo na cara. “Quando ela me foi dar um beijo na bochecha, eu virei a cara e ela deu-me um beijo na boca”, conta à NiT. O pequeno e inusitado momento de fama transformou-o “no rei do Secundário”, recorda.
Desde então, Diogo, natural de Lisboa, tem conhecido outros grandes nomes da música, neste caso da portuguesa. Fez carreira como terapeuta da fala e vocal coach e é, por estes dias, um conceituado profissional que treina os artistas mais famosos do País, desde Fernando Daniel a Bárbara Tinoco.
Esse era já o sonho em miúdo: queria aliar a terapia ao canto. Uma ideia que surgiu depois de magoar as cordas vocais enquanto cantava para os amigos. “Quando era adolescente estava sempre a cantar Queen nos balneários da escola e do futebol. Nessa altura tive de parar porque estava a passar por uma fase de mudança na voz e tive de fazer terapia para curar os nódulos que acabei por desenvolver. Lembro-me de ter pensado que não havia ninguém que fosse terapeuta focado em voz. Era um ramo pouco explorado em Portugal”, recorda o artista de 31 anos.
O talento para a música sempre fez parte da sua vida e desde novo que tinha aquilo a que chama de ouvido relativo, ou seja, tinha facilidade em identificar notas sem precisar de um piano. O seu registo vocal também era extenso e conseguia interpretar facilmente as canções de Frank Sinatra, Queen ou Whitney Houston.
Começou por aprender música e canto por si mesmo, mas sabia que para se profissionalizar na área precisava de tirar formações específicas. Em Portugal, completou a licenciatura de terapia da fala na área da voz e estudou guitarra, piano e canto com vários professores.
Depois de terminada a licenciatura, inscreveu-se na pós-graduação em Voz Cantada e começou a trabalhar como “personal trainer da voz”. “Tal como um atleta precisa de um treinador para estar na sua melhor forma e ter o melhor rendimento possível, um cantor precisa de mais manutenção para poder ter uma carreira com longevidade e qualidade”, explica.
O seu trabalho passa por treinar a musculatura da laringe para que os artistas tenham uma melhor performance em palco. Para chegar a essa meta, cria planos de treinos onde o destaque vai para a voz. Igualmente importante para uma prestação em palco é a resistência. “Meto-os na passadeira e cantam enquanto estão a correr para ganharem a energia necessária para aguentarem”, aponta.
As aulas especializadas decorrem nas Diogo Pinto Vocal Studios, as duas escolas que tem em Benfica. A primeira foi inaugurada em 2017 e a segunda abriu portas em 2024. Juntas, já receberam mais de 1.500 alunos — com idades entre os sete e os 70 anos —, entre os quais alguns dos maiores nomes da música portuguesa.
João Gil, João Baião, Marina Mota, Bárbara Tinoco, Nena, Carolina Deslandes, Nininho Vaz Maia, Slow J, Plutónio e Fernando Daniel são apenas alguns dos clientes de Diogo Pinto. Atende todo o tipo de artistas de diferentes géneros musicais, desde o rap à pop. “O que importa é que trabalhamos a voz como um todo.”
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Nena e Nininho Vaz Maia são alunos regulares e trabalham muito durante a época baixa, quando têm menos concertos, para se prepararem para as digressões nacionais. Já Slow J, Plutónio, Bárbara Tinoco e Carolina Deslandes “preparam-se mais para os concertos grandes”, com três meses intensivos de treinos que incluem cinco sessões por semana — cada uma com cerca de 55 minutos de duração.
Fernando Daniel, ao contrário dos restantes, trabalha para projetos muito específicos. “Quando ele estava a gravar o disco mais recente, estive com ele em estúdio para o ajudar com as técnicas e a chegar às notas sem se cansar.”
O desejo de trabalhar com famosos surgiu quando andava na universidade. “Disse que queria ser o primeiro terapeuta da fala a treinar a voz dos artistas.” O objetivo foi alcançado em 2015, quando estava a estagiar num hospital e conheceu Nuno Guerreiro, que tinha tido “uma patologia vocal”. “A colaboração correu bem e ele falou de mim a outras pessoas e começaram a mostrar interesse pelo meu trabalho. Depois dele trabalhei com a April Ivy, com o Badoxa e malta do fado”, recorda.
A sua escola começou a ser ainda mais procurada nos últimos anos, quando a nova geração de cantores percebeu que a voz não aguentaria os concertos constantes sem uma ajuda extra. “Na indústria atual também há mais concertos e são lançadas mais canções. É natural que se cansem mais rapidamente. Cada vez mais é preciso usar os recursos que sabemos que resultam.”
Os recursos que o lisboeta menciona não são apenas as aulas, mas outros truques que podem ser aplicados no dia a dia, como a ingestão frequente de água de coco “que ajuda muito nas cordas vocais”. “Para aguentarem um concerto de duas horas também ingerir uma bebida rica em eletrólitos para não haver desgastes energéticos”, explica. A alimentação é igualmente importante e antes de subirem ao palco recomenda sempre que as refeições tenham hidratos de carbono para haver uma fonte de energia no organismo.
Além de trabalhar com músicos famosos, Diogo Pinto tem uma carreira própria na indústria do entretenimento, não fosse ele a voz por detrás de temas de séries como “Phineas e Ferb” e de filmes como “Frozen”, “Vaiana” e, mais recentemente, “Branca de Neve”, onde interpretou o príncipe.
Carregue na galeria e veja alguns dos artistas com quem o vocal coach já trabalhou.

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