Isabel Torres já atuou nalguns dos maiores festivais do mundo, desde o Glastonbury e o Coachella ao Lollapalooza e Sonic Summer. Agora, está a percorrer a Europa com um dos maiores grupos da atualidade: os Imagine Dragons. Não está a tocar diretamente com a banda, que atuou a 26 de junho no Estádio da Luz, mas sim com Declan McKenna, que tem feito a primeira parte dos concertos da digressão, e com quem já trabalha há uma década.
A oportunidade de trabalhar com o britânico surgiu em 2015, após ter acabado a licenciatura em Popular Music Performance, com foco em guitarra, na Universidade BIMM, na capital do Reino Unido — para onde se mudou aos 18 anos, em 2013, após ter acabado o curso de Artes em Portugal.
“Aos 16 anos, ele tinha acabado de assinar um contrato com a Columbia Records e estava à procura de uma banda que tivesse uma idade semelhante à sua, mas que fossem músicos profissionais e que pudessem estar nesta vida de viagens e concertos constantes”, conta Isabel, de 29 anos e natural do Porto, à NiT.
Na Universidade BIMM, um professor escolheu alguns alunos que se adequavam ao papel e a jovem estava entre as opções. Tocou à frente de Declan McKenna e acabou por ser escolhida. Desde então, não saiu do seu lado. “Ele nunca me disse o porquê de me ter escolhido, mas acredito que não tenha sido apenas pela parte musical porque, nesse dia, também fomos beber café para nos conhecermos melhor. Pode ter sido por isso.”
Após uma década de colaboração, não poupa elogios ao artista que, atualmente, já pode chamar de amigo. “As motivações dele não são superficiais. Não está exatamente à procura de fama e tem muita integridade. Quando se trabalha com alguém que tem os pés na Terra, isso acaba por trazer segurança a quem está à sua volta”, confessa.
Lamenta, também, que muitas pessoas não estejam na indústria musical “pelas razões certas”, garantindo que o britânico não é um desses exemplos. McKenna trabalha pela arte e não pela popularidade e para as tabelas. “Ele é um músico espetacular e super completo. Faz canções inovadoras e tem um estilo muito específico.”
Tal como vimos no Estádio da Luz, também é um cantor cheio de energia. “Ele gosta de estar em palco e todos os concertos acabam por ser diferentes porque mudamos sempre a setlist. Não é robótico”, reforça Isabel, que, no momento desta entrevista, estava em Lyon, França, para abrir mais um espetáculo dos Imagine Dragons na quinta-feira, 3 de julho.
Afinal, como é que surgiu a oportunidade de seguir em digressão com os Imagine Dragons? Foi em setembro do ano passado que Isabel Torres soube que iria partir numa tour ao lado do conjunto liderado por Dan Reynolds. A novidade foi dada por Declan McKenna, que a anunciou de forma bastante dramática.
Ligou a Isabel a dizer que tinha más e boas notícias e perguntou-lhe quais queria ouvir primeiro — optou pelas primeiras. “Ele disse-me que a má notícia era que não iríamos tocar no Estádio do Dragão. A boa era que íamos tocar na Luz. Depois, disse-me que tínhamos sido convidados pelos Imagine Dragons.” O cantor fez esta brincadeira porque sabe que Isabel Torres é adepta do Futebol Clube do Porto.
Apesar de tudo, ficou surpreendida (e muito feliz) com o facto de poder tocar num espaço desta dimensão. “São poucos os que conseguem vender cerca de 70 mil bilhetes em cada cidade. Para qualquer músico, atuar num estádio é algo que está na bucket list. Foi um sonho tornado realidade.”
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Isabel sabia que a passagem por Lisboa iria ser memorável porque estava, claro, familiarizada com o público português. “Foi ainda mais especial por ter sido no meu País. Todos da banda também disseram que tinham sido os fãs mais especiais. As pessoas estavam todas atentas e animadas. O sul da Europa tem uma energia mais vibrante.”
Dos Imagine Dragons a Muse e Sabrina Carpenter
Antes de ter saído em digressão com eles, a guitarrista já conhecia o trabalho dos Imagine Dragons. No entanto, a sua perspetiva mudou quando começou a ver os espetáculos do grupo em Las Vegas.
“Descobri um lado mais rock que não conhecia. Eles dão muito ênfase à guitarra, à bateria e há até duelos de instrumentos”, conta. “Tem sido engraçado ver essa abordagem mais ligada às minhas origens”, diz a portuense que sempre foi fã deste género musical.
Infelizmente, ainda não teve a oportunidade de conviver muito com os membros da banda norte-americana, visto que os músicos costumam passar mais tempo “com as pessoas dos seus círculos”. “Nós, por outro lado, somos mais novos e passamos a maior parte do tempo juntos. Devido à dimensão dos estádios, também há uma distância enorme entre os camarins“, explica. Mesmo assim, já se cruzou com Daniel Platzman, o guitarrista, que foi “super simpático”.
Além dos Imagine Dragons, Isabel Torres e a banda de Declan McKenna já tiveram a oportunidade de abrir concertos de outros artistas, nomeadamente Muse e Cage the Elephant. Também o fizeram para Sabrina Carpenter e “foi espetacular”.
“Ela tem uma idade semelhante à nossa e organizava coisas engraçadas no backstage todos os dias. Costumavam fazer parcerias com canis e gatis e tinham lá animais bebés para brincarmos. Quando publicávamos no Instagram, também os ajudávamos a ser adotados”, recorda.
A ligação de Isabel Torres à música deu-se quando ainda era miúda, no início dos anos 2000. Lembra-se que o pai estava sempre a ouvir rock dos anos 80 em casa, mais especificamente Eric Clapton, Pink Floyd e outras bandas onde a guitarra era destacada. Aos oito anos, aprendeu a tocar guitarra em aulas privadas e através de vídeos no YouTube.
Pouco tempo depois, quando já tinha 13 anos, passou para a guitarra elétrica, o seu instrumento de eleição até agora — tudo graças à música “Sultans of Swing”, dos Dire Straits. “O meu pai mostrou-me esta canção que tem um solo de guitarra super longo e que parece que nunca mais acaba. Nessa altura, o que estava na moda era a pop sem grande instrumental e ouvir aquilo mudou a minha vida. Fiquei completamente maravilhada”, recorda.
Enquanto foi crescendo na indústria musical, teve a oportunidade de conhecer uma das suas guitarristas favoritas: Orianthi. “Estive com ela na Califórnia e foi espetacular. Ela tocava com o Michael Jackson e era uma das minhas inspirações.”
Da bucket list já conseguiu riscar muitos objetivos, mas ainda há metas que Isabel Torres pretende atingir: “Gostava de voltar ao Estádio da Luz, mas como cabeça de cartaz.”