Música

Drogas, vícios e pensamentos suicidas. Ed Sheeran revela o seu lado mais sombrio

O músico britânico revisita o pior ano da sua vida no documentário que acompanha o novo disco. Estreia a 3 de maio.
Sheeran com a mulher Cherry Seaborn

“Ruivo. Baixinho. Gagueja. Esse tipo nunca se vai tornar numa estrela pop”, descreve-se a si próprio Ed Sheeran naquele que é o primeiro trailer do documentário sobre a sua ascensão ao topo do mundo da música. “The Sum of it All” é uma produção em quatro partes que revisita a vida do músico britânico, onde o próprio revela os melhores momentos da carreira e da vida, mas também os episódios trágicos que o marcaram.

A série documental, que chega à Disney+ a 3 de maio, divide-se em quatro episódios e o trailer foi revelado na segunda-feira, 20 de março. “Quando me falaram da possibilidade de fazer o documentário, disse que sim. ‘Devia ser sobre mim no estúdio, nos concertos…’ Não é sobre isso que fala o documentário”, confessa.

Nas primeiras imagens, Sheeran não aguenta e chega mesmo a chorar, enquanto recorda alguns dos momentos mais difíceis — e pouco conhecidos — sobre a sua vida. A chegada do documentário acompanha também o lançamento do novo disco, “Subtract”, que chega às lojas a 5 de maio.

Um dos episódios mais marcantes e que comove o artista e o que envolve os problemas de saúde da mulher, Cherry Seaborn, com quem tem duas filhas, Lyra de dois anos e Jupiter de apenas 10 meses. A última gravidez foi problemática — os médicos detetaram a existência de um tumor que só poderia ser tratado após o nascimento. “Ela esteve muito mal”, recorda Sheeran.

Os problemas de saúde levaram o cantor a uma depressão, enquanto o casal procurava manter a gravidez em segredo. A bebé acabaria por nascer com saúde e Seaborn também acabou por tratar o tumor com sucesso, apesar de terem feito poucas revelações sobre a questão. Mas o último ano revelou-se dramático para o artista britânico.

Num longo texto partilhado nas redes sociais, Sheeran abordou o período negro pelo qual passou e como é que ele deu também origem ao documentário. A trabalhar há quase uma década no novo disco, Sheeran confessa que procurou “esculpir o disco acústico perfeito”, enquanto escrevia e gravava “centenas de temas” sob a “visão clara do que pensava que seria o resto da vida”. “Mas no início de 2022, uma série de acontecimentos impactaram a minha vida, a minha saúde mental e, inevitavelmente, a forma como vejo a música e a arte.”

Para Sheeran, compor temas é a sua terapia. “Ajuda-me a compreender os meus sentimentos (…) Escrevia tudo o que me vinha à cabeça e, no espaço de uma semana, troquei uma década de temas e de trabalho pelos meus mais obscuros pensamentos.”

A mudança repentina obrigou-o a repensar todo o disco, até porque sentia que “não seria credível” lançar temas e canções que “não representavam” o que sentia. “O disco é isso. É uma janela para a minha alma. E pela primeira vez, não estou a desenhar um disco para que as pessoas o apreciem. Estou simplesmente a lançar algo que é honesto, verdadeiro, que representa o momento da minha vida adulta.”

Um dos episódios de que Sheeran fala é a morte do colega e amigo pessoal Jamal Edwards, e que o terá levado a contemplar o suicídio. Edwards morreu aos 31 anos, em fevereiro de 2022, vítima de uma paragem cardíaca provocada pelo abuso de álcool e cocaína. “O meu melhor amigo morreu. E isso não devia ter acontecido. Sempre tive momentos maus na minha vida, mas só neste último ano é que os revisitei”, explicou em entrevista à “Rolling Stone”.

“Sentia que não queria viver, mas não foi a primeira vez na minha vida que o senti. Sentes que estás a afogar-te debaixo das ondas. Estás num sítio do qual não consegues sair”, fala sobre o estado depressivo em que se encontrou. Sheeran achava que não devia estar deprimido, que isso era algo “egoísta”, sobretudo porque era um pai com responsabilidades. “Sentia-me envergonhado por estar deprimido.”

Acabou por sentir que precisava de procurar ajuda profissional, impelido também pela mulher. “De onde eu venho, ninguém fala sobre os sentimentos. Em Inglaterra, todos consideram estranho ir a um psicólogo. Mas acho que é uma enorme ajuda poder falar com alguém, desabafar e não nos sentirmos culpados quando o fazemos. Esta ajuda não passa por carregar num botão e ficas automaticamente bem. É algo que estará sempre lá, que é preciso tratar e que tem que ser gerido.”

A morte do amigo levou-o a repensar os seus próprios hábitos. O músico de 32 anos revelou que sempre bebeu muito e que experimentou drogas. “Sempre bebi, mas nunca toquei em drogas até aos 24”, confessou, apesar de não querer revelar quais as substâncias que ingeriu. “Lembro-me de estar num festival e pensar que se todos os meus amigos estavam a tomar, que não poderia ser assim tão mau. De repente, tornou-se num hábito semanal, depois diário, depois tomava duas vezes ao dia. Depois já o fazia sem beber. Tornou-se tudo muito negro.”

ed sheeran
Jamal Edwards morreu em 2022

Foram os momentos atribulados que viveu em 2022 que o levaram a repensar a sua vida. “Dois meses antes da Lyra nascer, a Cherry disse-me: ‘Se as minhas águas rebentarem, queres mesmo que seja outra pessoa a conduzir-me até ao hospital?’. Disse-me isto porque eu andava a beber imenso e foi quando me deu o clique. Não, claro que não quero que seja outra pessoa. E não quero estar bêbedo quando pegar na minha filha. Nunca.”

Quando Sheeran parou para pensar, percebeu que o vício tinha tomado proporções gigantescas. “Beber umas cervejas é uma coisa. Beber uma garrafa de vodka é outra completamente diferente. Pensei: ‘Estás a entrar nos trinta. Cresce. Já curtiste, já tiveste as experiências todas. Agora esquece isso.’-”

A morte de Jamal Edwards provocada pelo abuso de drogas e álcool foi a gota de água. Prometeu que nunca mais o faria. “Nunca mais toco em drogas, porque foi assim que o Jamal morreu. Fazê-lo seria desrespeitar a sua memória.” Sheeran dedicou-lhe o seu novo tema, “Eyes Closed”, até porque confessa que nunca teria chegado onde chegou sem o apoio do seu amigo e produtor musical.

Anos antes, por altura da sua ascensão meteórica no mundo da música pop, Sheeran terá sofrido também de distúrbios alimentares. Segundo o próprio, teimava em comparar-se a outros grandes nomes como Shawn Mendes e Justin Bieber que tinham “corpos fantásticos”. Era algo que o deixava “desconfortável”. “Sou muito inseguro. E então quando entras numa indústria onde estás constantemente a ser comparado com as outras estrelas pop… Surgi naquela onda dos One Direction e dizia para mim: ‘Por que raio não tenho um six pack?’.”

“Não tinha porque adorava kebabs e cerveja. Mas continuava a perguntar-me por que raio era tão gordo.” Continuou a comer cada vez mais, mas de forma menos saudável. Devorava tudo o que lhe apetecia e depois vomitava. Acabou por encontrar uma alma gémea em Elton John, que confessara também ter sofrido de bulimia. “Acabei a fazer o que ele fazia, a comer desalmadamente e a deitar tudo fora.” Sheeran admite também ter uma personalidade que facilmente se deixa absorver, obsessiva. Se come, come muito. Se bebe, bebe muito. Acabaria por mudar de hábitos e hoje, o seu vício é o exercício físico.

Acabou por encontrar o equilíbrio perfeito. “Se estás a comer comida que queres mesmo comer, mas depois também te exercitas e conquistas o aspeto e a forma que queres ter…. Acho que esse é um bom equilíbrio. Por isso como, adoro fast food, adoro caris, um bom vinho. Adoro todas as coisas que fazem mal quando não te exercitas. Acho que daria em louco se passasse a vida sem comer hidratos de carbono.” Hoje treina “para poder comer e beber” o que bem entender. “É uma forma saudável de viver.”

Ao longo dos anos, Sheeran foi abordando a temática da fama e do que acontecia quando não estava num palco a ser adorado por milhares de pessoas. “É tudo muito giro no início, é tudo diversão e rock n roll, mas depois tudo se torna triste”, revelou em 2020. Admite que chegou a sofrer ataques de pânico e a questionar tudo pelo que tinha lutado desde novo. “Qual é o objetivo?”, notou.

O novo ano parece também ter trazido um novo Ed Sheeran. Depois de uma ausência voluntária das redes sociais, anunciou o seu regresso em fevereiro. “Sendo totalmente honesto, a minha vida pessoal tem sido algo turbulenta e simplesmente não me apetecia estar online a fingir que tudo estava bem quando não estava”, escreveu.

Agora tem um novo disco na mão e um novo documentário. Ambos chegam aos fãs no início de maio, com a promessa de ainda mais revelações.

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