Para Alex Blanco, tudo começou com a morte de Michael Jackson. Foi em 2009 que o rei da pop perdeu a vida, ganhando um enorme impacto mediático. Blanco era um adolescente a viver na Galiza, em Espanha, quando teve a vontade de descobrir mais sobre aquele homem adorado e ao mesmo tempo enigmático. Foi descobrindo, interessou-se, começou a imitar os seus movimentos de dança.
Logo no ano seguinte, estreou em Espanha o espetáculo musical “Forever King of Pop”, de tributo a Michael Jackson. Alex Blanco foi vê-lo, mas nunca imaginaria que, alguns anos depois, seria ele a interpretar o músico homenageado nesta performance que tem corrido o mundo.
É isso mesmo que tem vindo a acontecer desde 2018, quando a produção renovou o elenco. Hoje, está habituado a encarnar Michael Jackson, a vestir figurinos idênticos, a transformar-se com maquilhagem (processo elaborado que demora cerca de duas horas) e a emular os seus movimentos icónicos de dança.
“Forever King of Pop” vai ser agora apresentado em duas sessões no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, a 18 de março — às 17 e às 21 horas. Os bilhetes estão à venda entre os 28€ e os 60€. Em palco haverá bailarinos, músicos e cantores — trata-se de uma produção de grande dimensão que pretende celebrar a música deste ícone. A NiT entrevistou Alex Blanco no coliseu sobre esta experiência.
Como é que inicialmente ficou fascinado pelo Michael Jackson?
Bem, sempre adorei o Michael Jackson. Acho que ele é um artista incrível. Mas tudo começou, infelizmente, com o seu falecimento em 2009. Houve um grande boom em termos de ele estar a ser falado nos media. E eu queria saber mais sobre ele. Fiz a minha pesquisa, vi o filme “This is It”, que retrata os seus últimos ensaios, e foi uma experiência bonita. Descobri um artista que ninguém conhecia — ou seja, muito poucas pessoas conhecem realmente o Michael Jackson. Foi isso que me fez começar a dançar.
Portanto, antes da sua morte não era um fã tão grande.
Sim, gostava dele e conhecia as músicas mais conhecidas — como a “Bad”, “Thriller” ou a “Billie Jean” — mas não conhecia toda a sua obra.
Este espetáculo já existia antes de o Alex participar nele. Como é que se tornou parte do elenco?
Essa é a parte engraçada. Há espetáculos do “Forever King of Pop” desde 2010, foi um dos primeiros a prestar tributo ao Michael Jackson. E eu fui ver a atuação quando tinha 14 ou 15 anos. Adorei e até enviei uma mensagem ao produtor, a dizer que tinha adorado. “Se precisares de um Michael Jackson, aqui estou eu”, disse. Obviamente, ele respondeu-me algo deste género: “Bem, és demasiado novo”. Eles estiveram em tour por todo o mundo e em 2018 estavam à procura de um novo elenco, fizeram audições e eu já tinha idade suficiente. Foi quando fiquei.
Estava a dizer que começou a dançar por volta da altura da morte do Michael Jackson, quando se começou a interessar mais. Antes disso não tinha qualquer experiência?
Não, na verdade aprendi por mim mesmo, só a ver vídeos do YouTube. Tive alguns amigos bailarinos profissionais que também me ajudaram. Mas foi muito por mim mesmo. Ficava a ver vídeos do Michael Jackson… Até tenho um disco rígido externo com quatro terabytes só com vídeos do Michael Jackson, concertos… Foi assim que tudo aconteceu. Aprendi cada passo, cada pequeno detalhe.
Continua a ver esses vídeos agora? Obviamente já está muito habituado às coreografias.
Sim, todos os dias. Não tanto como antes, claro, mas nunca quero perder a personagem. Porque é muito fácil fazer muitos espetáculos e habituarmo-nos à rotina, mas acabar por incluir movimentos que não fazem parte… Por isso tenho de ver o verdadeiro Michael Jackson para nunca me esquecer da essência. E tento sempre captá-la. Quando subi ao palco pela primeira vez, as pessoas acreditaram mesmo que estavam a ver o Michael.
Obviamente, isto mudou a sua vida profissional. Mas como é que a sua vida pessoal foi impactada, não só por este trabalho mas por esta interpretação do Michael Jackson?
Muitas pessoas pensam que mudei a minha personalidade porque faço isto, mas sou muito bom a separar as minhas duas vidas. E se me vires sem a maquilhagem, provavelmente não me reconhecerás [risos]. Muitas pessoas acreditam que fiz alguma cirurgia, mas não. Mas é verdade que o Michael Jackson me influenciou, só que em coisas boas… Ele era um filantropo, fazia coisas boas para muita gente, e são esse tipo de coisas que mais ficaram comigo.
É fácil separar as duas vidas, como disse?
Sim, é verdade. A minha noiva adora o Michael Jackson e de vez em quando até diz “às vezes tens de te parecer mais com o Michael”… Porque ela adora-me mas também quer ver a minha interpretação do Michael Jackson. E eu digo que não, que não estou a trabalhar [risos]. Separo sempre as coisas.
Sei que teve a oportunidade de conhecer alguns familiares do Michael Jackson. Como é que foi para si?
Foi muito importante. Quando vim para o “Forever King of Pop”, já sabia que isto era o único espetáculo apoiado pela família do Michael Jackson. Senti uma grande pressão, porque na minha primeira performance estava lá o Jermaine Jackson na frente do público… Alguém dos Jackson 5 a ver-nos! Foi uma grande pressão. Mas ele adorou o espetáculo, parabenizou-nos, disse que era muito bom. Ele até queria fazer parte do processo criativo, ajudou-nos nalgumas questões musicais e de produção. E depois a LaToya Jackson foi ver-nos a Barcelona — e depois viu-nos outras duas vezes no México. Ela também adorou o espetáculo, deu-me um enorme abraço e disse-me: “muito obrigado por me fazeres lembrar o meu irmão”. É uma experiência muito bonita, e consegui ver as lágrimas nos olhos dela, estava mesmo emocionada.
Como é que prepara cada tour ou espetáculo? Certamente prepara os movimentos de dança, e vê os tais vídeos do Michael Jackson.
Há uma grande preparação física, tenho de fazer uma dieta. Mas também há uma preparação mental. Porque, cada vez que sobes ao palco, tens de pensar que és o Michael Jackson naquele momento. É uma enorme responsabilidade porque é o rei da pop. É uma lenda. Mas há muita preparação em relação à produção. Temos de trabalhar todos juntos. Há músicos, cantores, bailarinos… São muitos ensaios. Cada vez que vamos a uma cidade nova, temos de passar o dia inteiro antes da performance a preparar cada pequeno detalhe. É uma equipa muito grande e para estar toda a gente sincronizada é difícil. Quando as pessoas veem o espetáculo, só veem duas horas de trabalho, mas na verdade foram oito horas naquele dia.
Vê-se a continuar a fazer este espetáculo e a interpretar Michael Jackson nos próximos tempos?
Sim, é a minha profissão. Já era antes de entrar em “Forever”, mas o espetáculo profissionalizou-me e estou aberto a novas oportunidades. Agora estou muito feliz a fazer isto e estamos a aproveitar a experiência. Temos uma enorme tour — vamos à Alemanha, França — e até agora estou muito feliz. Vi-o enquanto fã, agora estou a trabalhar nele e para mim isso é a melhor coisa de sempre.
Lá fora, quando nos encontrámos à porta do Coliseu dos Recreios, foi cumprimentado por fãs que queriam tirar fotografias consigo. Suponho que seja algo frequente quando está vestido enquanto Michael Jackson. Já está habituado a ter essa aura de fama graças ao rei da pop?
Nunca me habituo [risos], é muito difícil. Mesmo quando terminamos o espetáculo, saio e fico a tirar fotografias com toda a gente, e as pessoas, por um momento, acreditam que é mesmo o Michael. E às vezes puxam-me e gritam “tira uma foto comigo!” E eu: “Não, não, eu não sou o Michael, relaxa”. Parece que algumas pessoas acreditam mesmo que é ele. O que é bom, acho eu, porque significa que fazemos um bom trabalho. É estranho, porque não sou aquela pessoa, mas meio que vejo pelos olhos dele o que ele costumava ver.
Qual foi a experiência mais surpreendente que teve ao interpretar Michael Jackson?
Não foi há muito tempo, um bom exemplo é o de Israel. Não sei porquê, acho que lá são mesmo, mesmo enormes fãs do Michael Jackson, mas quando acabámos o espetáculo toda a gente simplesmente subiu ao palco porque queria tirar uma fotografia comigo. E estava tudo a invadir o palco. A segurança teve de vir para me proteger porque estava a tornar-se sério. E tive de sair de lado, não conseguia sair pela saída normal. Foi insano [risos]. Nesse momento, fui mesmo o Michael Jackson.
O Michael Jackson foi acusado de crimes muito graves, como abuso de menores. Como é que encara essa realidade, tendo em conta que é um grande fã e tem muito conhecimento sobre esta pessoa e este artista, além de o interpretar?
A maioria das coisas que dizem sobre ele são obviamente falsas. Há interesses económicos por trás dessas alegações. Lançaram um documentário há não muito tempo [“Leaving Neverland”], que tinha umas quatro horas, e continha tantas mentiras que foi reduzido para quase uma hora. Tiveram de cortar quase tudo, era só mentiras. E a família do Michael Jackson está em tribunal em busca de justiça. Foi mesmo injusto. Ele foi declarado inocente quando estava vivo, e agora que não está connosco, estão a tentar atacar a sua imagem. Não é justo.
Para si não é um constrangimento?
Quando esse documentário foi lançado, muitas pessoas acreditaram nessas coisas. Mas, no final do dia, a maioria das pessoas que fizer um pouco de pesquisa vai perceber que é tudo mentira e que não tem sentido. E, no fundo, neste espetáculo apenas celebramos a sua música e carreira. É com isso que nos preocupamos. Deixamos os assuntos controversos de fora do espetáculo.
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