Há três semanas que o Panorâmico de Monsanto, em Lisboa — que foi reabilitado pela autarquia há dois anos, para se tornar um miradouro oficial — está fechado para obras. Tudo porque nos próximos dias, entre quinta-feira e domingo, 19 a 22 de setembro, o espaço volta a receber o Festival Iminente.
É a segunda edição neste local do evento criado pela galeria de arte Underdogs, de Vhils, numa co-produção com a Câmara Municipal de Lisboa. Quando nasceu, em 2016, o Iminente acontecia em Oeiras.
Este ano será a maior edição já realizada. O festival cresceu um dia — agora tem quatro — e a lotação foi aumentada pela organização para cinco mil pessoas por dia.
“O grande foco é a diversidade, por isso é que temos estilos tão diferentes durante os quatro dias”, conta à NiT o diretor do Iminente, Tiago Silva. “Nós este ano adicionámos um dia porque há projetos incríveis… por nós dávamos espaço a toda a gente, mas é difícil. Vamos ter cerca de 50 bandas e 100 artistas de 11 nacionalidades diferentes. É bastante vasto porque temos todo o tipo de artistas: há performances, dança, skate…”
É a quarta edição em Portugal, mas já aconteceram duas em Londres, no Reino Unido, um evento mais pequeno em Xangai, na China, e um festival no Rio de Janeiro, no Brasil. A ideia tem sido levar artistas portugueses e apresentá-los para outros públicos, sempre incorporando elementos da cultura local.
Este ano, o Iminente vai ter, entre tantos outros, Common, Mayra Andrade, Holly Hood, Kappa Jotta, Papillon, DJ Marfox, Beatbombers, Classe Crua, Fred, Dealema, Deau, Jay Electronica, Large Professor, Just Blaze, Filho da Mãe, Jair MC, Shaka Lion ou Pedro Mafama.
São músicos de hip hop, eletrónica, R&B ou a chamada música étnica — muitas vezes são casos de grande fusão, como o projeto Scúru Fitchádu, que junta a música tradicional do funaná ao punk rock.
“Pessoalmente, domingo é o dia de que gosto um pouco mais. Porque tem Bulimundo, Chalo Correia, Beatbombers, Linn da Quebrada… É mesmo difícil escolher entre tanta coisa. E é também uma missão para o público, porque há muita coisa a acontecer ao mesmo tempo. Às vezes nem sabem para o que vão e acho que isso pode ser um ponto de atração.”
Ao todo, o Iminente tem este ano cinco palcos, sem haver um principal nem secundários: existe o Outdoor, o Escada, a Mezzanine, a Cave e o Panorâmico. Os bilhetes para sexta-feira e sábado já estão esgotados, mas ainda é possível comprar entradas para quinta-feira e domingo. Estão à venda por 15€ e a programação completa está disponível no site oficial do evento. Até agora, todas as edições do evento foram completamente esgotadas.
Nos dias antes de começar o festival, terminam-se os últimos pormenores no recinto. Falta concluir algumas instalações artísticas e montagens, mas tudo parece bem encaminhado. Uma das maiores atrações deste ano no campo da arte — porque este festival não é só de música — é a peça que vai estar instalada no topo do Panorâmico.
“Foi criada pelos Error 43 em colaboração com Pedrita. Criaram uma estrutura de LED com cerca de quatro metros de altura em que vamos passar conteúdo diverso. Aliás, já estamos a passar. Vai ser um discurso para o público. E toda a gente que consiga ver o Panorâmico de Monsanto de qualquer ponto da cidade vai conseguir ver a instalação.”
O Iminente vai ter ainda peças de arte criadas de propósito por AkaCorleone, Colectivo Rua, Thunders Crew, Sara Morais, Herberto Smith ou Gonçalo Barreiros, entre outros, além de obras do próprio Vhils, que é o responsável por toda a curadoria artística. Como aconteceu no ano passado, algumas das obras deverão permanecer no Panorâmico de Monsanto depois de o festival terminar.
“Este edifício casa perfeitamente com a nossa identidade e o nosso conceito. Mesmo que a logística seja complicada — aqui só há uma via e por isso temos bastante atenção com os meios de transporte que fornecemos. Temos uma parceria com a Carris e a Uber para facilitar. O espaço fala por si, é o ponto mais alto de Lisboa. Já viajei pelo mundo fora e é muito difícil encontrar um espaço como este.”
Este ano o Iminente tem uma capacidade de mais 500 pessoas por dia. “Porque achamos que realmente o espaço é gigante. Na primeira edição aqui tivemos algum receio e jogámos pelo seguro. Este ano aumentámos, podia ser bem mais, mas queremos que as pessoas se sintam confortáveis no espaço. Não queremos que seja um festival em que demores meia hora para ir a um bar ou para andar de palco em palco. E como há peças de arte espalhadas pelo recinto, também exige uma certa distância para observares as obras.”
Para montar esta autêntica “cidade” em três semanas, porque o Panorâmico de Monsanto normalmente não tem eletricidade nem água, é preciso que a principal equipa de produção até durma no recinto.
“Temos uma casa de apoio para algumas pessoas da produção que vivem aqui nestes dias. Vivemos mesmo aqui. É intenso mas depois também compensa, completamente. São três semanas de montagens, quatro dias de festival e depois três dias de desmontagens para ficar tudo limpo.”
Este ano, outra das novidades é que não vai haver dinheiro a circular pelo recinto. Quando chegar, vai poder comprar um cartão cashless (1€) que poderá carregar para usar nos bares, roulotes e bancas. O dinheiro que sobrar não será devolvido — ou pode comprar algo ou doar a quantia para a associação cultural Passa Sabi, que está a ser apoiada pelo Iminente.
Depois desta edição, já está garantida mais uma no Panorâmico de Monsanto, em 2020. “Depois, vamos ver. Também gostamos dos desafios, e vamos ver o que aparece, tanto a nível de propostas como a nível de locais. Lisboa tem muitos, mas quem diz Lisboa diz a Margem Sul. Vamos ver, ainda está tudo muito em aberto.”