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FKA Twigs transformou o Kalorama num bar de strip requintado

O espetáculo da cantora teve direito a coreografias elaboradas, dança no varão, chapadas no rabo e lágrimas.

O varão posicionado no centro do palco principal do Kalorama deixava adivinhar o que aí vinha — e FKA Twigs não desiludiu. Na madrugada de sábado, 21 de junho, a artista britânica entregou um espetáculo carregado de sensualidade, teatralidade e vulnerabilidade, deixando o público rendido e, por momentos, de lágrimas nos olhos.

A performance, dividida em três atos, abriu com “Act 1: Practice”, como se lia no enorme ecrã LED. Antes de a cantora surgir, os dançarinos ocuparam o palco com coreografias meticulosas e intensas, outro prenúncio de um aspeto que marcaria toda a atuação de cerca de uma hora. Com uma formação em dança que transparece em cada movimento, a performer acompanhou os bailarinos de início ao fim em “Perfect Stranger” — e em todo o concerto, na verdade.

Durante a interpretação da faixa, Twigs, envolta até então num macacão justo, despiu-se até ficar apenas de roupa interior, tal como os seus dançarinos, sublinhando assim a componente de erotismo e empoderamento que caracterizaram o espetáculo no Parque da Bela Vista. Gestos como as chapadas no rabo e as poses provocadores deixaram a mensagem ainda mais clara.

Em “24hr Dog”, o recinto do Kalorama tornou-se num requintado bar de striptease. Durante a faixa, o microfone ficou de lado, mas ninguém se importou: Twigs mostrou que também consegue dançar no verão e rodopiou com graciosidade e força, mostrando assim que é uma artista em pleno controlo da sua sexualidade e expressão corporal.

O contraste entre esta sensualidade destemida e a voz doce e melódica da cantora, que nos diferentes temas era acompanhada por batidas eletrónicas pesadas, criava um contraste e uma tensão emocional que se manteve ao longo de todo o concerto.

Com o início do segundo ato — “State of Being” — chegou também um novo visual: casaco de pelo, óculos de sol com um design futurista e a energia de quem tem um novo álbum para apresentar. “Eusexua”, faixa-título do trabalho lançado em janeiro deste ano, abriu esta nova fase da performance, seguida de “Perfectly”, um tema que embora ainda não tenha sido lançado, já é bem conhecido entre os fãs, que o cantaram em coro.

Num raro momento de descontração, um dos dançarinos brincou com o público. “Sinto-me muito sozinho, sou solteiro e estou pronto para namorar”, confessou.

Tal como aconteceu no concerto de Azealia Banks, também houve espaço para referências à subcultura ballroom, popular entre a comunidade trans de Nova Iorque nos anos 80. Aquele mundo de inclusão foi celebrado de forma vibrante, com momentos de voguing em palco e um mix com aquela que é uma das canções mais famosas de Madonna: “Vogue”, claro.

Mas o verdadeiro clímax emocional chegou no terceiro ato, “The Pinnacle”, marcado por canções mais introspetivas e dolorosas. “Cellophane”, que fechou o concerto, foi o momento mais catártico da noite graças à performance que tocou profundamente o público. Muitos não conseguiram conter as lágrimas ao ouvir a voz frágil e, ao mesmo tempo, poderosa de Twigs, que interpretava um tema sobre vulnerabilidade e trauma.

Ainda assim, a artista terminou com um sorriso e um caloroso agradecimento a todos aqueles que, às três da manhã, ainda estavam com ela no Kalorama.

Carregue na galeria para ver algumas das fotografias do espetáculo.

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