Uma das mais conceituadas lojas de discos de Lisboa, a Flur Discos, deixou a sua casa de há muitos anos em Santa Apolónia para se mudar para o Mercado de Arroios. Abriram o novo espaço na quinta-feira, 5 de abril, e já estão a funcionar em pleno.
“Já tínhamos decidido sair há dois anos e meio. Só que, como tínhamos contrato no outro sítio, só há coisa de um ano e meio é que começámos a procurar. Encontrámos isto há um ano e a mudança para aqui demorou por causa da pandemia”, conta à NiT um dos responsáveis pelo projeto, André Santos.
A decisão de sair de Santa Apolónia teve a ver com alguma desilusão por aquela zona da cidade. “Sentimos que aquela zona estava muito parada há muito tempo. Para aí há uns sete ou oito anos. Achámos que era a altura, não fazia sentido continuarmos ali e queríamos estar mais no centro da cidade.”
Procuraram em diferentes locais, mas não demorou muito até Arroios se revelar a escolha certa. “Eu vivo aqui perto e como eu sinto o bairro numa constante mudança achei que o ideal era vir para aqui. Porque não queríamos estar na Baixa, nunca foi uma coisa que quiséssemos. Isso foi uma das razões pelas quais também nunca quisemos sair dali [Santa Apolónia], porque não queríamos ir para a Baixa, e era assim a única alternativa. Mas há coisa de um ano e meio Arroios começou a fazer sentido. Há muitas lojas a aparecer e durante a pandemia, como começámos a receber muitas entregas para casa e a enviar por correio, percebemos que muitos dos nossos clientes viviam aqui perto. Então começou a fazer ainda mais sentido, mas já tínhamos decidido.”
André Santos destaca a “fácil acessibilidade” deste bairro lisboeta, além de ser uma zona da cidade com muito movimento e residentes.
O espaço, explica, não é maior — mas a área consegue ser melhor aproveitada. “Porque na outra loja, como era um corredor, estávamos muito limitados a pôr as coisas só nas paredes e depois havia uma parte da loja que não podíamos utilizar por causa do sol.”
No novo espaço do Mercado de Arroios, há uma maior oferta de vinil. São mais 600 discos em exposição. “E podemos ter muito mais.”
“Em relação ao que vendemos, não vai haver assim grandes alterações. Vamos apostar mais em jazz, funk, soul e alguma pop rock, mas era algo que já estávamos a fazer. Até porque a música de dança deixou de se vender tanto, por isso não faz sentido termos esse lado tão presente. Mas não vamos deixar nem diminuir.” Continuam a vender discos de vários géneros, com uma curadoria bastante autoral, tendo em conta os gostos pessoais dos responsáveis. O catálogo está disponível online no site oficial, onde também é possível fazer encomendas.
Além disso, pretendem começar a fazer algum tipo de eventos na loja, ainda que agora não seja possível, por causa da pandemia. “Apresentações e possivelmente concertos. A loja é pequena para concertos, mas estamos a estudar uma hipótese.”
Nos primeiros dias da nova Flur Discos, os responsáveis pela loja dizem que têm tido um ótimo feedback. “Há sempre aquela questão de novidade, e as pessoas podem estar a vir mais por isso, mas há muito mais gente a vir. E gente que não ia a Santa Apolónia, porque era longe, e agora vem porque já está perto. E agora também abrimos duas horas mais cedo, temos logo muito movimento de manhã. Era algo com que estávamos a contar, mas está a superar as nossas expetativas.”
E acrescenta: “A sensação de estarmos aqui na rua e andar aqui à volta é incrível. É uma coisa que não tínhamos em Santa Apolónia. E também era isso que queríamos, ter uma loja virada para a rua e ver as pessoas a passar.”
Este local era anteriormente dois espaços diferentes do mercado — uma loja de estética, que há muitos anos tinha sido um talho (cujos ganchos para pendurar carne ainda lá estão), e um gabinete da Câmara Municipal de Lisboa, que não estava a ser usado e que a autarquia cedeu. A parede entre os dois espaços foi abaixo e assim nasceu a nova Flur Discos, nas lojas 28 e 29 do Mercado de Arroios. Atualmente está aberta entre as 11 e as 19 horas durante a semana. Ao sábado funciona das 10 às 13 horas, enquanto ao domingo estão encerrados.
A Flur Discos foi fundada em 2001 por José Moura e Pedro Santos junto da discoteca Lux Frágil, cujo fundador, Manuel Reis, era o responsável pelo edifício onde funcionava a loja de discos. Antes de ser a Flur, o espaço de Santa Apolónia era uma loja da editora Valentim de Carvalho, onde José Moura já trabalhava. André Santos e Márcio Matos entraram como sócios em 2006. Entretanto, Pedro Santos saiu do projeto. Em 2018, lançaram a editora Holuzam.
