Na última semana, tivemos os nossos feeds nas redes sociais inundados com os Spotify Wrapped dos nossos amigos. A nostalgia é um sentimento poderoso, mesmo que nos remeta para passados não longínquos como as férias do verão, ou aquela paixão que nos bateu há seis meses. Apesar de ter o meu Instagram cheio dos hábitos musicais de toda a gente, nem sempre os mais lisonjeiros, adoro ver os Wrapped. Sou um voyeur.
A questão que se levanta é que não basta subscrever o Spotify premium e esperar que o serviço de streaming pague justamente aos artistas. Infelizmente, não é esse o caso hoje e não parece que o cenário melhore no futuro próximo.
O Spotify já anunciou que a partir do próximo ano só vai pagar a artistas cujas músicas toquem mais de mil vezes. Faz sentido, na medida em que mil vezes 0.001€ dá 1€. Mas é só mais uma prova em como o Spotify impede o crescimento, ou sequer a viabilização de bandas novas.
Claro que o Spotify opera nestes termos porque a lei assim o permite. Mas isto tem consequências. Até que a legislatura de royalties se actualize a par dos tempos que correm (ainda operamos num modelo que foi criados nos anos 50 do século passado), vamos continuar a assistir ao deteriorar da indústria.
O modelo do Spotify é objectivamente nocivo para os artistas e para a indústria musical. Não está isento de culpas, por exemplo, no fecho em dominó das salas de espectáculo mais pequenas por todo o Reino Unido, onde bandas em ascensão como os Talking Heads, Oasis, ou Arctic Monkeys, construíram as suas carreiras nos anos 70, 80, 90 e 00.
Entretanto, vemos o CEO do Spotify, Daniel Ek, com uma fortuna de 4 mil milhões de dólares, feita a partir de música que não é dele, e a pagar uma miséria a quem a escreveu, a não ser que sejam a Taylor Swift. Como diz um meme popular na Internet, ele é três vezes mais rico que o Paul McCartney, sem nunca ter escrito uma canção.
Não sou o Neil Young para vos dizer para desistirem do Spotify, nem sou hipócrata, porque também uso a aplicação (os Queen ganharam o meu Wrapped, pelo trigésimo sétimo ano consecutivo). Tentei deixar há uns anos, mas a comodidade de ouvir no caminho do trabalho e anos de playlists criadas fizeram-me voltar. Ouçam música como bem entenderem, mas se quiserem continuar a ouvir música, o melhor é apoiar os artistas que gostam e que tanto melhoraram as vossas vidas. Comprem os discos.