Azealia Banks mal tinha chegado a Portugal e já estava a publicar tweets sobre o País. “Que tentativa falhada de colonialismo”, partilhou no X (antigo Twitter). “Estou com medo de voltar.”
Bem, todos esses medos devem ter desaparecido quando foi recebida com uma enorme ovação esta sexta-feira, 20 de junho, no palco principal do Kalorama, em Lisboa. A intérprete provou que, caso não fosse tão problemática nas redes sociais, poderia ser uma das grandes rappers do momento, ao lado de nomes como Nicki Minaj ou Cardi B.
Apesar de ter várias canções com centenas de milhões de streams nas plataformas, foram as discussões online e as opiniões polémicas que a tornaram um dos nomes mais mediáticos no digital. Nada no seu passado parece, contudo, importar para o público do Kalorama.
A artista norte-americana de 34 anos escolheu um look de bailarina para o primeiro ato de um espetáculo que ficou marcado pelos problemas técnicos que lhe cortaram o som no microfone. Felizmente, tudo se resolveu a tempo da interpretação de “Luxury”, que começou em acappella, seguido pela batida eletrónica que entusiasmou o público.
Aliás, esta faixa em formato rap foi uma oportunidade para mostrar a arma mais forte do portfólio de Azealia Banks: o seu total controlo da respiração e do fôlego durante longos períodos na mesma canção. “Vocês estão lindos”, disse com um sorriso na cara, no final, enquanto bebia finalmente água.
Graças a temas como “The Big Big Beat”, que começou, outra vez, sem instrumentos de fundo, a headliner desta noite mostrou que não é apenas uma rapper, ela é, de facto, uma cantora com uma voz potentíssima.
No palco, só há espaço Azealia Banks. O pouco que sobra fica para o DJ (e namorado). Quando a vemos dançar e cantar, parece que estamos realmente com ela numa pista de dança discoteca, onde não falta aquela energia contagiante que nos mantém acordados durante horas.
Apesar de insistir em sorrir durante a atuação, a verdade é que nunca houve uma grande ligação com os fãs que a acompanharam nesta passagem pelo Parque da Bela Vista. Nos momentos mortos, quando o DJ mudava a canção, Azealia insistia em ficar de costas para os espectadores. Isso foi uma desilusão, mas ao mesmo tempo uma prova da sua força: pode fazer o que bem lhe apetece, vai continuar a ser adorada.
No meio deste carrossel, o ponto alto do set foi sem dúvida a interpretação a solo de “212” — o seu maior hit, com mais de 310 milhões de streams no Spotify. Quando se ouviram os primeiros acordes, o vale inteiro à frente o palco principal cresceu para uma oitava colina na cidade.
Mais tarde, e depois de nos ter levado para a discoteca, Banks também nos transportou para a subcultura da ballroom, que era especialmente popular entre a comunidade trans nos anos 80, quando começou a apresentar “Fierce”.
Seguiu-se uma sessão de gritaria para um megafone, que criou uma espécie de terapia coletiva eletrizante no segundo dia do Kalorama. Tudo terminou com este instrumento partido no centro do palco, bem ao estilo de uma rock star (mas sem guitarra).