“Não tenho palavras”, confessou Catarina Furtado nas redes sociais, numa mensagem partilhada pouco antes de surgir em direto na televisão para apresentar mais um episódio do “The Voice Portugal”. “As lágrimas que me correm são de um amor eterno”, explicou. As lágrimas acabariam também por surgir em direto, antes de uma arrepiante homenagem dos jurados do programa.
“Só memórias. As melhores. A Sara. A Sara. Tão única. Tão completa. Tão cedo…”, desabafou na mensagem após chegada das notícias da morte da cantora este domingo, 19 de novembro. Terminava a luta da cantora contra um tumor no cérebro.
Furtado terminou a mensagem com um conselho. “Ouçam-na. A sua música. As suas palavras. A sua doçura. Guardem o seu mistério.”
Sara Tavares teve uma carreira recheada de concertos e de muitos lançamentos, mas nunca foi tão famosa quanto no ano em que se deu a conhecer a Portugal — e acabou a correr o País e a atrair multidões. Numa era em que as estrelas se faziam na televisão, Tavares teve a audácia de concorrer ainda adolescente a um novo formato, o “Chuva de Estrelas”, que se estreou numa edição que arrancou em 1993, na SIC.
A jovem foi então a primeira grande vencedora do concurso. Hoje é, indubitavelmente, o nome mais famoso a sair do rol de vencedores do programa que teve sete edições entre 1993 e 2000.
O impacto prova-se pela onda de comoção que percorre o País desde que a notícia da sua morte se tornou pública, mas também pela transversalidade da origem das mensagens de pesar. A começar, claro, pelo Presidente da República, que divulgou uma nota na página oficial da Presidência para elogias a “vocação, dedicação e determinação” da cantora, sem esquecer a sua ascendência cabo-verdiana e proximidade com a música africana. “Manteve sempre forte ligação aos seus pares, em diversas colaborações e homenagens, e grande proximidade à música e aos músicos africanos”.
Também o primeiro-ministro António Costa lamentou “com profunda tristeza” a morte de Sara Tavares. Repto seguido pelo ministro da Cultura Pedro Adão e Silva, que recordou a “força da sua voz” e capacidade “notável” para criar canções.
Ainda no plano político, também de Cabo Verde chegaram as condolências. “”Continuarás connosco, Sara, dizendo coisas bonitas! A tua luz alumiar-nos-á o caminho que ainda nos cabe, nesta terra que transitoriamente nos acolhe”, escreveu nas redes sociais José Maria Neves, presidente cabo-verdiano.
Naturalmente, foi entre os pares, cantores, compositores, também os artistas de outras áreas da cultura, que se multiplicaram as mensagens emocionadas. José Eduardo Agualusa, o autor luso-angolano, partilhou nas redes sociais uma fotografia intimista de uma performance da cantora. “Há notícias que nos tiram toda a música”, escreveu. “Nesta imagem, a Sara na minha cozinha, em Lisboa, cantando com o Toty Sa’Med. Adeus, Sara. Estamos juntos.”
“Desde que os meus filhos nasceram que é a voz da Sara que os embala noite após noite”, notou Sílvia Alberto. “Sinto que a sua voz tem sempre vivido na nossa casa, com esta e outras canções. E assim continuará a ser.”
Carlão recorreu também às redes sociais para expressar o seu lamento. “Que dor, mana. Rainha. Descansa agora”, disse.
“Só Deus sabe o quanto ela me inspirou”, acrescentou também Jimmy P, que recorda uma viagem por Benguela ao som da sua voz. “Algumas das minhas memórias mais bonitas estão inevitavelmente associadas à obra dela. O nome maior da nossa geração. Obrigado por tudo.”
Outros houve que preferiram traduzir em música a mágoa. Foi o caso de João Pedro Pais, que tal como os jurados do “The Voice Portugal”, escolheu “Chamar a Música” como mote para uma homenagem tocada ao piano. “Sara Tavares, integridade, espiritualidade, musicalidade e bondade”, concluiu.