Música

Hauser: o violoncelista viral que esgotou a MEO Arena (e as mulheres adoram)

Todos os concertos são "uma verdadeira festa", onde o croata reinventa os maios êxitos da pop e do rock.
É um fenómeno global.

Um violoncelista que reúne dezenas de milhares de pessoas num concerto parece algo que poderia inspirar um filme lamechas das plataformas de streaming, mas é esta a realidade de Stjepan Hauser, o artista rebelde que vai dar um espetáculo na MEO Arena a 23 de novembro.

“Quero levar o violoncelo a um nível completamente novo e quebrar todas as barreiras e limitações preconcebidas que o rodeiam. Quero criar um dos maiores espetáculos de todos os tempos através do poder da música instrumental e transformar cada um dos meus espetáculos numa verdadeira festa”, contou em 2022 à revista “Forbes”.

Simplesmente conhecido como Hauser, nasceu a 15 de junho de 1986 em Pula, uma cidade na península de Istria, na Croácia. A música sempre fez parte da sua vida, não fosse a sua mãe uma percussionista que o expôs desde cedo às pautas. Influenciado pela presença constante da música em casa, começou a tocar violoncelo aos oito anos e apaixonou-se rapidamente por este instrumento.

Stjepan foi um miúdo “muito envergonhado”, incapaz de trocar mais do que poucas palavras com outras pessoas. Porém, quando tocava, era como se tivesse entrado num mundo onde conseguia expressar todas as suas emoções. “Era o meu lugar seguro e onde me sentia livre e confortável”, acrescenta.

Aos 18 anos, já sabia, sem qualquer dúvida, que aquele seria o seu destino e iria fazer de tudo para se tornar numa das maiores estrelas do país. Com uma mala de roupa e o instrumento na mão, mudou-se para o Reino Unido, onde começou a estudar na Trinity College of Music em Londres para aprimorar as suas técnicas. Durante o percurso académico, aprendeu com algumas das maiores referências da música clássica, como Natalia Pavlutskaya, Ralph Kirshbaum e Bernard Greenhouse.

“Nem queria acreditar que estava em Londres. Quanto estava a estudar, conseguia ver da janela a O2 [uma arena de espetáculos] e sonhava em tocar lá um dia com o meu violoncelo. Sempre foi um objetivo de vida”, contou à “Music Week”. Esse sonho foi alcançado em 2023, onde deu um concerto para cerca de 20 mil fãs.

A carreira descolou quando, em outubro de 2008, Hauser, que tem atualmente 38 anos, foi o único violoncelista escolhido para atuar numa gala em homenagem ao maestro russo Mstislav Rostropovich no Palazzo Vecchio, em Florença, Itália. “Rostropovich foi uma grande influência para mim. Ele tinha uma maneira de tocar que parecia mágica, e eu sempre quis capturar essa magia”, acrescentou à “Forbes”.

A atuação chamou a atenção de toda a gente, público e críticos. Passado pouco tempo, e sem dar por isso, já estava a atuar em alguns dos maiores palcos do mundo, como o Royal Albert Hall (Londres), Ópera de Sidney e Madison Square Garden (Nova Iorque). A 12 de outubro de 2023, também deu um espetáculo esgotado na Altice Arena, em Lisboa. 

Tocar à frente de multidões nunca foi um problema para Hauser. O grande desafio da sua vida sempre foi sentir-se confortável consigo mesmo, naqueles momentos em que não tem ninguém à sua volta. “Durante muitos anos, sentia-me constrangido em situações totalmente banais do dia a dia. Não tinha a confiança que mostrava no palco”, refere à mesma publicação.

Sentir-se confortável na própria pele foi um processo demorado e mais difícil do que aprender a tocar uma nova canção. Com o passar dos anos, porém, conseguiu arranjou um truque: manter a vida pessoal afastada da profissional.

É por isso que, apesar de ser um sex symbol para muitas mulheres, nunca falou publicamente sobre as relações amorosas. Mesmo assim, teve um namoro que acabou na primeira página de todos os jornais e revistas da Croácia. No final de 2015, foi visto com Jelena Rozga, um dos grandes nomes da música pop croata, conhecida por “Kraljica” e por ter sido a vocalista do grupo Magazin.

Em fevereiro de 2016, vários meios revelaram que o casal estava noivo. A informação acabaria por ser confirmada por Jelena, de 47 anos. “É verdade. Estou noiva e nunca me senti mais feliz na minha vida. É só isso que tenho para dizer”, contou ao “Slobodna Dalmacija”. Um ano mais tarde, em 2017, o casal voltou a ser notícia: o noivado flash tinha chegado ao fim. Jelena e Hauser nunca mais foram vistos juntos.

Para manter a sanidade mental durante a tempestade mediática que se formou à sua volta durante aquele período, o violoncelista percebeu que a natureza seria a sua melhor opção. “Nunca fui de ver televisão. Prefiro passar tempo na natureza. Caminho muito. Oiço música. Tudo isto me faz bem no que diz respeito à saúde mental”, disse à “Forbes”.

A conexão com a Terra não se cria apenas nos seus tempos livros. Durante os concertos, também estão “sempre em sintonia” — e é esta a razão pela qual Hauser atua, muitas vezes, com os pés descalços. “Não há nada melhor na minha vida do que a beleza da música, a energia da Terra e quando estas duas minhas paixões se juntam num único momento”, referiu ao “Cyprus Mail”

O croata já teve vários vídeos que se tornaram virais nas redes sociais. O primeiro foi um cover de “Smooth Criminal”, de Michael Jackson, publicado em 2011. Na altura, Hauser tinha formado o duo 2CELLOS com o amigo e também violoncelista Luka Šulić.

A história entre ambos também poderia ser um filme. Ambos são da Croácia, têm a mesma idade e, em tempos, tinham uma espécie de rivalidade. “Era como o ténis. Tentávamos sempre ser melhor do que o outro”, começou por explicar no podcast Bringin’ it Backwards em 2022.

Quando Hauser se mudou para Londres, os caminhos cruzaram-se novamente porque estavam na mesma turma. Em vez de se verem como inimigos, decidiram unir forças e criar o grupo. “Éramos loucos e estávamos sempre a pensar em coisas novas. Inicialmente, fomos recebidos com algum receio porque não nos enquadrávamos no que era feito dentro da música clássica.”

Apesar das críticas iniciais, o conjunto revolucionou o mundo da música ao transformar êxitos da pop e do rock em peças de violoncelo. “Queríamos provar que o violoncelo pode ser tão versátil como qualquer outro instrumento, que pode tocar Bach e também AC/DC”, explicou ao jornal “Croatia Week”, em 2023.

A popularidade de Hauser não se limita ao seu trabalho com Luka. O artista também perseguiu uma carreira a solo de sucesso e todos querem trabalhar com ele. Em 2020, por exemplo, editou o disco “Hauser Classic”, onde colaborou com a Orquestra Sinfónica de Londres.

Durante esta época, marcada pela pandemia da Covid-19, Hauser era incapaz de partir em digressões mundiais, mas mesmo assim queria levar a música até aos fãs. Através das redes sociais, protagonizou uma série de concertos virtuais intitulados “Hauser: Alone Together”, onde atuou em locais emblemáticos da Croácia, como a Arena de Pula e o Parque Nacional Krka — sem um público à sua frente, claro.

Embora a música clássica tenha feito parte da sua infância, Hauser é apaixonado por música no geral. “Adoro todos os estilos”, disse à “Croatia Week”. “Desde novo que comecei a ouvir composições de artistas clássicos, mas durante a adolescência expandi os meus horizontes.” As suas influências vêm de nomes como Elvis Presley, Michael Jackson e Elton John.

O croata realizou outro dos seus grandes sonhos de vida quando atuou com Elton John em Las Vegas no concerto “Million Dollar Piano”, onde o cantor era acompanhado por uma banda. No 75.º aniversário de Elton, em 2022, o violoncelista também partilhou um medley chamado “My Gift is My Song”, onde reinventou faixas como “Your Song,” “Candle in the Wind,” “Rocket Man,” “Sorry Seems To Be The Hardest Word,” e “Goodbye Yellow Brick Road”.

“Esta é a melhor maneira de mostrar o meu afeto e gratidão pelo lendário Elton John. Desejo um feliz aniversário ao meu grande amigo. Obrigado pelo teu amor e apoio constantes”, disse no vídeo. 

Os músicos conheceram-se em 2011, depois de John ter visto o cover viral de “Smooth Criminal” dos 2CELLOS, que já tem mais de 40 milhões de visualizações. “Fiquei maravilhado”, disse num vídeo partilhado pelo grupo em 2013. “Nunca tinha visto violoncelistas tocarem assim. Pensei logo que tinha de tê-los na minha banda.”

O artista vencedor de um Emmy, Grammy, Óscar e Tony (é um dos poucos da história a ter todos os quatro), também elogiou a visão que Hauser tem da música, descrevendo-a como “ampla e profundamente pessoal” — e o próprio croata não podia estar mais de acordo.

“A música é a linguagem do coração. Não precisa de tradução, apenas precisa de ser sentida”, disse ao “Interlude” em 2024.

A forma como sente a música trouxe-lhe reconhecimento internacional, mas, ainda mais importante, do próprio país natal. Em 2014, recebeu uma medalha da Ordem Danica Hrvatska pelas suas contribuições culturais. Também já recebeu três prémios Porin que, na Croácia, são o equivalente dos Grammys.

“É uma bênção poder tocar violoncelo, não há barreiras de forma alguma. Não é preciso tradução, não é necessário explicar nada, e pessoas de qualquer cultura, de qualquer origem, sentem-se igualmente atraídas por ele. Há coisas que não se conseguem expressar com palavras”, disse à “Forbes”..

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