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A jovem alentejana com alma de fadista que conquistou todos os jurados do “The Voice”

Sofia Pires chegou ao palco com o sonho de virar pelo menos a cadeira de Sara Correia. Virou quatro e juntou-se à equipa da fadista.

“A gente precisa de uma fadista”, anotaram os Calema, ainda de costas voltadas para Sofia Pires. A jovem alentejana de 27 anos surpreendeu com a sua voz e, aos poucos, virou as quatro cadeiras na gala deste domingo, 5 de outubro, do “The Voice Portugal”.

“Escrevi Teu Nome no Vento” foi o tema escolhido para tentar conquistar a passagem à próxima fase, um tema que considera ter “uma letra extraordinária”, apesar de confessar “não o cantar muitas vezes”. “Tenho muito respeito por aquilo que canto e às vezes, não me sinto segura a cantar algumas coisas, talvez erradamente. Mas sem dúvida que a partir de agora vai começar a fazer parte do meu repertório”, explica à NiT.

Conquistada a passagem, foi acesa a luta entre Sara Correia e Fernando Daniel, mas a escolha, na mente de Sofia, já estava mais do que feita. “Já ia com a ideia de ficar com a Sara, a não ser que bloqueassem”, explica, antes de confessar que entrou a pensar que “já seria bom virar uma cadeira”.

“Virar as quatro cadeiras tem um significado muito grande”, nota. A entrada na equipa da fadista era inevitável. “É fadista, como eu quero ser, é um furacão, tem uma alma imensa”, elogia.

O fado tornou-se numa das suas paixões aos 13 anos, enquanto tocava e cantava em vídeos publicados no YouTube. Entre pesquisas, foi-se deparando com temas de Mariza, Ana Moura e, claro, Sara Correia. “A minha inspiração vem muito daí”, explica.

Apesar do receio e da vergonha, foi perdendo o medo de arriscar o fado, muito impulsionada pela mãe. “Sem dúvida que ela é que foi a minha grande impulsionadora. Foi ela que me empurrou nos momentos certos, quando eu precisava de chegar a algum lado. Isto apesar de a nossa família nunca ter estado propriamente ligada à música.”

Recorda-se de ouvir falar sobre as canções que a avó interpretava no campo. “Diziam que tinha uma voz muito bonita e talvez venha daí este bichinho”, explica Sofia, natural da Vidigueira, onde os pais tinham um pequeno café, que tantas vezes lhe serviu de palco.

Todos os anos, o café enchia-se no final de agosto, com a habitual concentração de motards. Foi num desses dias que a mãe, que tanto insistia para que Sofia lá cantasse, levou a sua avante. “Ficou tudo muito atento a ouvir-me. Perdi a vergonha e tornou-se uma tradição”, recorda sobre as atuações no café, que começaram quando tinha apenas 14 anos. “Era engraçado, porque todos os anos, os motards paravam para me ouvir cantar. Um silêncio total. É engraçado, porque achamos sempre que só gostam de ouvir heavy metal (risos).”

O fado não é paixão única. As modas alentejanas sempre fizeram parte da sua vida, primeiro de forma mais informal, “cantada com a malta”, depois mais a sério: há um ano nasceram Os Brinde, grupo que criou com amigos, para cantar e animar as festas populares da região.

A experiência tirou-lhe o medo do palco e o tema “Chuva” de Mariza tornou-a numa adepta fiel do género. Tudo passos importantes até chegar aqui, ao “The Voice Portugal”, numa experiência que poderia até ter chegado mais cedo. “As minhas amigas já me tinham inscrito no ano passado, mas não fui chamada”, recorda. Desta vez foi e tudo correu bem. “Não fiquei chateada com a surpresa, mas pensei no que iria lá fazer, porque há tantos bons cantores, apesar de não duvidar da minha voz”, conta.

O sonho é óbvio: cantar e poder viver da música. Mas enquanto isso não acontece, vive ao máximo o outro plano que gizou, o de ser veterinária. “Ser cantora é um sonho, embora não seja irreal. São aquelas coisas que temos na gaveta e que achamos que nunca se vão realizar, o que não quer dizer que não possamos ir atrás. Os animais e a veterinária? É uma possibilidade mais real.” E enquanto isso não se concretiza, vai tentando a sorte no palco do “The Voice Portugal”, sem esquecer os animais, para quem também canta “todos os dias”.

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