Na escola, era um miúdo tímido. De tal forma que a vergonha de falar com outros começava a deixá-lo para trás nas relações com colegas e professores. Em casa, revelava-se: quando dançava ao som dos primeiros temas de Michael Jackson, conseguia libertar-se da timidez. O cenário nunca lhe passou pela cabeça, mas a verdade é que, quase três décadas mais tarde, Rodrigo Teaser é, provavelmente, um dos melhores imitadores do Rei da Pop.
O brasileiro é o criador e protagonista de Michael Lives Forever, um espetáculo de tributo que já correu o mundo e chega por estes dias a Portugal: a 4 de outubro na Altice Arena, em Lisboa; e a 7 de outubro na Super Bock Arena, no Porto. Os bilhetes para ambas as datas em Portugal já estão disponíveis. Têm um custo a partir de 27,5€ em Lisboa e de 29€ no Porto.
As credenciais de qualidade e genuinidade do espetáculo são dadas por Lavelle Smith Jr., coreógrafo dos espetáculos do verdadeiro Michael Jackson, com quem trabalhou ao longo de 25 anos. Em palco estará também Jennifer Batten, a guitarrista que acompanhou o artista nas suas digressões mundiais. A bordo do projeto está também o diretor vocal de Jackson, Kevin Dorsey.
E tudo isto começou há quase quatro décadas, era Rodrigo ainda o miúdo que pedia à mãe para mudar de estação de rádio no carro, até chegar a canção certa. Invariavelmente, era uma de Michael Jackson. “Acabou por me dar um disco dele de presente. Eu gostava, dançava, e ela viu nisso uma forma de eu aprender a lidar com a timidez”, explica Rodrigo, agora com 43.
As boas notas começaram a ser recompensadas com fatos brilhantes, à imagem dos que Jackson usava. As festas familiares eram o palco perfeito para as performances, até que começou também a revelar os dotes na escola, em palcos. “Quando dancei com a roupa do Michael, tudo mudou.”
A noção de que estas imitações podiam ser algo mais do que um passatempo chegou algures nos anos 90, numa feira de informática. “Ia durar dez dias e pediram-me para fazer três shows diários, para aparecer lá a dançar como o Michael”, recorda. “Tinha 15 anos, disse que sim porque achei que seria fixe — e ia receber dinheiro. Mas na hora do pagamento, perguntaram-me se queria receber em dinheiro ou um computador. O computador era muito mais caro do que o valor que me deviam. Então percebi que aquilo podia render-me alguma coisa.”
Chegado o momento de escolher o que queria estudar, não teve dúvidas: dedicou-se completamente às aulas de canto, de dança, de produção de espetáculos. “Para ser um trabalho a sério precisava de me preparar, de ter conhecimentos.”
A vida de Rodrigo não gira apenas em torno de Michael Jackson. Tem o sonho de ser um artista em nome próprio. Algumas das suas canções e composições já chegaram à televisão, embora confesse que “é um trabalho muito difícil”.
Tinha 25 anos quando ele e mulher decidiram transformar as performances como Michael Jackson a solo num espetáculo mais elaborado. “Comecei a fazer shows em casas noturnas, festas e mais tarde decidimos juntar bailarinos, figurinos. Queríamos ir além do solo. Era ainda uma coisa simples, a música eu levava numa pen, sem banda ao vivo. Chegava com os bailarinos e pronto. Foi aí que começámos a perceber que havia mercado.”
De repente, Michael Jackson morreu e tudo ficou mais confuso. “Foi uma sensação de perda. Queria parar. Achava que aquilo que fazia já não tinha mais sentido. Tinha perdido o propósito.” A verdade é que nas televisões não se falava noutra coisa e os programas viraram-se todos para Rodrigo — todos queriam o imitador do Michael nos seus shows.
Decidiu então que não faria qualquer aparição como Jackson enquanto não fosse feito o funeral. “O problema é que isso demorou meses.”
“Achava que usava a imagem dele num momento inadequado”, recorda. O que podia ter sido uma oportunidade perdida foi, afinal, um gesto que o aproximou da enorme legião de fãs do músico. Nesse momento, percebeu, finalmente, que, contrariamente aquilo que pensava, havia agora muito mais procura e mercado para o seu espetáculo. De sala em sala, sempre com produção independente, gerida por ele e pela namorada, foram crescendo e fazendo evoluir o espetáculo.
Sento também um “super fã” de Michael Jackson, desatou a escrever cartas para todos os que gravitavam em torno do artista. Uma dessas pessoas foi Lavelle Smith Jr.. A maioria não respondeu, mas um ano mais tarde, foi o coreógrafo que enviou uma mensagem a Rodrigo. “Nesse intervalo de tempo que demorou a resposta, tínhamos lançado o espetáculo, que começou a atrair alguns produtores. Quando ele me respondeu, decidi pedir-lhe a opinião honesta, enviei-lhe imagens, vídeos. Para minha surpresa, adorou.”
Ao ver o espetáculo, Smith Jr. pensou que se tratava de uma produção já com muito dinheiro por trás. Quando percebeu que era apenas feita por duas pessoas, ficou boquiaberto. “Disse logo que queria fazer parte disto. Quis vir ao Brasil ajudar-nos e foi o que fez. Não fiz contrato, não dei orçamento, nada. Foi super espontâneo.”
Com a sua ajuda, Rodrigo reformulou todos os aspetos do espetáculo. A produção começou a ganhar tração e embarcou na primeira digressão pela América do Sul. “Vou confessar uma coisa: nunca imaginei que, ao fim de 11 anos, o espetáculo chegaria até aqui. Foi sempre a crescer”, comenta. Nos primeiros anos, não fazia mais do que meia dúzia de espetáculos por ano. Hoje, são às dezenas. Em 2023 fez mais de 70 e para 2024 espera ultrapassar os 90.
Isso não significa que tudo tenha sido fácil. Esse salto de qualidade obrigou a algumas mudanças, à introdução de uma banda ao vivo, a misturar o canto e a dança, bem como aumentar a duração da performance. O esforço compensou e hoje pisa palcos que já acolheram artistas como Mariah Carey ou Elton John. Por Portugal, tem passagem marcada em duas das maiores salas de espetáculos do País.
2020 foi o ano em que tudo podia ter acontecido, mas não aconteceu. Com a primeira digressão nos EUA agendada, a pandemia trocou os planos e quase deitou o sonho por terra. Rodrigo teve que esperar até 2022 para chegar ao país de Michael Jackson, onde atuou na Broadway, com os artistas que agora o acompanham. Só ainda não teve nenhum familiar Jackson nos espetáculos, mas sabe que eles estão a par do seu trabalho.
“Sei que um dos sobrinhos dele, o TJ — que era um dos seus favoritos e até está mencionado no testamento — assistiu a uma live performance. Ele conhece o meu trabalho, chegou a mandar-me uma mensagem. Nunca recebi a família nos espetáculos nos EUA, mas recebi a visita de muitas pessoas que chegaram a trabalhar com o Michael.”
Antes de partir novamente para viagens pela América do Sul, EUA e Ásia, Rodrigo traz o famoso moonwalk até Portugal. Um passo quw “tem um segredo”, confessa.” Já passei esta dica a outros imitadores. Quando aprendemos a fazer o moonwalk, aprendemos num certo tipo de piso. Só que quando andámos de palco em palco, eles têm pisos diferentes, portanto cada moonwalk é diferente”, explica. “O truque? É andar sempre com três pares de sapatos. Nunca se sabe que chão vamos encontrar.”