Música

Mimicat: “Quero mostrar que tenho orgulho em ser portuguesa na Eurovisão”

A NiT entrevistou a artista que vai levar “Ai Coração” ao festival em Liverpool. As preparações para a performance já começaram.
Mimicat ganhou o Festival da Canção.

“Ai Coração”, de Mimicat, foi o tema vencedor do Festival da Canção de 2023. A final do concurso da RTP aconteceu este sábado, 11 de março, e ficou assim escolhida a faixa que vai representar Portugal no Festival da Eurovisão.

As semifinais acontecem a 9 e 11 de maio, sendo que a grande final está marcada para dia 13. Este ano, o evento acontece em Liverpool, no Reino Unido. A cidade foi escolhida pela organização já que a Eurovisão não se podia realizar na Ucrânia, o país vencedor da edição passada.

Mimicat já tinha falado com a NiT antes do Festival da Canção e contou-nos a história de “Ai Coração”, um tema que esteve na gaveta durante anos. Agora entrevistámos Marisa Mena no rescaldo da vitória no concurso.

Passaram três dias desde que venceu o Festival da Canção. Como é que tem sido até agora, como tem reagido?
No sábado fui festejar, o meu momento de descompressão foi mesmo no sábado à noite. Fizemos uma festinha. Domingo foi dia de família, estava completamente rota, mas segunda já começámos o trabalho, a preparar as coisas para a Eurovisão. Já estou com a agenda ocupada. E, pronto, estou em modo trabalho. Estou super feliz e estou no rescaldo da vitória, tenho recebido imensas mensagens, as pessoas estão a ser amorosas comigo. Mas já a pensar na Eurovisão.

É um daqueles casos em que a vitória mudou completamente a sua vida para os próximos tempos.
Completamente, o ganhar ou não faz toda a diferença nesse sentido.

Quando falámos antes de começar o Festival da Canção, disse que não estava à espera desta reação tão calorosa — que ainda mais se tornou depois de ter sido escolhida pelas pessoas para representar Portugal. Também tem o lado simbólico de ser uma canção de livre submissão, de ter sido a primeira de uma candidatura a conquistar o festival. E depois de ganhar falou sobre o facto de representar uma vitória dos “underdogs”. Para si, esse lado simbólico também é importante?
Claro. É muito importante, porque o festival acaba por ser uma plataforma para quem não tem hipótese de outras maneiras. Eu tive a sorte de ter uma das canções escolhidas e algumas das melhores deste ano foram de livre submissão. Tive a sorte de ganhar com uma canção que, no fundo, mostra que os convites e a malta que eventualmente está ali mais nas listas de preferência às vezes não quer dizer que se conectem melhor com o público. Estou a representar uma classe de artistas que têm imenso talento e imensa coisa para mostrar, mas às vezes falta aquela oportunidade na hora certa. O prémio, no fundo, é meu e de todas essas pessoas — e toda a gente que votou. Partilho isto com toda a gente. Só não o divido em muitos milhares de bocadinhos porque não dá [risos], mas simbolicamente partilho o prémio com todas essas pessoas.

Também é um bom sinal em relação ao festival. No sentido em que se pode pensar que os artistas mais conhecidos ou mais ligados à indústria podem ter mais hipóteses de ganhar, mas não acontece necessariamente dessa forma. O público simplesmente vota na canção de que gosta.
Sim, e quando o Salvador ganhou foi um bocadinho a mesma coisa. Ele também não tinha grande projeção até lá. Foi o primeiro exemplo de que as coisas podem acontecer assim. E também aconteceu à Elisa, que ninguém conhecia. A própria Cláudia Pascoal vinha do “The Voice” e tinha algum nome, mas não era muito conhecida. Normalmente a malta que ganha nem tem a maior base de fãs. E isso é muito interessante e faz com que o festival seja um evento mesmo muito importante para os músicos portugueses.

E competitivo no bom sentido, porque nada está ganho à partida, está sempre tudo em aberto.
Exato, é muito interessante. E senti desde o início que estávamos todos no mesmo pé. Só não senti isso no dia da apresentação das canções, porque a malta mais conhecida tinha sempre mais cobertura de imprensa. Mas depois da apresentação e quando se começou a ver o feedback do público — que é quem nos faz crescer e depois normalmente os media vão atrás — é que percebi que estamos todos no mesmo pé. E assim foi, fico muito feliz que assim seja e que assim continue a ser.

Durante a final do Festival da Canção, estava confiante de que a podia ganhar?
Estava confiante na minha atuação. Sabia que íamos fazer um bom trabalho, mas não sabia qual iria ser a reação das pessoas. Toda a gente fez uma boa atuação na final. Foi muito boa. Aliás, acho que foi das melhores finais dos últimos anos. Havia canções muito boas, performances ótimas e acho que foi de alto nível. Não sabia exatamente o que ia acontecer, não é? Tinha esperança de que as pessoas votassem em mim. Agora, se ia acontecer ou não, é sempre aquela dúvida. Não tinha expetativas. Queria fazer a melhor performance e que isso passasse de alguma forma para as pessoas, que as tocasse de alguma forma. E pelos vistos tocou [risos].

Dois dias depois do Festival da Canção já se encontra a preparar a Eurovisão. Está a trabalhar na performance?
Sim, pensei que ia ter mais tempo para apresentar as ideias e para programarmos a atuação da Eurovisão — que vai ser diferente —, mas só temos dois dias para apresentar aquilo que queremos fazer… E aquilo é um mundo de possibilidades, o que torna a tarefa ainda mais difícil. O trabalho é tentar definir as coisas, fazer pesquisa para tentar ter a informação mais detalhada possível. Tenho estado a dar muitas entrevistas, tenho imensos showcases e apresentações da música nas rádios. Basicamente é continuar a divulgar a canção.

A performance obviamente não está ainda definida, mas que alterações gostaria de fazer em relação à atuação do Festival da Canção?
Não vai dar para fazer exatamente a mesma coisa porque o palco, lá, é megalómano. É uma coisa gigante. Aquilo tem dois palcos e um corredor ao meio. E o palco da RTP acho que é mais pequeno do que o corredor, só para se ter uma noção [risos]. Por isso não podemos fazer exatamente a mesma coisa. Mas quero manter aquela vibe meio burlesca e cabaret, só que a ideia é passar isso para o século XXI. Vamos tentar fazer um cabaret moderno no palco da Eurovisão. Vamos ver o que conseguimos sacar dali e dinamizar todas as estruturas que eles têm, com luzes e montes de coisas. A coreografia vai manter-se forte, mas haverá algumas partes que teremos de adaptar.

Já nos tinha dito que acreditava que “Ai Coração” era uma canção “eurotelevisiva”, que tinha as características certas para ir ao festival, e provou-se isso este sábado. Agora que vai mesmo à Eurovisão, que expetativas é que tem?
Vou sem expetativas porque aquilo é mesmo aleatório, não dá para prever o que acontece na Eurovisão. Ainda ontem, na pesquisa que estávamos a fazer, chegámos à parte das votações e aquilo é imprevisível. Tens votos do público para atuações que vês e ficas “what the fuck, como é que as pessoas votam nisto?” E depois tens outras incríveis em que a malta não vota. Aquilo é completamente imprevisível. Vamos fazer o nosso melhor, com bom gosto, com pintarola, sacar uma grande performance e rezar para que corra bem [risos]. A única expetativa é aproveitarmos o momento, divertirmo-nos e tirar o máximo partido da exposição que aquilo tem.

Tem prestado atenção aos rankings das casas de apostas online e às reações que a sua música tem tido lá fora? Ou nem por isso?
Não, não ligo nada a isso [risos], não faço ideia sequer como é que isso está. Às vezes a malta vai-me dizendo “olha, vê estes reacts”, mas não ligo muito. Não tenho tempo, não consegui ainda ver um único vídeo. E acho que também não posso ligar. Se me deixar influenciar demasiado por aquilo que as outras pessoas dizem, às tantas perco-me um bocadinho no mar de opiniões e a autenticidade da atuação vai-se.

E já ouviu as outras canções que vão concorrer na Eurovisão?
Ouvi algumas. Há ali uma ou duas que acho bastante interessantes. Gostei muito da da Islândia e a música da Loreen, da Suécia. Gostei muito da canção, embora não tanto da produção. E a Alexandra Mele… Acho-lhe muito graça. Embora não adore o género da canção, não a consigo tirar da cabeça, por isso tem ali qualquer coisa de memorável. O resto ainda não conheço bem, não ouvi todas.

O facto de ser no Reino Unido é indiferente, ou é vantajoso por alguma razão?
Gosto de Inglaterra e acho que pode ser importante para mim, mesmo para o resto da minha carreira. Vou tentar tirar o maior partido que puder. Canto em português e inglês, por isso faz-me sentido. Pode não acontecer nada, mas também pode acontecer, por isso vou tentar.

Já nos tinha explicado a história de “Ai Coração” e o facto de acreditar que era ideal para o Festival da Canção. Esteve até para a passar a outros músicos, mas acabou por ficar com ela e tornou-a uma canção sua. Agora que vai à Eurovisão parece ainda mais obra do destino.
Acredito muito naquela máxima de “o que tiver que ser é”. E, por algum motivo, nunca dei a canção a ninguém — nem nunca a enviei. Falava, falava e nunca enviava. Acho que foi destino. O meu inconsciente estava-me a guardar para isto [risos]. O que tinha de acontecer aconteceu e ainda bem. Cheguei a este resultado que, no fundo, era o que queria e precisava. É mesmo a cereja no topo do bolo.

E agora ainda vai ter uma etapa grande. Sente mais o peso da responsabilidade por ir representar Portugal?
Não… Sinto um orgulho extra, na verdade. O peso da responsabilidade é o mesmo porque, tenha Portugal comigo ou não, sinto sempre que — cada vez que piso um palco — tenho a responsabilidade de fazer o meu melhor. Obviamente que quero deixar as pessoas orgulhosas, mas, como sei que vou dar o meu melhor e vou pôr ali tudo, acho que as pessoas vão saber reconhecer isso como reconheceram até agora e não vamos ficar mal-vistos, aconteça o que acontecer. Quero mesmo sentir-me orgulhosa e continuar assim, representar o nosso País e mostrar que não temos medo de chegar lá e mostrar o que somos. Quero mostrar que sou uma mulher que tem orgulho em ser portuguesa. É isso que vou lá fazer.

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