Há mais de 20 anos que Rafael Brazuna e Eduardo Mendonça são amigos. Têm um longo percurso na área da música — trabalharam com bandas, lojas, distribuidoras e editoras. Agora, juntaram-se para abrir um novo espaço, a Neat Records, que foi inaugurada a 20 de junho em Lisboa.
Fica entre a Estefânia e a Avenida Almirante Reis, na Rua Rebelo da Silva, e vende discos de vinil e CD. Rafael Brazuna era um dos responsáveis pela Megastore By Largo, no Intendente, quando a loja foi obrigada a encerrar por causa da pandemia.
Contudo, já tinha a ideia de abrir este negócio com Eduardo Mendonça e teve a oportunidade de começar o projeto e de sair do espaço no Intendente. “A loja onde eu estava era muito pequenina, eu precisava de crescer, tenho um stock muito grande que não cabia na loja e já andava a falar há algum tempo com um amigo de longa data, o Eduardo, que nunca tinha tido uma loja física mas tinha loja online, editora, etc., e tinha muita vontade de ter um espaço físico”, conta Rafael Brazuna à NiT.
“Andávamos já há algum tempo a falar sobre isto mas as rendas em Lisboa estavam completamente incomportáveis. E com esta história da pandemia surgiu uma oportunidade, as rendas pelo menos no mercado comercial baixaram um bocadinho, tivemos uma boa oportunidade e não hesitámos. O espaço adequava-se àquilo de que nós precisávamos, a renda era boa e por isso avançámos.”
O espaço, que funcionava anteriormente como um escritório, não teve de ser remodelado para se tornar a Neat Records — bastou transportarem os milhares de discos para a loja, pensarem na decoração e, claro, começarem o trabalho desafiante de fazerem o inventário.
“Nós precisávamos de espaço de armazém, não podíamos ter as coisas em casa. Aquilo que nós queríamos era conseguir uma renda que nos permitisse, mesmo que as vendas em loja não sejam nada de especial ou mesmo que venha aí outro estado de emergência e tenhamos de fechar, que continuássemos a ter o nosso local de trabalho, onde temos o nosso stock, continuamos a trabalhar online, a fazer as encomendas e a enviar pelo correio. Temos que continuar a trabalhar.”
Apesar de o consumo nas lojas físicas ainda poder ser reduzido, já que as pessoas evitam sair de casa e, neste caso, ainda podem não conhecer o novo espaço, certo é que as vendas online até tiveram um “boost” durante os últimos meses, como explica Rafael Brazuna.
“As vendas online não sofreram nada [com a pandemia], até tiveram um boost quando as pessoas estavam em casa, as pessoas continuaram a comprar coisas, inclusive discos.”
Os dois responsáveis pela loja têm uma ligação forte ao meio do punk, hardcore e metal. Brazuna tem a editora Monolith Records — já Eduardo Mendonça tem a Can I Say Records. Agora são sócios e pertencem ambas aos dois.
No entanto, apesar de haver muitos discos destes géneros musicais na Neat Records — além de rock clássico dos anos 60 e 70 —, a ideia foi ter uma loja diversa e abrangente. “Pessoalmente o nosso percurso está mais ligado ao punk e hardcore, mas não queremos de todo que a loja seja só de punk ou só de metal ou de rock psicadélico ou do que quer que seja. Queremos que seja para toda a gente e com todos os estilos. Claro que há sempre um carinho especial pela secção do punk ou do metal, pelo menos da minha parte, que é aquilo que consumo mais pessoalmente. E como vendemos sobretudo usados, o nosso stock varia muito consoante aquilo que nós apanhamos. Amanhã entra um stock grande de jazz e a secção principal em termos de volume na loja passa a ser o jazz. Ou outro estilo qualquer. Infelizmente não conseguimos encontrar stocks de usados, temos que andar à procura e é o que nos aparece.”
Ou seja, pode encontrar na Neat Records discos que vão do jazz ao metal, do punk à soul, do funk ao rock psicadélico ou progressivo, passando ainda pelo reggae, pop, MPB, indie, música eletrónica ou rap — estes dois últimos géneros de música serão mais residuais na loja, de qualquer forma. “Temos bastante variedade e pretendemos mantê-la.”
Já o material novo vem sobretudo das edições próprias das suas editoras e de trocas que fazem com outras do mesmo género — ou seja, haverá um maior enfoque no punk e hardcore, mesmo que também haja discos novos de outros estilos.
Quanto aos preços, há discos que custam 1€, 2€, 3€ ou 5€, mas também aquelas raridades que podem chegar aos 100€, 150€ ou 200€. “Não somos uma loja elitista, temos discos a partir de 1€ até onde der. O grande interesse, quando vamos procurar uma coleção, é encontrar coisas valiosas, objetos para colecionador. Mas apanhamos sempre de tudo. O importante é ter oferta para toda a gente. Porque há pessoas que efetivamente não querem saber se é a primeira edição ou se é a décima ou a vigésima. Não querem gastar muito dinheiro em discos, não querem gastar 100€ só porque é a edição original de 1971, ficam contentes com uma edição do mesmo disco que custa 10€ ou 15€, e há pessoas que querem mesmo aquelas edições específicas, sabem o valor que elas têm.”
A média dos discos à venda na Neat Records ronda os 15€. Há ainda uma pequena secção de livros e fanzines relacionados com a área da música. “Um dos planos a curto-prazo é expandir a secção de livros. Em termos de exposição obviamente o vinil é o rei aqui da loja, mas também temos bastante CD, temos uma boa quantidade na loja e muito mais no armazém.”
Atualmente há cerca de 4500 discos à venda na loja, mas todos os dias é feito o trabalho de catalogar mais trabalhos que estão em stock e de os colocar disponíveis. Também é possível fazer encomendas online através da plataforma Discogs e conhecer o catálogo. A Neat Records — cujo nome vem de “Neat Neat Neat”, single dos icónicos The Damned — está aberta de segunda-feira a sábado, entre o meio-dia e as 19 horas.