Bad Bunny explica, no seu novo disco, que “DeBÍ TiRAR MáS FOToS”, ou que devia ter guardado mais memórias em fotografia. Um trabalho que está, naturalmente, repleto de nostalgia — e que rapidamente chegou ao topo das listas dos mais ouvidos.
Lançado a 6 de janeiro, o sexto álbum de estúdio (que sucede a “Nadie Sabe Lo Que Va A Pasar Mañana”) marca um regresso às raízes do artista de Porto Rico. Benito Antonio Martínez Ocasio afirma que este é o seu álbum “mais porto-riquenho” até agora e é inspirado pela música tradicional de uma era passada. Depois de uma longa batalha no top da Billboard 200, a principal tabela de álbuns dos Estados Unidos, o projeto chegou finalmente este domingo, 19 de janeiro, ao número um. Também está a ser um sucesso por cá. Na playlist “Top Hits Portugal”, o single “DtMF” está na primeira posição. Com uma pontuação média de 92 por cento. Também é álbum mais bem avaliado de 2025.
Durante a sua digressão mundial em arenas em 2022, na qual arrecadou mais de 200 milhões de euros, o rapper mergulhou na música porto-riquenha clássica e sentiu-se motivado a integrá-la no seu novo trabalho ao regressar à ilha. O cantor de 30 anos incorporou diversos géneros nas 17 faixas, do reggaeton à jíbara, passando pela salsa, plena, bomba, house e dembow. “Sou porto-riquenho, sou caribenho, e a minha música, a minha cultura, a história do meu país correm-me nas veias, desde a plena ao reggaeton”, partilhou.
O álbum é uma carta de amor do vencedor de um Grammy a Porto Rico. Foi inteiramente gravado na ilha, onde colaborou exclusivamente com talentos locais, incluindo muitos jovens alunos da escola de música Libre de Música San Juan. O novo álbum, porém, não é apenas repleto de possíveis sucessos da música latina: também serve como uma plataforma para o seu ativismo.
As letras de muitas faixas mostram os seus esforços para sensibilizar o público para algumas das questões mais significativas que afetam o país. Nos últimos anos, Porto Rico enfrentou as consequências do furacão Maria, terramotos, falhas contínuas na rede elétrica, uma das taxas de pobreza mais altas dos EUA e uma crise económica. O álbum do cantor (e a curta-metragem de 13 minutos que o acompanhou) trazem versos que abordam temas como turismo, gentrificação e o estatuto da ilha em relação aos EUA. “Bokete” é uma canção de amor que Bad Bunny revelou ao “The New York Times” ter sido inspirada pelos inúmeros buracos nas estradas de Porto Rico.
Algumas das canções também têm um duplo significado. À primeira vista, “TURiSTA” é um tema sobre o fim de uma relação, mas, numa entrevista à revista “Time”, Bad Bunny disse que a faixa foi inspirada pela tristeza que sente ao ver as praias de Porto Rico repletas de turistas. O turismo representa apenas cerca de dois por cento do Produto Interno Bruto da ilha, mas cria uma procura por resorts de luxo e, consequentemente, os proprietários tentam privatizar as praias e litam o acesso dos locais à costa.
Os estrangeiros não estão apenas a visitar a ilha, estão a mudar-se permanentemente para Porto Rico devido a incentivos fiscais. Este aumento de residentes imigrantes tem reduzido o acesso local à habitação e causou deslocamentos impulsionados pelo turismo.
Bad Bunny já se manifestou anteriormente contra a ideia de Porto Rico se tornar um estado e aborda novamente este tema em “LO QUE LE PASÓ A HAWAii” (“O Que Aconteceu ao Havai”). Em 1898, Porto Rico e o Havai foram colonizados e declarados territórios dos EUA. Enquanto o Havai se tornou o 50.º estado, Porto Rico permanece um território não incorporado, algo que Bad Bunny quer que se mantenha.
A letra transmite uma mensagem clara sobre os impactos negativos da gentrificação e é um apelo à ação para evitar mais neocolonialismo: “Querem levar o rio e a praia/Querem o meu bairro e que a avó vá embora/Não, não larguem a nossa bandeira nem esqueçam o nosso Le Lo Lai/Não quero que façam contigo o que aconteceu ao Havai.”
Outra canção que se tem destacado, não apenas entre os fãs, mas também entre os seus familiares, é “PIToRRO DE COCO”, lançada a 31 de dezembro. A faixa é uma homenagem às celebrações natalícia de Porto Rico, a época favorita de Benito.
“Acho que esta é a minha canção favorita. Há algo nela que me faz sentir livro. Sempre amei cantar. Não preciso de acertar todas as notas, porque cantar sem grande profissionalismo também me traz muita felicidade. Esta é uma que se eu fosse miúdo e alguém a lançasse e ouvisse na rádio, cantaria junto com tudo o que tenho”, contou à “Rolling Stone”.
No dia em que o single foi editado, recebeu uma mensagem surpreendente da mãe. “Ela disse que chorou ao ouvi-la. Havia muitas canções que sabia que a fariam chorar, mas esta não era uma delas. Quando soube que ela ficou emocionada, pensei: ‘Meu Deus, preciso de estar lá quando ela ouvir as outras para abraçá-la, porque ela vai desmaiar”, brincou.