O concerto de Róisín Murphy no palco San Miguel, o secundário do Kalorama, começou repentinamente, sem aviso. As primeiras batidas ecoaram pelas colinas do Parque da Bela Vista, apanhando de surpresa o público mais próximo do palco. Num instante, todos os olhos estavam postos nela — graças ao chapéu em forma de cone e o casaco estampado com cores vibrantes, era impossível que isso não acontecesse
Desde o início, Murphy mostrou que o espetáculo desta sexta-feira, 20 de junho, não seria um ato individual: ao longo da atuação, foi dando destaque aos músicos de apoio, que, com talento e energia, arrancaram aplausos do público durante uma hora.
Para deixar a plateia bem animada, arrancou o concerto com “Pure Pleasure Seeker”, a banda dos anos 2000 com a qual se popularizou em todo o mundo. Seguiu-se “Simulation” e, quando olhámos para ela, já estava com outro figurino: um blazer, calções e uma cartola. Um look mais contido, sim, mas igualmente teatral.
A canção abriu com gemidos eróticos, um momento que trouxe à memória o espírito provocador dos Scissor Sisters, que tinham passado pelo palco principal minutos antes. A certa altura, o espetáculo começou a parecer um desfile de moda em que a música estava no centro. A cada tema que passava, Róisín Murphy, agora com 51 anos, surgia com um visual completamente diferente.
Quando chegou a vez de “You Knew”, a atmosfera tornou-se mais tensa: a voz carregada de dor e emoção de Róisín fez-se ouvir em todos os recantos do Parque da Bela Vista.
Foi após este tema que a cantora falou pela primeira vez: “É ótimo estar de volta à vossa linda cidade de Lisboa. Obrigada por nos receberem de volta. O agora é um tempo muito bom”, disse, com um sorriso, antes de mergulhar em “The Time Is Now”, também dos Moloko.
Apesar de o tempo ter deixado alguma marca na sua voz, esta continua cativante e com um timbre inconfundível. O público, até então um pouco contido, finalmente soltou-se e acompanhou-a em uníssono.
Seguiram-se temas como “Incapable”, mas foi com os primeiros acordes de “Sing It Back” (original dos seus tempos no grupo) que a multidão explodiu em alegria. Mesmo quem não acompanha o trabalho mais recente de Róisín teve ali uma razão para dançar. No refrão, deixou o público cantar por ela, criando um daqueles momentos de pura ligação entre artista e plateia.
O concerto chegou ao fim com “Murphy’s Law”, faixa do seu álbum de 2020 “Róisín Machine” — e a escolha perfeita para encerrar uma atuação onde a intérprete mostrou, mais uma vez, que continua a ter uma das vozes mais singulares da pop eletrónica.
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