Música

Olivia Rodrigo realiza terapia de grupo com gritos, desmaios e pastéis de nata

O concerto da artista na MEO Arena foi uma viagem bizarra de emoções, com ela e o público a cantarem: "Esta merda é que é boa".
A nova estrela pop esteve em Lisboa.

A estreia em Portugal de uma das novas sensações da pop era aguardada com uma ansiedade pouco saudável. Foi por isso que mesmo antes de Olivia Rodrigo atuar na MEO Arena este sábado, 22 de junho, o entusiasmo do público era bem audível — com gritos, aplausos e algum desespero.

O concerto começou como todos esperavam: com um dos seus temas muito agitados, neste caso “Bad Idea, Right?”. Depois de saltos, acenos para os fãs e sorrisos, a artista deixou bem claro que estávamos perante uma terapia de grupo.

Longe dos dias na Disney, Rodrigo, que parece uma modelo e canta com toda a emoção de uma estrela da Broadway — sempre foi uma grande fã de teatro musical —, garante ao público “que vai ser uma noite incrível”. Depois de dois temas bem ao estilo da sua mistura típica entre pop e punk, passamos para as baladas que comprovam que Olivia, com apenas 21 anos, é uma daquelas artistas que despertam em nós todas as emoções mais humanas que existem, desde a raiva, à alegria e, claro, a tristeza.

No piano toca duas das canções favoritas dos fãs: “Driver’s License”, que a popularizou em todo mundo e que a levou ao topo das tabelas de inúmeros países; e “Teenage Dream”, que apresenta com um discurso bastante emocionante. Segundo explica, escreveu-a aos 19 anos, quando estava numa fase mais difícil da sua vida. Olhando para trás, há algo que gostava de dizer àquela versão de si: “Crescer é fantástico”.

Rapidamente deixou de lado o instrumento em que tocava e sentou-se numa lua que voa por cima do público. No recinto, os fãs corriam para ficarem mesmo debaixo dela e, se possível, dizerem-lhe um olá. Esta agitação podia ser um risco à segurança de quem lá estava, mas ninguém se magoou (isto se não contarmos com aqueles típicos desmaios que sempre acontecem num espetáculo desta dimensão).

Quando regressou ao palco após duas canções em que conseguiu olhar para todos os presentes na MEO Arena — e depois de dizer que os portugueses são “um público incrível” —, falou um pouco sobre a sua passagem por Portugal: provou o pastel de nata, foi à praia e rendeu-se à beleza de Lisboa.

Apesar de sentir que já tem aqui uma segunda casa, afirma que se continua a sentir “so american” (tão americana, em português), a canção que toca a seguir e que, mais uma vez, coloca toda a gente aos saltos. Muitas vezes, a energia da sala era indistinguível daquela que sentíamos numa noite passada na casa dos amigos quando éramos mais novos. “Se estão aqui com a vossa melhor amiga, deem-lhe um abraço”, pediu Olivia.

Ao longo da atuação foi mostrando aquela vulnerabilidade que a popularizou em 2021 e deu-nos vislumbres da sua vida enquanto artista. Antes de tocar “Happier”, mais uma balada, revela que o tema surgiu quando estava a gravar a série “High School Musical”, da Disney+.

A ideia de desejar que alguém esteja feliz, mas não mais feliz do que com ela, apareceu a meio de um take. Para não se esquecer, mentiu à realizadora e disse que tinha mesmo de ir à casa de banho “senão ia fazer chichi nas calças”. Pegou no gravador do telemóvel e criou no cubículo do WC o refrão do tema.

Também houve oportunidades para mostrar o seu bom humor durante as interações do público e para alegrar o dia de vários fãs. Miranda, por exemplo, cantou os parabéns com a MEO Arena — a jovem estava a celebrar o seu 15.º aniversário. Depois, Olivia comentou os looks de outras pessoas que iam aparecendo, sem esperarem, no ecrã gigante (mas apenas tecia elogios), e ouviu os portugueses a cantarem “esta merda é que é boa”, enquanto apresentava a sua banda. 

O destaque, porém, foi quando recebeu uma tiara e um pastel de nata de uma miúda que estava na fila da frente. “Isto é incrível”, disse enquanto o devorava.

E claro que sendo este um concerto de alguém tão melancólico e dramático quanto Olivia Rodrigo, teve de haver uma sessão de terapia de grupo, ou melhor, terapia de gritos. Pediu a todos os presentes que pensassem em alguém que odeiam e que exteriorizassem essa raiva através da voz. O diagnóstico ao final da sessão? “Melhor público de sempre”.

O encore que contou com “Good 4 U” e “Get Him Back” ajudou a comprovar que Olivia Rodrigo é uma das maiores artistas destes novos talentos que vão surgindo nos EUA.

No espaço destes dois anos desde a sua estreia, cresceu de forma impressionante não só na popularidade, mas também no que diz respeito às técnicas vocais. Porém, ainda há um longo caminho a percorrer se alguma vez quiser chegar ao lado de nomes como Taylor Swift — a sua ex-mentora e que foi uma indiscutível inspiração para a Guts World Tour, aquela que levou à MEO Arena.

O controlo da respiração não é especialmente bem dominada e muitas vezes, demasiadas vezes, fica ofegante depois de correr pelo palco. Numa digressão deste tamanho, também teria sido bom que apostasse mais no design do palco. Sentimos a falta de mais adereços, até para que pudessem desviar a nossa atenção para a experiência visual, em vez da sonora. Olivia Rodrigo, que sempre adorou toda a teatralidade da música e das performances, sairia a ganhar.

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