Música

Os Excesso de sempre voltaram e foi a loucura — até ao fim

Carlos, João Portugal, Gonzo, Duck e Melão juntaram-se na Altice Arena, 23 anos depois. Leia a crónica do repórter Nuno Azinheira.
A energia do grupo invadiu a Altice Arena.

“E se os gajos estão velhos, barrigudos, a picar o ponto só porque sim, numa onda revivalista? Não queria nada vê-los assim.” Este era o medo e a ideia assaltava-me a cabeça em modo repeat, a caminho do Parque das Nações. Tinham passado 23 anos desde o último concerto e, para o bem ou para o mal, os Excesso eram o som de uma geração.

No meu caso, para o bem. Em 1997, quando os cinco se juntaram e criaram a primeira boys band portuguesa, eu já trabalhava há muito na rádio, em Sintra. E acompanhei aqueles anos loucos. Ou melhor: vivi aqueles anos loucos, à frente e atrás dos holofotes. Morava perto de alguns deles, tínhamos amigos comuns, fui a vários concertos, aprendi as letras, as coreografias, ouvi-as no carro — no tempo em que os carros tinham leitores de CD, lembram-se?

E se tudo tivesse mudado? E se já nada fizesse sentido? E se passados estes anos, já não houvesse química? E se vivêssemos todos em negação? Sim, era possível. Já perceberam o mood: grande excitação, mas expectativas baixas. Entrei em estágio às cinco da tarde. Conversei com amigos, combinei tudo para a noite. A caminho do Parque das Nações, no carro, janelas abertas, Spotify a bombar e, sim, do nosso lado estava tudo ok. Ainda tudo fazia sentido. “Querida, pensei que fosse mais fácil contigo longe. Afinal, dói muito mais a tua ausência do que a indiferença da tua presença. Por isso, peço-te: volta.”

Rimas fáceis, esquecimentos difíceis

E nós voltámos. Sem indiferença. À chegada à Expo, toda a gente fazia o mesmo: revia pessoas. “Ena pá, que saudades! Não nos víamos há quantos quilos?”, “O quê, tu por aqui? Também gostas deles?”, “Ainda sei tudo de cor”. “És loucura no meu desejo, és o sonho que me faz vibrar. Quero o fogo ardente do teu beijo e sonhar…” Há coisas que não se esquecem.

Amar rima com sonhar? Pois, rima. Coração rima com canção? É verdade. Perder rima com viver? Bate certo. E daí? Noventa por cento das músicas de amor fazem isso. Saiam da frente, vamos lá ver os Excesso. Se querem uma crítica especializada à qualidade vocal dos cinco, ao alinhamento, às letras, às coreografias, esqueçam: mudem de loja. Não sei, não quero, não consigo. Ali só houve alma, coração, saudades, emoção.

A Altice Arena estava linda. Não estava esgotada, mas estava, como se diz no futebol, uma “moldura humana muito bem composta”, com milhares de pessoas. O clima era de festa e ninguém ia ao engano. A excitação era tanta que ninguém levou a mal os 20 minutos de atraso, vividos em contagem decrescente.

Quando subiram finalmente ao palco, numa plataforma elevatória, foi a loucura. Durante duas horas, percebemos que estava tudo lá. Não havia razões para os meus medos. Não soou a saldos, nem a fins de coleção. Eram (mesmo) eles. Novos, cheios de energia, sem se arrastarem. Os nossos Excesso, os de sempre. As canções todas, as letras de cor cantadas em uníssono, as lágrimas do João Portugal e do Carlos — os mais emocionados da noite —, a pele de galinha do nosso lado.

Como é possível, caraças? Será a pieguice dos 50, que está quase a chegar? Será o saudosismo a bater à porta? Ou apenas um monte de gente que não se conhece, irmanada do mesmo espírito, partilhando um prazer coletivo? É isso mesmo.

Foram duas horas de felicidade e alegria, de amizades improváveis, de cumplicidades cantadas. Isto não acaba aqui. Dia 17 de junho há mais. Até já, Porto. “Quero abraçar-te, olhar-te, amar-te até ao fim.”

Carregue na galeria para ver algumas imagens do concerto dos Excesso na passada sexta-feira (19 de maio), na Altice Arena.

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