Música

Pabllo Vittar, a vítima de bullying que se tornou a maior drag queen do mundo

A cantora regressa a Lisboa esta quarta-feira, 24 de abril, mas antes falou com a NiT.
A cantora está a preparar um novo EP.

Esta é a história de Phabullo Rodrigues da Silva, o rapaz brasileiro de 24 anos que se tornou o maior símbolo mundial da subcultura das drag queens — as performances artísticas feitas por homens maquilhados e vestidos com roupa de mulher.

Phabullo é mais conhecido pelo seu nome artístico, Pabllo Vittar — e nesse caso já faz sentido referirmo-nos a uma “ela”. Estreou-se em Portugal no ano passado, quando foi uma das cabeças de cartaz da grande festa LGBT Arraial Pride no Terreiro do Paço, em Lisboa. Esta quarta-feira, 24 de abril, volta para um concerto no Campo Pequeno. O espetáculo começa pelas 22 horas e os bilhetes que ainda estão à venda custam 30€.

Pabllo Vittar vem apresentar os temas dos seus dois álbuns, “Vai Passar Mal”, editado em 2017; e “Não Para Não”, do ano passado. A cantora revelou à NiT que já está a trabalhar no próximo disco. “Estou sempre a pensar em músicas novas e estamos a tentar fazer colaborações internacionais, com artistas de outras línguas, e estamos a trabalhar para o meu novo EP, que vai sair no próximo ano.”

O concerto no Terreiro do Paço, diz Vittar, foi um marco no seu percurso. “Eu amei a atuação porque foi o meu primeiro contacto com o meu público em Portugal. Os fãs enviam muitas mensagens, recebo muito carinho e foi bom poder estar com eles. Até hoje estou em contacto com alguns. Estou ansioso pelo concerto no Campo Pequeno para os rever. É bonito ver a minha música a chegar a lugares tão distantes.”

Phabullo Rodrigues da Silva nasceu em 1994 em São Luís, no estado do Maranhão. A mãe, Veronica, é enfermeira. Cresceu sem nunca ter conhecido o pai, mas tem uma irmã gémea, Phamella, e outra um ano mais velha, Pollyana. Sempre foram todos muito próximos, apesar de a mãe trabalhar imensas horas por dia para conseguir sustentar a família.

Durante a infância, Phabullo teve aulas de ballet clássico, o que despertou a paixão e a curiosidade pela dança, os palcos e as performances no geral. Na escola, porém, a sua vida não era fácil. Era vítima de bullying pelos gestos delicados que tinha e a voz aguda. Era habitual ser humilhado pelos colegas por causa disso — e chegou a sofrer várias agressões físicas. No entanto, a irmã mais velha, Pollyana, sempre o defendeu.

Aquele que viria a ser conhecido como Pabllo Vittar sempre soube que era diferente dos outros rapazes e que queria ter uma vida e um percurso distinto. Foi no início da adolescência que começou a cantar em festas e no coro de uma igreja. Foi aos 15 anos que assumiu a homossexualidade, quando levou um namorado a casa e o apresentou à mãe. Nunca houve um preconceito na família e tudo foi bem aceite — até porque Pollyana também era homossexual.

Cresceu a ouvir Aretha Franklin, Etta James, Donna Summer e Whitney Houston. O seu primeiro nome artístico seria Pabllo Knowles, em homenagem à ídola Beyoncé. Rihanna, Elza Soares e Lana del Rey são outras grandes influências. “Adorava fazer um dueto com a Lana del Rey”, conta Pabllo Vittar à NiT.

“Desde pequeno que a minha vontade foi cantar e que a música fez parte da minha vida. É muito lindo porque valida a minha mensagem. Quero que a minha voz chegue a sítios distantes. Sempre acreditei em mim mesma e sempre quis ser artista.”

Pabllo Vittar pode demorar até três horas para se maquilhar e vestir.

Aos 16 anos mudou-se para o estado de São Paulo. O objetivo era tentar começar uma carreira na música, mas o processo foi complicado. Phabullo teve de trabalhar em restaurantes de fast food, salões de beleza e como operador de telemarketing. Mais tarde, entrou no curso de Design de Interiores na Universidade Federal de Uberlândia — mas nunca chegou a finalizá-lo, porque entretanto dava cada vez mais concertos. Foi por volta dessa altura que começou a publicar vídeos no YouTube a fazer covers, onde conquistou algum público.

Phabullo sempre se tinha identificado com o universo feminino e entrou no mundo das drag queens aos 17 anos, quando um namorado lhe apresentou o reality show “RuPaul’s Drag Race”, que em Portugal pode ser visto na Netflix.

A primeira vez que se vestiu e maquilhou como uma mulher foi para entregar panfletos, à porta de uma discoteca, de uma festa promovida por uma amiga. Comprou um lápis, um batom e umas extensões baratas que quase não chegaram para a noite inteira. Aos poucos, começou a entrar naquele meio, a fazer performances em clubes noturnos e a participar em concursos de beleza alternativos. Foi nessa altura que escolheu o nome artístico definitivo, e não se importou que fosse masculino.

“Acho que um nome é um nome, não precisa de ser para menino ou menina, e não há problema em haver uma drag queen chamada Pabllo Vittar.”

Já enquanto Pabllo Vittar, o seu primeiro grande hit foi “Open Bar”, uma nova versão de “Lean On”, o famoso tema dos Major Lazer. Foi lançado em 2015. As canções foram-se seguindo uma após a outra e tornaram Pabllo Vittar uma autêntica estrela da música brasileira. Mistura sonoridades pop com elementos do funk carioca, forró ou axé. Acabou por ser convidado pelos próprios Major Lazer para participar no tema “Sua Cara”, que também teve a colaboração de Anitta.

A voz aguda — quase infantilizada, é uma questão hormonal — ajudou a formar a imagem de drag queen e a estabelecê-la na indústria. Tornou-se um símbolo gay e contra a discriminação da comunidade LGBT e, em particular, da subcultura das drag queens. É seguida por milhões e milhões de fãs nas redes sociais (já superou o ícone mundial RuPaul, que protagoniza o maior reality show que divulga esta cultura).

Pabllo Vittar reconhece que há muitas dúvidas e curiosidades sobre o facto de estar num meio termo entre os universos masculino e feminino. “Mas gosto de deixar isso bem claro. Sou um rapaz gay. Quando me visto, sou drag queen. Mas não sou nem nunca pensei em mudar de género.” A transformação em Pabllo Vittar demora cerca de três horas.

O jornal “The New York Times” considerou-a “um ícone de fluidez de género”, enquanto o “The Guardian” referiu-se a Vittar como “um símbolo de resistência”.

“Não estou sozinha na luta contra a discriminação no Brasil, há muitos outros artistas e estamos todos juntos. Tenho os meus pés no chão e a minha cabeça está concentrada. Sei quem eu sou. Não me importo com as críticas ou as notícias cor-de-rosa, sou uma pessoa muito positiva e estou focada em fazer música para os meus fãs.”

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