Chama-se Merrill Nisker e nasceu no Canadá, mas desde o final dos anos 90 que se mudou para Berlim, a vibrante capital alemã, e se tornou mais conhecida enquanto Peaches. Cruzou diferentes texturas da música eletrónica com elementos pop, rap e uma atitude profundamente punk.
Há mais de 20 anos que Peaches desafia convenções de género, defende os direitos das mulheres e da comunidade LGBTQI+, e promove a discussão sobre desigualdades sociais através da sua arte provocadora e original.
Este sábado, 3 de setembro, atuou no MEO Kalorama. A artista canadiana está a celebrar o seu primeiro disco enquanto Peaches, “The Teaches of Peaches” (2000), cujo aniversário redondo dos 20 anos coincidiu com a pandemia. A NiT falou com Merrill Nisker pouco tempo antes de a cantora e produtora subir a palco no Parque da Bela Vista. Leia a entrevista.
Sei que conheceu o Artur Peixoto, o promotor português deste festival, há muitos anos, quando ele a trouxe cá para um concerto. Estar aqui agora é como completar um ciclo?
Quando fiz esse festival, o Artur estava a ajudar. E ele agora é “o” chefe. Tem sido ótimo ver-nos ambos a crescer juntos, o que é muito fixe. Tem sido uma amizade longa e bonita.
Ao longo dos anos colaborou com vários músicos portugueses, como as Anarchicks, Moullinex e The Legendary Tigerman. Tem estado atenta àquilo que se tem feito ultimamente em Portugal?
Na verdade, não muito… Tenho estado a ouvir muitas rappers femininas. Gosto muito da Flo Milli, Cardi B, Nicki Minaj, Erica Banks… E gosto muito de música vanguardista. Adoro o que a Arca faz, a Rosalía… É um ótimo momento para a música. As pessoas podem fazer o que raio quiserem, estão a ser menos puristas e a centrarem-se menos nas categorias. Quando comecei, era muito “como podes fazer isto e aquilo também?” É ótimo que já ninguém queira saber disso.
Havia mais caixas e géneros estabelecidos.
Sim, e a fluidez de género também ajudou a que as caixas na música se abrissem.
Ao longo da carreira tem abordado bastante a fluidez de género, o feminismo ou mesmo a forma como o envelhecimento é visto, entre outros temas. Sente que é cada vez mais importante que estes assuntos sejam discutidos?
Há sempre muitas vagas, mas é sempre importante. Sobretudo nos EUA, mas não só, há imensos sítios com muitos problemas. Sim, agora falamos mais deles, mas parece que também se expandem mais, em todas as direções. Fica muito intenso, mas pelo menos são mais debatidos.
Como tem sido para si revisitar os temas de “The Teaches of Peaches”, o disco que lançou há 22 anos, o primeiro enquanto Peaches, e que serve de mote para a digressão que está a fazer agora?
Tem sido incrível, porque me percebi que ainda são refrescantes. Gosto muito deles. Também tive de os reprogramar, porque fiz as canções num equipamento que já não tenho, e tive de as reprogramar de uma forma diferente, olhando para trás e pensando naquilo que não sabia na altura. Uso uma máquina interessante, que é meio digital e meio analógica, há certas coisas que é necessário fazer de forma manual, e foi muito fixe relembrar todas estas coisas. E continua a soar bem. E levar isto para a banda… Esta é a primeira vez que faço uma tour com banda e bailarinos. Normalmente é uma coisa ou outra. O espetáculo tem um arco e é muito focado na história dos figurinos das diferentes eras das performances de Peaches. Vão poder ver figurinos originais e outros que foram feitos por mim. E existe um propósito para todos.
É uma celebração especial do seu trabalho.
Sim, em vez de ires a um museu e veres estas peças, é como se aqui ganhassem vida.
Sei que está a preparar o seu próximo álbum. O que podemos esperar?
Não sei. Vamos ver. Escrevi muitas canções, muitas delas durante a pandemia, por isso vamos ver o que sinto agora em relação a elas. Vai ser ótimo. Mas não sei, vou processar o que se passou durante esta tour e o que percebi com que as pessoas se identificaram, e aquilo com que também me identifiquei, e depois olhar para as canções e ver como as posso moldar.
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