Música

Da perda do pai à esperança reencontrada na música. Leo2745 é o novo talento do hip-hop

Viveu dificuldades, enfrentou a revolta da adolescência e encontrou-se na música. É uma das esperanças da nova geração e um dos nomes principais do A.R.T. Music Festival.
É fã de hip hop desde os oito anos.

Leando Tavares era um miúdo tranquilo que apenas queria jogar à bola no recreio. Tudo mudou a partir dos oito anos, altura em que o pai morreu num acidente de viação. Começou a sentir-se “revoltado com o mundo” à medida que a mãe enfrentava problemas económicos. Acabariam por ficar sem casa.  sem rumo.

“Fiquei muito zangado com a morte do meu pai e durante muitos anos nem sabia porque é que estava tão revoltado. Por um lado, foi isso que me foi dando virtudes. Tornei-me mais duro, mas, ao mesmo tempo, mais frio”, conta à NiT o jovem que cresceu em Queluz-Belas e que encontrou no rap uma escapatória. Hoje é reconhecido nos palcos como Leo2745 e é um dos grandes nomes da nova geração do hip hop. A 13 de setembro vai atuar no A.R.T. Music Festival, que decorre nos Jardins do Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras.

 “As minhas tias eram um pouco maria-rapaz e ouviam muito rap”, brinca. A paixão pela música intensificou-se nas ruas, onde viu o grupo local Força Suprema a gravar um videoclipe. Para ver se tinha aparecido, começou a ver todos os vídeos da banda. “Comecei a ficar fascinado porque nunca tinha visto nada assim. As pessoas suavam por aquilo e agarrou-me bastante. O hip hop está muito perto da minha história de vida e das outras pessoas dos subúrbios que conseguem transmitir a energia e o sentimento nas letras que outros artistas não conseguem”, assegura.

O artista de 24 anos garante que vai levar o público numa viagem pela sua vida na atuação do A.R.T. Music Festival. “Vamos ter momentos mais emotivos, mas também vai ser muito frenético. Vão-se cansar com certeza”, promete, enquanto deixa o pedido de que os telemóveis fiquem guardados no bolso. “Quero que entrem nesta corrida e que sintam tudo.”

Nem sempre sentiu esta ligação aos outros. Confessa ter sido uma pessoa muito mais individualista. Aos 18 anos, contudo, começou a criar mais afinidades, sobretudo a partir do momento do nascimento do filho. “Eu era daquelas pessoas que distanciava muito os sentimentos e era muito frio. Mas uma pessoa não se faz sozinha e descobri que isso era impossível a partir do momento em que comecei a ter uma pessoa dependente de mim e do meu amor. Foi o meu filho que me ensinou a ser um homem.”

“Sempre fui um puto que arriscou muito”, nota. Quando tinha 18 anos — e o filho 15 dias — mudou-se para o Luxemburgo juntamente com a namorada. Durante um tempo trabalhou na construção civil, mas depois mudou-se para a Alemanha, onde trabalhou em linhas de comboio e, posteriormente, para a Inglaterra, onde esteve num restaurante da McDonald’s. Foi por volta desta altura, em 2021, que começou a ganhar reconhecimento no Instagram.

Inicialmente era apenas uma brincadeira e cantava para ver o que poderia surgir dali. Começou a ganhar vários seguidores nas plataformas digitais, algo que não esperava. Quando lançou “Moncler”, o primeiro single, recebeu milhões de visualizações. “Explodiu de uma forma que nem eu percebi. Foi tudo muito rápido. De repente, isto tornou-se o meu trabalho.”

“Nunca fui pessoa de muitos sonhos, mas sempre tive um que queria concretizar. As pessoas mais velhas veem isso num jovem e querem que os consiga alcançar. Eles deram-me uma oportunidade e agora tenho uma responsabilidade gigante porque não são só os adultos que me acompanham, também há muitos miúdos”, reflete.

Em março do ano passado editou “Mina D’Ouro”, o álbum de estreia. A legião de fãs ia crescendo e quis dar um sinal de que a arte era para levar com seriedade. “O objetivo do disco é mostrar que vim para ficar. Não sou só artista de uns singles. As pessoas gostaram deste trabalho e cheguei a um novo público”, afirma.

Além das milhões de streams nas plataformas digitais, Leo2745 também já recebeu o cobiçado prémio Play na categoria de Artista Revelação na gala deste ano. Para o artista, foi a prova de que o seu trabalho estava finalmente a ser reconhecido pelo público geral e não só pelos fãs. “Ele viram o trabalho que eu fiz. Querendo ou não, tenho um público com muita força e sentem a minha energia.”

Atuar no A.R.T. Music Festival é “um orgulho enorme”, especialmente tendo em conta o cartaz de luxo que inclui outros nomes como Regula, Alborosie, Piruka, Magnus Wise, entre outros. “Vai ser de loucos”, assegura.

Durante a atuação, também vai deixar uma mensagem bem clara. “Corram atrás dos vossos sonhos e foquem-se no que querem da vida. Com esforço e dedicação as coisas começam a aparecer.”

 

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