Música
Portugal. The Man: “Gravar um álbum em Portugal é uma possibilidade muito forte, queremos fazê-lo”
A banda associou-se ao Turismo de Portugal por causa do seu nome, claro, que é uma verdadeira coincidência.
O grupo teve uma enchente no Palco Sagres.
Os Portugal. The Man — assim mesmo, com um ponto final a meio — não demoraram muito tempo a ficar relativamente conhecidos em Portugal, por razões óbvias. Não existe uma explicação muito lógica: trata-se apenas de um alter-ego artístico que pretende representar um grupo de pessoas.
Apesar disso, quando o nome foi escolhido, nenhum dos membros da banda de rock americana — formada primeiro no estado do Alaska e depois evoluída no Oregon — tinha sequer estado no País.
Foi uma coincidência feliz que se tivessem deixado encantar por Portugal quando começaram a tocar deste lado do Atlântico em tours europeias. A relação cresceu ao ponto de a banda se juntar ao Turismo de Portugal para estabelecer uma campanha chamada Portugal. The Summer, em que o objetivo é reforçar o nosso País como grande destino turístico de verão.
Será lançado um desafio a músicos portugueses e internacionais a fazerem uma cover de “Live in the Moment”, tema do grupo americano, e as melhores versões serão a banda sonora dos vídeos promocionais que serão feitos nos próximos meses.
A banda atuou no NOS Alive esta sexta-feira, 13 de julho, no Palco Sagres — e tiveram uma enchente à sua espera para ouvir os temas do último disco, “Woodstock”. A NiT falou com o teclista e multinstrumentista Kyle O’Quin algumas horas antes do concerto.
A banda juntou-se ao Turismo de Portugal numa campanha e obviamente isso está relacionado com o nome do grupo, mas como é que se deu esta parceria?
Penso que eles nos contactaram, usaram a nossa canção “Live in the Moment” para um vídeo de turismo e acho que partilhamos muitos dos mesmos ideais. Percebemos que toda a gente em Portugal é bastante fixe, especialmente nestes festivais de música, percebemos que o ambiente é ótimo e toda esta ideia de Portugal, a música, a comida, todas estas qualidades formam uma cultura. Não é apenas uma coisa e isso diz-nos muito. Porque viajamos muito e a melhor forma de conhecer um sítio é comer a comida e conviver com os locais.
E é curioso porque, apesar de ser este o nome da banda, é um acaso que tenha sido Portugal o país escolhido. Poderia ter sido outro país.
Sim, o nome da banda era como um Ziggy Stardust do David Bowie. Queríamos criar uma espécie de alter-ego, mas nunca fomos um David Bowie e seríamos sempre um grupo de pessoas. Por isso pensámos num país, que é um grupo de pessoas, que tem uma voz no mundo, e Portugal simplesmente soou bem, soava bem na língua. E nunca tínhamos estado aqui nem nada. Estávamos mesmo nervosos da primeira vez que viemos atuar em Portugal, do género: “esperemos mesmo que gostem de nós”.
Havia uma pressão extra.
E foi muito bom. Adoraram-nos e sentimo-nos apoiados por toda a gente aqui.
Por isso sente que existe realmente uma ligação especial com o público português por causa do nome da banda?
Existe mesmo, sem dúvida. Atuar aqui é diferente de qualquer outro sítio no mundo para nós.
E vocês atuaram noutros sítios aqui em Portugal, como em Paredes de Coura.
Isso foi incrível, ali nas montanhas. Posso dizer asneiras? Aquela merda é que é nossa. Nós crescemos nas montanhas, aquele festival foi uma loucura. Era uma colina gigante de 10 ou 15 mil pessoas a fazer crowdsurf cá para baixo. Tinha uma onda mesmo de festa, foi muito especial — e nós fazemos muito concertos, nem sempre são assim. Essa foi a última vez que estivemos cá, porque viemos devagarinho ao longo dos anos à Europa, vimos o máximo que conseguimos, porque nem sempre conseguimos ir a certos sítios. E esse foi o clique que nos fez pensar: queremos voltar aqui o máximo possível.
É muito diferente de fazer uma tour na Europa ou nos EUA?
É bastante diferente. O nosso país é tão grande. Tu atravessas o Texas de carro e demoras umas nove horas. Aqui viajas de país para país como lá viajamos de estado para estado. Claro que as pessoas têm orgulho nos estados e tal, mas aqui — se calhar também é por causa do Mundial nesta altura — mas aqui toda a gente mostra ainda mais orgulho no seu país. E existem mais diferenças culturais, o que é natural, as pessoas aqui têm uma cena mais de dança, eletrónica.
Estava a torcer por Portugal no Mundial, já agora?
Claro que estava a torcer por Portugal, então? [risos]
Neste festival, que bandas é que gostaria de ver, se tivesse a oportunidade?
Os Eels, Future Islands, são tantas. Nós tocamos em festivais com muitas destas bandas, como Chvrches, também. Os Queens of the Stone Age dão sempre um grande concerto. É sempre fixe ir ver estas bandas, especialmente bandas como os Future Islands e Eels, estes tipos são mesmo fixes, é fixe ir e ver o que os outros estão a fazer, especialmente pessoas que estão a fazê-lo num nível muito alto.
Os Portugal. The Man venceram um Grammy na última edição dos grandes prémios da indústria, com o single “Feel It Still”. Isso mudou a carreira da banda, foi determinante?
Isso foi uma loucura. Penso que realmente mudou muita coisa, foi sorte, não se consegue prever certas coisas, nós não sabíamos. As pessoas perguntam sempre qual foi o pó mágico que pusemos em cima da “Feel It Still”, mas nós não sabemos [risos], se não estaríamos sempre a fazê-lo e a pô-lo em todo o lado. Estávamos apenas a tentar compor uma boa canção e apenso que no “Woodstock” estamos simplesmente a tentar escrever melhores canções. E é estranho, as pessoas pensam que quão mais complicadas as canções forem mais difíceis serão de fazer, mas posso dizer que é o oposto. Se queres uma música experimental de 12 minutos, dá-me 13 minutos. Se queres uma coisa que está numa caixa, tens mesmo de te focar. Tudo o que fazes tem muito mais peso, por isso tentamos arranjar uma letra que nos inspire, algo com que as pessoas se possam identificar.
Vocês tentam fazer novas canções quando estão em tour, como agora?
Sim, nunca paramos. As pessoas perguntam-se se atiramos fora canções, nós fazemos isso a toda a hora. Simplesmente não falamos sempre sobre isso. Mas é um lado muito saudável: saber quando largar certas ideias, não lançar tudo o que se faz [risos] Compomos em hotéis, bastidores, basicamente em todo o lado. Nós não paramos, chegamos a casa e vamos para o estúdio, acabámos de vir de lá e já lá estamos outra vez, já estamos a preparar um novo disco.
Há data para o lançamento? Será, por exemplo, em 2019?
Sim, acho que vamos atacar bem o estúdio em outubro, novembro e dezembro. Estamos em tour, basicamente, desde janeiro, e depois voltamos a casa. Como eu disse, é ótimo andar nestes festivais e ver as outras bandas e saber o que as pessoas estão a fazer, o que estão a fazer melhor do que nós e tentar aprender com isso, para que possamos ser melhores para o ano.
Sentem uma nova responsabilidade, por causa deste novo projeto, para com Portugal?
Estamos a falar de gravar um disco aqui, adoraríamos. Tentamos sempre viajar para gravar álbuns, porque tudo o que está à tua volta te inspira. Por isso, é uma possibilidade muito forte, queremos mesmo fazê-lo. E faz todo o sentido: os Portugal. The Man a gravar o novo disco em Portugal, eu adorava. Será nessa altura que poderemos realmente conhecer a cidade de Lisboa [risos].