Em 2024, Iolanda deu o “Grito” e o mundo parou para a ouvir. Foi esta a canção que representou Portugal na Eurovisão e desde o início que foi uma das favoritas à vitória. Embora a artista não tenha vencido o concurso, ficou em décimo lugar, uma posição de destaque entre os 25 concorrentes da Grande Final.
A música é agora uma das nomeadas aos Prémios NiT 2025 na categoria de Melhor Tema Original. Os escolhidos foram revelados a 5 de fevereiro e desde esse dia que os leitores podem votar nos vencedores. O processo de votação decorre online e termina a 19 de fevereiro.
A canção foi escrita em parceria com o cantor Luar e combina pop e fado com um forte apelo emocional e uma mensagem de liberdade e luta pessoal. A interpretação de Iolanda na Eurovisão foi intensa e acabou por ser elogiada graças à sua presença de palco. “Grito” também teve um grande impacto nas redes sociais.
Durante a sua passagem pela Eurovisão, Iolanda não passou despercebida. Na passadeira turquesa do festival, surgiu com um vestido preto, longo e esburacado, com uma abertura na perna, assinado pela marca Trashy Clothing. A etiqueta palestiniana descreve-se como “uma marca de luxo anti-luxo”, cuja missão é “abordar circunstâncias políticas difíceis, transmitindo declarações de design de resistência anticolonial e alegre militância artística”, revela no site oficial.
Além da escolha do vestido, as unhas da artista exibiam um padrão inspirado nos keffiyehs, os lenços tradicionais da Palestina, amplamente associados aos protestos contra o massacre em Gaza pelas forças israelitas.
Também nomeada ao prémio de Melhor Tema Original está “Nuvem Negra”, dos Capitão Fausto, faixa que integra o mais recente álbum da banda, “Subida Infinita”, lançado em 2024. O grupo, que esgotou salas de espetáculo de Norte a Sul do País, incluindo a Culturgest, tem vivido uma fase de mudança.
Esta digressão marcou uma diferença em relação às anteriores: Francisco Ferreira, teclista da banda, já não acompanhou Tomás Wallenstein, Domingos Coimbra, Manuel Palha e Salvador Seabra nos palcos. A notícia da saída foi anunciada a 15 de dezembro de 2023, no mesmo dia em que revelaram o lançamento do novo disco — o quinto e o último gravado com os cinco membros originais.
“Nuvem Negra” foi um dos primeiros singles do álbum. A banda descreve-o como um tema emotivo, que aborda despedidas e o respeito pelas partidas, mantendo a promessa de proximidade contínua. A letra reflete sobre momentos de transição, aceitação das mudanças e a importância dos laços que permanecem apesar da distância. O videoclipe, produzido por Martim Braz Teixeira, foi gravado na casa de Alvalade onde a banda criou todo o disco.
2024 não foi só um ano de despedidas, mas também de regressos. A 15 de novembro, Lena D’Água editou “Tropical Glaciar”, o primeiro álbum em cinco anos. Entre o alinhamento, houve um tema que se destacou: “Pop Toma”.
A própria artista descreveu-a como sendo uma canção “leve e bem humorada” e também uma “crítica social com trava-línguas que me faz dançar”. A composição foi feita ao lado de Pedro da Silva Martins, que também produziu a faixa.
“Numa sociedade em que todos os ‘outros’, depois dos seus escassos e esmifrados minutos de fama, são simplesmente descartados e condenados ao esquecimento, a Lena d’Água tem toda a propriedade para dizer: ‘queres pop, toma'”, descreveu o músico.
Em 2024 celebraram-se os 50 anos do 25 de Abril de 1974 e vários artistas portugueses lançaram projetos em honra da data. Um dos destaques foi JP Simões, que editou o álbum “JP Simões Canta José Mário Branco”, uma homenagem ao icónico músico e compositor.
No seu disco de estreia a solo, JP Simões já tinha incluído uma canção original de José Mário Branco. No novo trabalho foram escolhidas oito faixas do repertório do artista: “As Contas de Deus”, “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”, “Perfilados de Medo”, “Travessia do Deserto”, “Do Que um Homem é Capaz”, “Sopram Ventos Adversos”, “Cada Dia São Cem” e “Mariazinha”, esta última com direito a videoclipe e nomeação ao prémio de Melhor Tema Original.
“Como uma transfusão de sangue, creio que comecei a sentir-me cada vez mais próximo da música de José Mário Branco à medida que a fui tocando e cantando, sempre que a oportunidade surgia. Como se a espessura ética e poética das suas canções fosse progressivamente ocupando e fortalecendo um lugar onde antes havia insegurança e incerteza, à medida que as fui cantando e acreditando cada vez mais no que cantava”, afirmou no lançamento do disco, a 23 de fevereiro.
O álbum surgiu depois de vários concertos dedicados ao trabalho de José Mário Branco, que ajudaram o artista a aprofundar a ligação com este repertório. “Surgiu um convite para — porque não? — fazer um registo que lhe fosse inteiramente dedicado. É uma voz agora oportuna e necessária a de José Mário Branco? É pungente e transborda beleza e coragem? Sem dúvida. E aqui estamos”, acrescentou.
Na reta final do ano, houve um último trabalho que prendeu a atenção dos portugueses: “2000 A.D.”, de Samuel Úria. O entusiasmo, porém, começou uns meses antes, em setembro, quando o artista apresentou a faixa que deu título ao disco.
A canção reflete o estilo característico de Samuel Úria graças à combinação de letras poéticas e introspetivas com uma sonoridade que transita entre o rock e a música popular portuguesa. Para a criação da faixa, inspirou-se na frustração que sente pelo mundo atual e pelos sinais de regressão na sociedade.
Construiu também um mundo imaginário no ano 2000, baseados nas esperanças que a chegada de um novo século criou naquela altura. “O cruzar do ano 2000 afigurou-se um marco menos intenso do que a prévia antecipação do ano 2000. A previsão dessa efeméride foi, durante muito tempo, pejada dum sentimento esperançoso, de ensejos otimistas”, comentou o artista, antes de acrescentar que “no último meio século, os brados de liberdade passaram de gritos de celebração para gritos de socorro”.