Os Capitão Fausto demoraram quase três anos a concluir “Subida Infinita”, o mais recente álbum, lançado a 15 de março de 2024. Foi gravado aos poucos, entre viagens pelo País, de um primeiro retiro em janeiro de 2021, numa adega em Cadima — onde também gravaram “Pesar o Sol”, à primeira sala de ensaios onde nasceu “Gazela”.
“Ainda tivemos um breve período de tempo numa sala de ensaios de um amigo nosso em Marvila. Só depois é que fomos para Alvalade novamente, onde montámos um estúdio do zero. Foi um período extenso de gravação e de produção. Tematicamente, esta procura de casa e este sentimento um bocadinho nómada refletiu-se muito na música que estivemos a fazer e nos temas que quisemos abordar”, explicam Tomás Wallenstein, vocalista, e Domingos Coimbra, baixista, à NiT.
Este é já um velho hábito da banda no momento de criar. Precisam de um ambiente onde consigam, durante um longo período de tempo, “abrir a torneira e ficar a compor, a compor e a compor”. Tudo começa apenas com ideias soltas, que dificilmente se tornam em canções logo nessa fase. “Sempre achámos, enquanto banda, que uma boa forma de arrancar é através de um retiro. Neste caso, não foi exceção. Na verdade, é capaz de ter sido a vez em que estivemos mais tempo, quase três semanas.”
Antes do lançamento oficial, foram apresentados três singles: “Nunca Nada Muda”, “Andar à Solta” e “Nuvem Negra”. Foi esta última faixa que venceu o Prémio NiT de Melhor Tema Original, com 29,32 por cento dos votos dos leitores. A banda descreve-a como uma “canção emotiva e comovente, que fala sobre despedidas e respeito pelas partidas, com a promessa de se ficar perto”. Esta é “a canção que nos sobrevoou durante os anos que passaram, pairou sobre este disco até se dissipar na chuva que foram todas as outras canções. Somos nós a falar sobre nós, como quase sempre nas nossas músicas”, dizem.
As interpretações sobre o significado do tema são subjetivas, mas poderão remeter para a saída de Francisco Ferreira, teclista da banda composta por Tomás Wallenstein, Domingos Coimbra, Manuel Palha e Salvador Seabra. O anúncio da redução do grupo foi feito a 15 de dezembro de 2023, juntamente com a revelação do novo álbum — o quinto e último com os cinco membros originais.
“Tivemos muito tempo para conversar e para perceber quais eram os objetivos do Francisco e o que ele queria para a vida dele. Felizmente, tivemos muito tempo para nos ambientarmos a esta ideia. A partir do momento em que sai uma peça fundamental, como qualquer um de nós era nos Capitão Fausto, temos de ver como é que a banda se reergue e continua a fazer aquilo que fazia antes”, assumem os artistas.
A saída do teclista foi “atípica” e “não teve um ponto final imediato”. Em vez de abandonar de imediato o grupo, Francisco quis terminar o álbum ao lado dos colegas de muitos anos. “Naturalmente, isso moldou a forma como trabalhámos o disco e como crescemos enquanto grupo.”
Em termos sonoros, “Subida Infinita” distingue-se de tudo o que a banda lançou até agora. As novas canções foram mais exploradas, houve um maior uso de silêncios e um jogo mais apurado entre os instrumentos. “Nunca tivemos tanto lado acústico na nossa música”, garantem. “Explorámos essas vertentes, mas não foi algo muito premeditado. Em qualquer um dos nossos discos, a sonoridade é aquela que nos faz mais sentido para cada um dos temas. Existem elementos externos que influenciam muito o som de cada álbum, como os sítios onde são gravados. Este disco é o primeiro que é todo gravado por nós.”
Depois de uma extensa digressão por Portugal, a banda, agora com quatro membros, vai embarcar, pela primeira vez, numa tour internacional. O arranque acontece a 21 de abril em Madrid, seguindo-se Barcelona no dia seguinte. A 7 de maio, chegam a Amesterdão e, a 8, atuam em Paris. Subida Infinita termina a 11 do mesmo mês em Londres. “Esta viagem musical é um reflexo do desejo da banda de levar a sua sonoridade única a novos públicos e expandir as suas fronteiras artísticas”, afirmam.