O vídeo partilhado por Joana Marques, onde podemos ver os Anjos a cantar o hino nacional num evento de MotoGP, no Algarve, em 2022, despertou algumas gargalhadas entre milhares de portugueses, principalmente por estar inserido numa montagem humorística onde aparecia o júri do “Ídolos” a reagir. No entanto, houve quem tivesse uma reação completamente oposta, considerando a partilha como uma “humilhação”.
No julgamento que coloca os cantores frente a frente com a humorista — e que está a decorrer no Palácio da Justiça, em Lisboa, desde 17 de junho —, Timi Montalvão, a produtora de Sérgio e Nelson Rosado, foi chamada pelos irmãos para depor a seu favor.
Timi estava presente na prova de MotoGP quando o grupo interpretou “A Portuguesa”. Em lágrimas, afirmou à juíza que aquele momento foi “muito difícil para todos nós, porque a cultura foi a primeira a fechar e a última a abrir no pós-pandemia”.
Ao tribunal também pediu desculpa por “estar sempre a falar em nós”, no plural, mas tem uma razão para fazê-lo. “Os Anjos somos todos nós, somos todos uma equipa, uma família. Somos 28 pessoas, 28 famílias, que trabalhamos juntas e vivemos juntas na estrada”, disse, segundo o “Observador”.
A seu ver, a atuação tinha corrido bem, mas o orgulho foi trocado pela preocupação após a publicação de Joana Marques no Instagram. “Não queria acreditar no que estava a ver”, comentou após dizer que se tratava de um “vídeo completamente manipulado”.
Quando viu os comentários que o post tinha recebido, partilhou a gravação original, mas ninguém quis saber. “Uma coisa boa nunca consegue superar uma coisa má”, lamenta. Para Timi, a humorista apenas partilhou o vídeo “com o intuito de prejudicar” a carreira dos Anjos. “Feriu o bom nome, a boa imagem. Como é que ela poderia não ter essa noção?”, questionou.
Apesar de a publicação ter sido feita há mais de três anos, o impacto continua a sentir-se nos dias de hoje, garante Timi Montalvão. Levou, inclusive, a que concertos da banda fossem cancelados. Antes, os irmãos tinham entre 40 a 50 espetáculos por ano, um número que, atualmente, foi cortado em “cerca de metade”.
Após mais de uma hora de depoimento, voltou a falar-se do tal vídeo e, mais uma vez, o assunto cai sobre o facto de o post de Joana Marques ser considerada humor ou não. Para Timi Montalvão, não o é. “Humoristas tentam fazer piadas com coisas que façam rir e não piadas que humilhem. Isso para mim não é humor, é humilhação pública.”
A produtora chegou mesmo a afirmar que “a Joana adora humilhar pessoas”, referindo-se não só à sua conta de Instagram, mas também à rubrica “Extremamente Desagradável”, que tem na Renascença. “Já tive conhecimento de publicações da Joana a humilhar pessoas doentes, a humilhar pessoas deficientes.”
Face a esta acusação, a equipa de defesa da comediante que está a ser acusada de difamação fez uma simples pergunta: “Que piadas foram essas?” “Não lhe posso precisar neste momento”, concluiu Timi Montalvão.
Como começou o caso
A polémica começou em 2022. Na altura, Joana Marques partilhou um vídeo dos Anjos a cantarem o hino nacional, “A Portuguesa”, a que foi acrescentada, através de montagem, uma reação negativa do painel que compunha o júri do programa “Ídolos”, do qual a humorista fazia parte.
No final do vídeo é possível ouvir Tatanka (vocalista dos Black Mamba, outro dos jurados) afirmar: “Assassinar uma música destas, tive de mandar parar”. A legenda do post inclui apenas uma questão retórica: “Será que foi para isto que se fez o 25 de abril?”.
Os músicos, através da sua empresa, Angel Minds – Gestão e Promoção de Espetáculos Lda, exigem uma indemnização de aproximadamente 1,2 milhões de euros.
Quando os cantores interpretaram o hino nacional — antes de uma prova do Moto GP, no Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão, no dia 25 de abril — foram alvo de críticas e de acusações de terem “arruinado” a canção. Em resposta aos insultos, afirmaram ter enfrentado “problemas técnicos”, referindo uma interferência sonora que provocou uma ilusão fonética nas palavras, adiantou o “Notícias ao Minuto”.
“É um processo que se encontra em tribunal, a sede apropriada para tratar destas situações. Lamentamos ter chegado a este ponto. É grave! Acredito que nos conhecem bem e sabem que não somos pessoas de vingança nem de discórdia. Contudo, foi algo que nos magoou muito, mexeu bastante connosco, assim como com a nossa equipa e as nossas famílias”, disse Nelson Rosado, um dos elementos, à “TV Mais”.
Os cantores enfatizaram que a questão não está relacionada com o programa “Extremamente Desagradável”, destacando que resultou da publicação nas redes sociais e teve “impacto altamente lesivo”. “É importante que as pessoas percebam, de uma vez por todas, que, com muita ou pouca visibilidade, no digital não podem escrever, dizer ou fazer tudo o que querem, nem magoar os outros. Isso é contra os nossos princípios, contra tudo aquilo que defendemos”, afirmou.
Antes de avançarem com o processo em junho, a dupla Anjos tentou obter um pedido de desculpas da humorista, mas sem sucesso, o que os levou a tomar essa decisão. “Fomos educados a respeitar o próximo. Somos pessoas de concórdia e não de discórdia. Não vivemos de escândalos nem queríamos que esta situação tivesse chegado a este ponto. Tentámos de tudo, tudo! Mas do outro lado encontrámos uma posição irredutível. Não tivemos outra alternativa“, conclui.
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