Salvador Sobral foi o convidado do programa “Alta Definição” da SIC, transmitido este sábado, 7 de setembro. Durante a conversa com Daniel Oliveira, o artista refletiu sobre as transformações na sua vida desde a sua participação no Festival da Eurovisão em 2017, abordando as implicações da sua condição de saúde e a sua recuperação após o transplante de coração.
Recordando aquele período, quando tinha “uma barriga de líquidos de 20 quilos e estava muito magrinho”, revelou que o momento em que representou Portugal com o tema “Amar Pelos Dois”, ficará para sempre na sua memória. Contudo, agora com um novo coração, afirma que parece ter sido “noutra vida”.
Na época em que enfrentava sérios problemas cardíacos, o artista revelou que a única alternativa para lhe salvar a sua vida era um transplante. “Era uma doença mortal e havia a possibilidade de não surgir um coração a tempo”, relatou a Daniel Oliveira. Salvador confessa que se sentia constantemente exausto e o seu maior desejo era descansar. Até mesmo subir escadas tornava-se uma tarefa difícil para o músico de 34 anos, que era frequentemente tratado como “velhote”.
O artista admite que quando aguardava o transplante, “não era a pessoa mais otimista do mundo”. Sabia que “podia não aparecer um coração” e chegou mesmo a escrever um testamento. No texto, que só mostrou à sua então namorada e aos pais, até dizia a quem pretendia deixar o piano da sua casa. “Era tudo muito frio. Mas a minha mãe não aceitava”, recorda.
“Lembro-me de escrever que queria que as minhas cinzas fossem lançadas no Mediterrâneo, Maiorca, porque foi onde eu comecei a cantar.” Apesar do ambiente sombrio que o cercava, revela que sempre se sentiu “bastante em paz”.
“Pensei a minha morte de uma forma um bocadinho cinematográfica”, descreve. E acrescenta: “A morte é super-romantizada, especialmente de um jovem. Seria… Ganhou a Eurovisão e depois morreu.”
Após a vitória na Eurovisão, começou uma série de concertos em Portugal e o seu estado de saúde deteriorou-se. “A minha temperatura corporal não baixava. Estava sempre com febre e não descia. Era o corpo a entrar em falência”, explica.
Devido à gravidade da sua condição, necessitava de um desfibrilador que se ativava sempre que sofria ataques cardíacos — situações que ocorreram várias vezes, incluindo uma vez no meio de um concerto em Vilar de Mouros, onde pensou mesmo “que ia morrer em palco”.
O aparelho aplicava uma descarga elétrica controlada ao coração sempre que os batimentos não correspondessem ao do algoritmo, algo que também chegou a acontecer num momento íntimo. “Tive um [ataque cardíaco] a fazer amor com a minha ex-namorada. Tenho a certeza que isto causa algum tipo de trauma sexual”” recorda com humor.
Quando finalmente recebeu a chamada para o transplante, surgiu uma nova esperança para uma vida normal. No entanto, o processo “não foi nada fácil”. Com o novo coração, acordou a sentir “dores intermináveis”, acompanhado de “soluços durante 48 horas” e sem conseguir descansar.
“Pode cair-me um piano em cima, mas jamais sentirei dor como a que experimentei no pós-operatório (…) lembro-me de ter pedido à minha família para ir embora, pois não tinha controlo sobre o meu corpo. Era uma dor insuportável”, partilha, acrescentando que só sentia alívio quando tomava morfina.
Nos meses seguintes, Salvador teve de aprender a recuperar o equilíbrio, dado que os seus músculos estavam extremamente debilitados, ao mesmo tempo que precisou de “reaprender a viver”. Descreve o processo como “uma espécie de renascimento a nível físico, emocional e espiritual”.
Apesar da sua vida ter mudado completamente para melhor, terá de viver com um “sistema imunitário bastante fragilizado” e admite que adoece muitas vezes devido ao “infectário”, ou seja, a creche da filha, Aïda. A menina tem 18 meses e Salvador tenta aproveitar ao máximo todos os momentos com a filha. “Tenho de viver intensamente cada instante com ela, pois não sei o que poderá acontecer no futuro”, afirma.
A entrevista surge numa altura em que o artista se prepara para deixar Portugal e estabelecer-se em Barcelona com a mulher, Jenna, e a filha bebé.
. “Há cerca de 12 anos, apanhei um ferry de Maiorca para me mudar para Barcelona. Era um jovem repleto de sonhos e sem preocupações. Agora, 12 anos depois, volto a mudar-me para Barcelona, a partir de Lisboa. Sou um adulto cheio de sonhos, agora sem doenças, mas com muitas preocupações”, revelou no seu perfil de Instagram.
“Será uma grande aventura para a nossa família”, acrescentou. Ainda assim, o músico de 34 anos garante que vai regressar a Portugal. “Felizmente, vou voltar ao meu país amiúde”.