Se porventura havia espectadores conservadores no concerto de Sam Smith, é garantido que saíram escandalizados com tudo o que viram. Ou pelo menos sentiram que foram colocados num forno em slow cooking. Afinal, o espetáculo desta quinta-feira, 29 de agosto, no Parque da Bela Vista, em Lisboa, até começou de forma bastante amena.
Logo no arranque, os dançarinos apareceram de tochas na mão e deixaram bem claro que aquilo não seria um mero concerto. Estava prestes a começar, isso sim, um espetáculo teatral e que nos levaria numa viagem especial.
A setlist, bem pensada, começou com alguns dos maiores hits da carreira do britânico de 32 anos, como “Stay With Me”, que arrancou a performance, “I’m Not the Only One”, “Like I Can” ou “Too Good at Goodbyes”.
“Isto é fantástico. Uau. Tenho de dizer que sempre que venho a Lisboa sou recebido pelo público mais fantástico de sempre”, disse o vocalista. Ao contrário do que vimos na atuação dos Massive Attack, desta vez, Sam estava em harmonia com os fãs e o resto da plateia. “Isto é só sobre uma coisa: liberdade”, acrescentou.
A promessa foi cumprida. Ao longo de aproximadamente uma hora e meia, Sam Smith trocou de roupa seis vezes, representando a forma como flutua entre os géneros masculino e feminino. Tanto usava T-shirts e calças confortáveis, como um extravagante e sensual vestido. E em momento algum perdeu a sua identidade.
A forma como navegou entre baladas e canções mais ritmadas comprova o seu talento em controlar as emoções da plateia com um único instrumento: a voz — que faz todo o trabalho para prender a atenção do recinto sem precisar de coreografias elaboradas. Embora também houvesse muitas destas durante o concerto.
Depois da primeira troca de roupa, voltou ao palco com êxitos como “Diamonds”, “How Do You Sleep?” e “Dancing With a Stranger”. Estas faixas que se aproximam mais da música eletrónica transformaram o Kalorama na maior discoteca do País, onde todos puderam dançar sem inibições e julgamentos. Afinal, todos os olhos estavam em Sam Smith, vencedor de cinco Grammys.
Além de celebrar a existência do próprio cantor, a atuação destacou o lançamento de “In The Lonely Hour”. O primeiro disco do cantor, aquele que o popularizou, foi lançado há dez anos. “Obrigado a quem está comigo desde o início. Amo-vos imenso”.
Só com o piano a acompanhá-lo tocou “Good Thing”, um tema do disco que não teve a oportunidade de cantar frequentemente no passado. Seguiu-se “Lay Me Down”, que foi interpretado em acapella antes de La Donna, uma amiga do artista, se ter juntado em palco.
E com mais uma troca de roupa — agora para um look mais masculino após um vestido preto — veio também uma pausa com mais coreografia dos dançarinos, que apostaram no twerk e na sensualidade que acabou por marcar o resto do espetáculo.
Voguing, showgirls de Las Vegas, uma atuação psicadélica de “Desire” e de “Latch”, outro dos grandes êxitos do britânico, fizeram com que o público mantivesse toda a energia, apesar de já estarmos na reta final do concerto.
O final chegou com o look mais extravagante nesta noite de one man show de Sam Smith: botas de cano e salto alto, um corpete, um chapéu com cornos bem ao estilo satânico e uma saia de penas. Tudo isto para interpretar “Unholy”, um dos maiores hits de 2023.
A despedida foi puro sexo, orgulho e liberdade, tal como o resto da apresentação gloriosa de Smith no Kalorama.
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