Cultura
ROCKWATTLET'S ROCK

Música

Moullinex e GPU Panic deram concerto a 15 metros do Tejo, no meio de um alerta de furacão

"Se morrêssemos ali, ficávamos contentes", confessam. O filme-concerto “Live Over Lisbon” chegou ao YouTube.

Há mais de quatro décadas que a grua permanece imóvel, a poucos metros de distância do Lux. A estrutura acabou por se tornar parte do imaginário de Moullinex e GPU Panic, que formam a dupla MXGPU. Sempre que atuavam na discoteca, cruzavam-se com a máquina, à qual deram o nome de Poderosa. E foi nesse mesmo local, pendurados a 15 metros de altura que, a 27 de agosto, realizaram um concerto único em Portugal que deram o nome de “Live Over Lisbon”. O filme da performance ficou disponível esta quinta-feira, 16 de outubro, no YouTube.

A gravação, tal como o espetáculo, aconteceu em pleno rio Tejo, entre o MAAT e a Ponte 25 de Abril, numa manhã marcada por um alerta de furacão. O cenário improvável acabou por transformar o evento num verdadeiro teste à capacidade de resistência da equipa. “Calhou ser numa semana com um tempo que não é típico para agosto. O pico da tempestade foi exatamente no dia em que filmámos. Sentimos isso principalmente no vento”, contam Luís Clara Gomes e Guilherme Ribeiro à NiT.

Nos dias anteriores, a dúvida instalou-se. A equipa técnica chegou a questionar se seria possível concretizar a ideia. “Disseram-nos que não tinham a certeza se ia dar. Mas depois houve um momento mágico de mudança de maré em que o rio acalmou. Foi aí que filmámos.”

O concerto arrancou por volta das 6h45, pouco antes do nascer do sol, e terminou às 7h29. Toda a atuação foi gravada de uma só vez, sem cortes e sem playback. A ideia era que o cenário servisse de extensão visual ao álbum “Sudden Light”, lançado a 26 de setembro.

A preparação foi exigente e prolongada. “Andámos meses a preparar este espetáculo, com arranjos específicos. Imaginámos este filme-concerto como o companheiro visual do álbum. Até a componente cénica foi desenhada e pensada por nós em parceria com o André Tentúgal [o realizador]”, recordam.

Durante a atuação, revisitaram temas como “Take Me Home” e “Into Flames”, além de apresentarem versões inéditas de “See Me Burn” e “Luz”. Mostrar estes temas ao vivo foi importante, mas não foi a razão principal por trás do projeto. “Todo este espetáculo nasce da vontade de fugirmos da zona de conforto. É por isso que tocamos frequentemente no meio do público, que temos um laser em cima de nós. Lisboa é uma cidade muito importante para nós e quisemos prestar-lhe homenagem de forma diferente.”

O medo, ainda que controlado, esteve sempre por perto, sobretudo nos minutos antes de subirem à plataforma que seria depois içada pela grua. “A primeira vez que subimos, parecia tudo incrivelmente simples. Mas quando testámos à altura certa, percebemos que a plataforma abanava muito mais do que imaginávamos. Não foi medo, mas obrigou-nos a repensar. Se morrêssemos ali, ficávamos contentes.”

Quando começaram a tocar, tudo o resto desapareceu. A concentração era total. Compararam mesmo o momento ao de um atleta em competição. “Estivemos muito tempo a preparar-nos para aquele único momento. Quando estávamos lá, foi quase como uma visão em túnel. Apenas víamos aquilo.”

A parceria começou em 2016, quando GPU Panic se juntou à banda ao vivo de Moullinex como guitarrista. Desde aí, “foi uma progressão natural”.

Apesar de manterem em segredo os próximos passos, garantem que há mais atuações planeadas. E sim, também envolvem plataformas elevadas. “Já há vários planeados e ainda este ano haverá novidades.”

ARTIGOS RECOMENDADOS