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Sérgio Rosado diz que ficou com acne e perto da depressão por causa de Joana Marques

O vocalista dos Anjos garante que até teve de deixar crescer mais a barba para tapar as marcas no rosto.

Poucas vezes na sua história o Palácio da Justiça, em Lisboa, esteve tão animado como esta terça-feira, 17 de junho. É precisamente ali que está a decorrer um dos casos mais mediáticos do ano, depois de os Anjos terem processado Joana Marques por difamação e exigido uma indemnização de um milhão de euros. A sessão em tribunal começou pela manhã com o testemunho de Nelson Rosado. Após uma pausa para o almoço, o julgamento regressou por volta das 14h30.

A segunda parte arrancou logo com um pedido aparentemente simples da advogada da humorista, para que fosse mostrado o vídeo da atuação da boy band, em 2022, durante a cerimónia do 25 de Abril no Autódromo de Portimão — e que esteve na origem de toda a polémica. As imagens foram captadas por Timi Montalvão, a produtora dos artistas, através do telemóvel. 

Antes de o filme ser transmitido na sala de audiências para a juíza, Nelson Rosado recordou todos os presentes de que a apresentação de “A Portuguesa” tinha decorrido num autódromo e, por isso, havia eco. A advogada, porém, disse que se trata de um “vídeo que serviu de base para os pareceres” e que até foi submetido pelos irmãos como prova, segundo os relatos do “Observador”.

Quando as imagens da atuação foram parar à Internet, naquele ano, a dupla recebeu várias críticas por aparentemente ter mudado a letra do hino nacional.  Nelson Rosado garantiu que isso nunca tinha acontecido. “Nós dissemos egrégios”, defendeu no tribunal.

No final deste momento caricato, Sérgio Rosado foi chamado a depor — e também falou sobre o vídeo partilhado por Joana Marques nas redes sociais em 2022. O segundo irmão dos Anjos começou por criticar o facto de haver “cortes” nas imagens, mais especificamente de “uma respiração” que não foi incluída na sátira. “Há uma respiração que é cortada e faz tornar o vídeo um pouco mais hilariante”.

“Somos acusados de não saber a letra. Não transparece aquilo que aconteceu.”

O artista de 45 anos também afirmou que o vídeo partilhado por Joana Marques fez com que os Anjos perdessem popularidade em Portugal, algo com o qual a juíza não pareceu concordar, visto que apontou o facto de, mesmo após esta polémica, o grupo ter mantido um sucesso semelhante ao dos últimos anos. “São factos, confirmo. O ‘Frágil’ [uma colaboração com os Calema] foi um sucesso, sim, mas foi adiado. Perdemos dinheiro.”

A atuação d'”A Portuguesa” terá feito com que a dupla perdesse um contrato de publicidade com a agência de viagens Abreu. “A própria administração convocou uma reunião de emergência a dizer que o projeto é bom, mas que neste momento não pode avançar porque existe muito ruído”, comentou Sérgio Rosado. “As pessoas não se querem associar a uma banda que tem uma polémica”.

O artista acredita que todo o caso poderia ter sido “facilmente resolvido” com um simples convite para o programa “As Três da Manhã”, da Rádio Renascença, apresentado por Joana Marques, Ana Galvão e Inês Lopes Gonçalves.

“Convidavam-nos para ir ao programa da manhã, brincávamos com a situação e era facilmente resolvido. Somos das bandas com mais fairplay que existe. Não somos artistas com milhões de visualizações, somos artistas de espetáculos. Está a ser muito complicado”, reforçou.

Tal como o irmão, Sérgio Rosado garantiu que não tem nenhum problema com o humor, desde que o faça rir — e recordou um momento em que contou uma piada sobre uma pessoa cega num concerto onde, no público, havia um fã invisual. “Não causei danos nessa pessoa”.

O cantor disse ainda que era fã de Joana Marques, pelo menos na altura em que esta estava no Canal Q. “É interessante perceber como mudou a forma de comunicação e a forma de estar em relação à forma de comunicar”.

 
 
 
 
 
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No entanto, em “Altos&Baixos”, o programa que tinha na estação do cabo, Marques também fazia piadas com recurso a vídeos semelhantes — algo que a advogada da humorista fez questão de destacar em tribunal.

Sérgio Rosado acredita também que a comediante teve “uma viragem muito radical” no tipo de conteúdo que realiza. “Não é o tipo de humor que eu goste, mas tenho de respeitar um público que segue a forma como ela comunica.”

Tal como o irmão contou durante a manhã, Sérgio terá tido dificuldades em lidar com o stress provocado pela situação. Enquanto Nelson começou a tomar medicação, este decidiu “fazer uma prova de triatlo” para “não entrar numa depressão”. Paralelamente, teve uma “crise de acne” provocada pela ansiedade. “Fiquei com marcas. Felizmente, tenho a barba crescida para poder tapar”.

O episódio começou também a afetar a sua vida familiar e, agora, diz que luta para que os filhos não pensem que é um “assassino”. “Eu não posso permitir que os meus filhos olhem para mim e pensem: ‘O meu pai é um assassino. Assassinou uma canção’.”

No final da sessão, por volta das 17h30, Manuel Rosado, pai dos Anjos e representante da empresa Angel Minds — que trabalha com os filhos —, foi questionado sobre as receitas de 2022 do grupo Anjos. A juíza pretendia saber se tinham sido muito diferentes do habitual. No entanto, o responsável não soube responder a esta pergunta aparentemente tão simples.

As próximas sessões do caso Anjos Vs. Joana Marques vão decorrer esta quarta-feira, 18 de junho, e no dia 30 deste mês.

Os primórdios do caso

O caso remonta a 2022. Na altura, Joana Marques partilhou um vídeo dos Anjos a cantarem “A Portuguesa”, a que foi acrescentada a reação negativa do painel que compunha o júri do programa “Ídolos”, do qual a humorista fazia parte.

No final da montagem é possível ouvir Tatanka (vocalista dos Black Mamba, outro dos jurados) afirmar: “Assassinar uma música destas, tive de mandar parar”. A descrição inclui apenas uma questão retórica: “Será que foi para isto que se fez o 25 de abril?”. Os músicos, através da sua empresa, Angel Minds – Gestão e Promoção de Espetáculos Lda, exigem uma indemnização de aproximadamente 1,2 milhões de euros.

Quando os cantores interpretaram o hino nacional — antes de uma prova do Moto GP, no Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão, no dia 25 de abril  — foram alvo de críticas e de acusações de terem “arruinado” a canção. Em resposta aos insultos, afirmaram ter enfrentado “problemas técnicos”, referindo uma interferência sonora que provocou uma ilusão fonética nas palavras, adiantou o “Notícias ao Minuto”.

“É um processo que se encontra em tribunal, a sede apropriada para tratar destas situações. Lamentamos ter chegado a este ponto. É grave! Acredito que nos conhecem bem e sabem que não somos pessoas de vingança nem de discórdia. Contudo, foi algo que nos magoou muito, mexeu bastante connosco, assim como com a nossa equipa e as nossas famílias”, disse Nelson Rosado, um dos elementos, à “TV Mais”.

Os cantores enfatizaram que a questão não está relacionada com o programa “Extremamente Desagradável”, destacando que resultou da publicação nas redes sociais e teve “impacto altamente lesivo”. “É importante que as pessoas percebam, de uma vez por todas, que, com muita ou pouca visibilidade, no digital não podem escrever, dizer ou fazer tudo o que querem, nem magoar os outros. Isso é contra os nossos princípios, contra tudo aquilo que defendemos”, afirmou.

Antes de avançarem com o processo em junho, a dupla Anjos tentou obter um pedido de desculpas da humorista, mas sem sucesso, o que os levou a tomar essa decisão. “Fomos educados a respeitar o próximo. Somos pessoas de concórdia e não de discórdia. Não vivemos de escândalos nem queríamos que esta situação tivesse chegado a este ponto. Tentámos de tudo, tudo! Mas do outro lado encontrámos uma posição irredutível. Não tivemos outra alternativa“, conclui.

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