De imperador do R&B a criminoso detestável. A queda de Robert Sylvester Kelly, popularmente conhecido como R. Kelly, foi uma das mais chocantes da história, mas também uma das mais previsíveis — afinal, os problemas começaram a tornar-se públicos ainda nos anos 90. Depois de ter sido condenado em 2021 e 2022 por extorsão, tráfico sexual e pornografia infantil, o rapper está a cumprir uma pena de 30 anos — que tem sido tão difícil quanto seria de esperar.
Na passada sexta-feira, 13 de junho, o cantor de 58 anos foi levado de urgência ao hospital depois de ter sofrido uma overdose de medicamentos na noite anterior. Na altura, os advogados do rapper alegaram que R. Kelly estava em regime de solitária (por questões de segurança) quando os funcionários da prisão de Butner, na Carolina do Norte, o instruíram a tomar uma “quantidade excessiva de medicamento”.
“O senhor Kelly tentou levantar-se, mas caiu no chão. Gatinhou até à porta da cela e perdeu os sentidos”, disseram as autoridades em vários relatórios que se tornaram públicos. A defesa garante que a overdose foi propositadamente provocada pelos guardas, com o intuito de assassinar o rapper.
Não é a primeira vez, porém, que os advogados acusam as autoridades prisionais de tentarem matar R. Kelly. A overdose aconteceu pouco depois de ter sido apresentada uma moção anterior que afirmava que o autor de “I Believe I Can Fly” estava em perigo devido a uma conspiração interestadual que envolveu as autoridades prisionais e o gangue da Irmandade Ariana.
Os advogados chegaram a apresentar uma declaração sob juramento de Mikeal Glenn Stine, líder da Irmandade Ariana, que alegou que as autoridades lhe ofereceram a liberdade da prisão caso matasse R. Kelly. Stine terá inicialmente concordado com o plano, mas depois mudou de ideias e terá confessado tudo ao rapper.
O processo alega ainda que os agentes federais querem impedir Kelly de divulgar informações comprometedoras sobre a má conduta do Departamento de Justiça e do Departamento de Prisões, de acordo com documentos judiciais apresentados em nome do cantor e mencionados pelo “Los Angeles Times.”
As autoridades, por outro lado, negaram esta segunda-feira, 16 de junho, qualquer conspiração contra a vida do artista, que já regressou para o complexo prisional. Segundo o jornal “Sun Times”, consideram o alegado plano “fantasioso”, “sem seriedade” e acrescentaram que este “ridiculariza os danos sofridos” pelas vítimas do “prolífico molestador de crianças”. Numa chamada telefónica com os advogados, Kelly terá chorado e admitido que teme pela sua vida.
Já passou por uma cirurgia e foi espancado enquanto dormia
Em agosto de 2020, enquanto aguardava julgamento no Metropolitan Correctional Center, em Chicago, R. Kelly foi agredido por Jeremiah Farmer, um membro do gangue Latin Kings, que fora condenado no mesmo ano por homicídio.
Farmer conseguiu escapar a um funcionário do estabelecimento prisional, entrar numa cela e bater repetidamente na cabeça de Kelly, de acordo com um relatório do Departamento de Prisões dos EUA. Um agente de segurança usou gás pimenta para travar o ataque.
Na altura, Kelly foi examinado pelo médico da prisão, que determinou que não tinha sofrido ferimentos graves. No entanto, os advogados alegaram que o ataque afetou a sua saúde mental, e fê-lo sofrer de “paranoia e insónia”.
Mais tarde, Farmer revelou que o atacou porque queria esclarecer irregularidades cometidas pelo governo no seu próprio processo criminal. No entanto, outros relatos garantem que o membro dos Latin King estava farto dos constantes lockdowns do estabelecimento (quando os prisioneiros são obrigados a ficar dentro das celas) devido aos protestos à porta da instalação por parte de apoiantes de Kelly.
A saúde física de R. Kelly tem sido um tema importante para os advogados, que alegam que o rapper piorou desde que foi preso. O cantor terá passado por uma cirurgia na prisão para remover coágulos sanguíneos em ambas as pernas, mas alega que esta não foi realizada da forma correta.
Mais recentemente, quando foi levado ao hospital após a overdose de medicamentos, Kelly terá sido informado pelos médicos que teria de passar uma semana internado para tratar dos novos coágulos nas pernas e também no pulmão. No entanto, os guardas prisionais foram buscá-lo “contra a sua vontade” e levaram-no de volta para a prisão.
“A vida do Sr. Kelly está em perigo neste momento porque o Departamento Penitenciário lhe negou a cirurgia necessária para remover coágulos dos pulmões. Ele pode morrer desta condição, e eles estão a deixar que isso aconteça”, lamentaram os advogados.
R. Kelly já terá escrito 25 álbuns na prisão
O vencedor de um Grammy foi condenado em 2021 pelo tribunal federal de Brooklyn por várias acusações, incluindo extorsão e tráfico sexual. Em fevereiro deste ano, recorreu da decisão do Supremo Tribunal, mas nada mudou.
Em 2024, o tribunal superior recusou-se a ouvir um recurso de uma sentença de 20 anos que Kelly recebeu depois de ter sido condenado em 2022 por acusações de sexo com menores, incluindo a produção de imagens de abuso sexual de crianças em Chicago.
O rapper ainda tentou argumentar, insinuando que as “provas do julgamento eram inadequadas, a constitucionalidade de algumas leis estaduais utilizadas contra ele era questionável, quatro jurados eram tendenciosos, o juiz de primeira instância tomou algumas decisões impróprias e uma acusação de extorsão mais comummente utilizada em casos de crime organizado era imprópria”. Mas não lhe valeu de nada. O tribunal norte-americano validou a primeira acusação.
Em março deste ano, R. Kelly deu uma entrevista inédita, que durou sete minutos, ao podcast “Inmate Tea with A&P”. Apesar de todas as polémicas, tem uma única certeza: nunca vai deixar de cantar.
“Cantar é uma doença muito bonita e incurável. Nunca vou deixar de cantar, não importa onde esteja. Escrevi uns 25 álbuns desde que aqui estou”, disse. “Agora, estou a trabalhar para sair daqui e a trabalhar com o talento que Deus me deu.”
Quando foi questionado sobre a rotina na prisão, sobretudo a alimentação, recusou-se a entrar em pormenores. “Não vou dizer que a comida é horrível. Nos dias bons, há comida boa. Noutros dias, é má. Era igual em casa da minha avó”, brincou.
Em novembro de 2024, foi revelado o menu especial que o rapper e outros 388 reclusos receberam para celebrar o Dia de Ações de Graças. O dia começou com um pequeno-almoço composto por papas de aveia quente com bolo ou pão integral com compota e leite magro.
Para o almoço, podiam escolher peru assado com canja de galinha ou frango com molho de soja e legumes. Os acompanhamentos incluíam puré de batata com molho de carne, inhame, feijão verde, milho, molho de arandos, pãezinhos e fruta.
Os reclusos tiveram a oportunidade de escolher também entre uma variedade de tartes de Natal. O feriado terminou com um jantar de sanduíches de manteiga de amendoim e geleia com batatas fritas e fruta.
Um dos advogados do cantor, Beau Brindley, revelou, neste mês de junho, aos jornais norte-americanos que está a tentar obter o perdão presidencial de Donald Trump para o tirar da prisão.
Leia o artigo completo da NiT sobre todas as acusações a R. Kelly.