Música
Tiago Nacarato: “Não esperava ter uma explosão tão grande depois do ‘The Voice’”
A NiT entrevistou o músico que brilhou no programa da RTP há dois anos e que se prepara agora para lançar o álbum de estreia.
O músico portuense vai ter uma tour no Brasil.
Foi em setembro de 2017 que Portugal ficou a conhecer Tiago Nacarato. Já tinham soado alguns acordes da guitarra mas, assim que lhe saíram as primeiras palavras da boca, as cadeiras de três jurados do “The Voice Portugal” viraram-se instantaneamente e ao mesmo tempo para ver o músico.
Tinham passado exatamente 20 segundos desde o início de “Onde Anda Você”, de Vinicius de Moraes e Toquinho, o suficiente para que todos — após Mickael Carreira, Marisa Liz, Aurea, também Anselmo Ralph carregou no famoso botão vermelho — soubessem que queriam trabalhar com ele.
Tiago Nacarato acabou por não vencer essa edição do programa da RTP, mas foi o suficiente para projetar a sua carreira. Desde essa altura que não tem parado de dar concertos de norte a sul do País — num alinhamento que mistura temas originais e covers, e que já o tornou popular no Brasil.
Nacarato, claro, tem um grande ligação com o país da América do Sul. Apesar de ter nascido e crescido no Porto, os seus pais são brasileiros e sempre ouviu imensa música brasileira em casa.
Neste momento, o músico está a preparar o seu primeiro álbum, que poderá sair já durante este mês de setembro. Antes, Tiago Nacarato vai atuar esta quinta-feira, dia 5, no Festival F, em Faro. Leia a entrevista da NiT.
Tornou-se mais conhecido quando participou em “The Voice Portugal”, mas já vai algum tempo. Entretanto começou uma carreira de sucesso, com muitos concertos em todo o País. Era isto que esperava depois do impacto que teve no programa da RTP?
É um pergunta difícil, porque é um processo em construção. Ou seja, aquilo aconteceu, mas antes eu já tinha contacto com alguns músicos importantes — alguns dos quais eram da minha agência. Mas, para ser sincero, não esperava assim uma explosão como foi. Não pensava sequer que ia chegar ao Brasil com tanta força.
Mas tinha noção de que o “The Voice Portugal” lhe ia dar uma projeção assim tão grande?
Sim, acreditava que a televisão fosse um meio de comunicação muito forte na nossa sociedade — e por isso acreditava que as pessoas, por curiosidade, fossem aos concertos. Mas assim com uma continuidade tão grande… datas esgotadas, tanto cá como no Brasil, isso não. Já lá vão dois anos. Tem sido muito bom, o público tem-me recebido muito bem, com casas muito cheias. Além de ter muita atenção, com a nomeação para o Globo de Ouro, ou por passar na rádio. Isso tudo tem sido uma surpresa grande para mim.
Tem mudado muito a sua vida no dia a dia?
No início, por ainda estar fresco na memória geral das pessoas… Gostem ou não, elas reconhecem-te porque apareceste na televisão. E isso interferia na minha vida quotidiana, porque andava na rua e era constantemente interrompido para tirar fotos, para conversar, enfim. Mas à medida que foi passando e as pessoas se foram esquecendo, o quotidiano agora já é o mesmo que antes. Claro que ainda há pessoas que me reconhecem, mas são menos.
Nas últimas semanas deste mês de setembro vai ter uma tour no Brasil. Obviamente que o Tiago tem uma ligação muito especial e pessoal com o Brasil. Por isso é que também era importante para si fazer lá carreira?
Acho que não só para mim. Claro que há esse lado poético de os meus pais serem brasileiros e de eu absorver muito da arte deles, tanto da música como do cinema. Mas acho que para qualquer músico é importante entrar num mercado com tanta gente, com tantos consumidores. Esse, sim, é o grande passo. Acho que Portugal tem muita qualidade na música que faz, e temos de começar a juntar-nos para arrancar com força lá para fora. Não podemos ficar só aqui, em Portugal.
Tocar no Brasil ou em Portugal é muito diferente?
É muito diferente, aquilo é gigantesco. Até porque, apesar de a língua ser a mesma, há uma forma cultural muito diferente na maneira de se viver. E também a maior parte das coisas que eu canto que não são originais, é um trabalho que faço de revivalismo, no sentido em que o meu pai é músico e eu toco as músicas que ele tocava — coisas quando eu era mais novo, como o Cartola, o Tom Jobim… Aqui no Porto a cultura do samba até é forte, mas no resto do País não. Por isso é diferente tocar cá ou no Brasil.
Como estava a dizer, houve uma explosão da sua carreira e a tendência é para continuar a crescer. Tem sonhos muitos concretos ou é mais de deixar acontecer?
Tenho sonhos muito concretos mas disfarçados de uma filosofia de vida de deixar acontecer [risos]. Tenho um plano, mas não deposito todas as minhas expetativas… Mas, por exemplo, já aconteceu a cena de gravar com o Salvador Sobral. Não era um plano, mas era uma projeção que tinha feito, “esta merda vai acontecer”. E depois, quer queira, quer não, tu moves-te. Fazes uma canção que se calhar combinaria com ele e de uma maneira involuntária — porque nunca falei com ele com esse intuito — acabei por o conhecer e ele gostou muito de uma canção minha. Depois fomos tocar, ficámos super amigos e gravámos o tema.
Também tem o plano disfarçado de tocar com alguns dos tais músicos brasileiros que são referências?
Eu tive a sorte de, por causa deste boom no Brasil, alguns desses músicos aceitarem tocar comigo e até gravarem. É o caso do Paulinho Moska, um ícone da música brasileira, que tocou comigo no ano passado no Rio de Janeiro, vai tocar outra vez este ano e gravámos um tema meu. Mas, claro, adoraria cantar com o Caetano Veloso. Para mim é o grande nome da música brasileira. Já tive o prazer de jantar com ele, mas não é a mesma coisa que dividir um palco. Também não sei se ele terá muitos mais anos de vida, mas parece-me que sim, por isso ainda pode acontecer [risos].
Como é que tem sido para os seus pais ter este reconhecimento todo no Brasil?
Foi incrível. Quando eu fui lá tocar [no ano passado], a minha mãe convidou os amigos de infância todos, a família, e para ela acho que deve ser interessante e deve ter orgulho do filho. Sei lá, não sei muito bem. Não falo muito sobre isso com eles, mas sinto que há um orgulho acrescido.
Tem músicas com o seu sotaque português, mas também algumas com um sotaque mais brasileiro. É algo que quer explorar, essa dualidade?
Cada vez menos quero fazer canções com sotaque brasileiro. Mas realmente era uma coisa que me surgia com muita naturalidade, porque ouvia e ainda oiço muita música brasileira. Se calhar no meu primeiro disco vou ter seis canções em português de Portugal e seis em português do Brasil, mas talvez no próximo só tenha uma. É essa a tendência. Acho que o momento da música portuguesa está muito em altas e é importante levarmos a nossa língua.
Falando desse disco, ele vai ser lançado nos últimos meses do ano?
Não, ele está para sair, não tem uma data certa mas acho que vai sair este mês ainda. Estamos a fechar só algumas coisas e, por vontade minha, lançaria este mês. Quero muito que saia este mês. Mas não tenho a certeza de nada.
Como foi o processo de composição?
Foi a minha vida toda como músico até agora. Há músicas que fiz há muito tempo, coisas que fui buscar à gaveta, aquela que gravei com o Paulinho Moska fiz há quatro ou cinco anos. Mas a maior parte foi pós-“The Voice”, tinha a necessidade de ter composições novas. Fui fazendo canções, porque se aprende a fazer e chamei o disco de “Lugar Comum”. Sou eu próprio um “Lugar Comum” entre as canções que são tão díspares a nível estético. E também porque a música consegue juntar pessoas de faixas etárias diferentes, de estratos sociais diferentes, e ter essa magia. A música como entidade que une esta gente toda.