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Tina Turner, a Rainha do Rock ‘n’ Roll que é o epítome do girl power

Contra todas as circunstâncias, nunca se vitimizou nem deixou de ir à luta. No fim, venceu sempre. Leia a crónica de Nuno Bento.

O mundo chora a perda das melhores pernas do planeta. Mas Tina Turner era tão mais que apenas um par de Hot Legs – uma figura única, quase de desenho animado, dona de um brilho fulminante, e uma voz tão potente que fazia tremer o chão, Tina era um dínamo humano, uma força da natureza. O dínamo parou, mas a sua voz vai reverberar para sempre.

Tina passou por uma infância traumática e um casamento violento com Ike Turner, que culminou numa separação turbulenta que quase lhe pôs um ponto final na carreira musical. Tina era uma tough bitch e nunca mostrou sinais de fraqueza. Após anos de luta intensa para pagar dívidas, Tina embarcou numa carreira a solo extremamente bem sucedida e tornou-se numa lenda em nome próprio.

O sucesso ao lado de Ike nos anos 60 e 70, com hits que ainda hoje ressoam como “Proud Mary” e “River Deep Mountain High”, foi completamente eclipsado nos anos 80 quando, já libertada das amarras do marido, desabrochou numa das maiores super-estrelas internacionais do mundo da música.

A sorte que lhe faltara no passado começou a bater-lhe à porta. Tina teve as pessoas certas com as canções certas à sua volta, para poder finalmente mostrar o seu valor. Em 1984, Mark Knopfler dos Dire Straits ofereceu-lhe um tema chamado “Private Dancer”, que mudou a maré da sua carreira (não fazia muito sentido ouvir Knopfler cantar sobre a vida de uma stripper).

Na interpretação de uma vida, que quando sobe de tom no refrão deixa um arrepio na espinha, Tina mostrou que ainda mal tinha começado. O tema daria nome ao álbum que foi o gatilho que fez disparar a sua carreira a solo para um nível estratosférico. O single “What’s Love Got To Do With It?” levantou voo e de repente, toda a gente queria Tina.

Numa década de duetos e sinergias, Tina protagonizou algumas das mais superlativas colaborações da história da música, quando juntou forças com nomes como Bryan Adams (“It’s Only Love”), Eric Clapton (“Tearing Us Apart”), ou David Bowie (“Tonight”). Todos reconheciam Tina como a Rainha do Rock (vejam a foto em baixo, tirada no Prince’s Trust de 1986). Título que ainda lhe é irrevogável.

O final dos anos 80 trouxe-lhe a unanimidade merecida, e com ela vieram os milhões de discos vendidos, as digressões em estádios (na época chegou a bater o recorde de bilhetes vendidos dos Rolling Stones) e a loucura por onde pisava o chão que fazia tremer com a sua voz. Depois chegaram os anos 90 e os hits continuaram, primeiro com “I Don’t Wanna Fight” e depois, com um tema que uns tais de Bono e The Edge escreveram para o filme que havia de ressuscitar a saga de James Bond.

De ressurreições artísticas percebe Tina e “GoldenEye” foi o veículo perfeito para promover o filme nas rádios de todo o mundo. É até hoje, na minha opinião, o melhor tema de sempre dos filmes de James Bond, e foi o mais que merecido corolário de uma carreira feita de muita luta, tantas vezes contra todas as probabilidades.

É por isso que Tina Turner é, para além de uma voz ciclónica, um símbolo de perseverança e superação na vida. Nunca se vitimizou, nunca se deixou derrotar, nunca deixou de ir à luta. No fim, venceu sempre. Tina era o epítome do girl power, e o epítome do que é ser cool. Por mais extravagante que fosse o penteado ou a indumentária, ficou por conhecer um dia em que Tina não parecesse espectacular. Foi, e continua a ser, uma inspiração para artistas de todo o mundo. Se há prova que é possível triunfar na vida independentemente das circunstâncias, só com a força arrebatadora da vontade, ela dá pelo nome de Tina Turner. A eterna Rainha do Rock ‘n’ Roll.

P.S.: Para relembrar a Tina, nada melhor que uma playlist com os seus maiores hits e as suas melhores colaborações:

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