Aos 37 anos, Jack Nicholson era uma das grandes estrelas de Hollywood e preparava-se para ser o grande protagonista do novo filme do igualmente célebre e seu amigo pessoal Roman Polanski. A estreia de “Chinatown” foi tudo menos pacífica, pelo menos para Nicholson, que viu todo o passado familiar ser transfigurado por uma surpreendente revelação.
Apesar de estar há uma década sem brilhar em qualquer produção — já tem, afinal, 83 anos —, consta que não terá entrado na reforma. Havia até planos para ser protagonista numa reedição de “Toni Erdmann”, em 2017, mas acabou por desistir do papel.
Conhecido como um dos grandes sedutores da indústria, a bipolaridade de Nicholson tornava-o no alvo preferido da imprensa — uma característica que marcava as suas personagens, sempre no limiar da acalmia e da loucura. E foi precisamente num longo perfil da “Time” que os jornalistas, durante a longa investigação de preparação do artigo, fizeram uma descoberta chocante.
Durante mais de três décadas, Jack Nicholson viveu uma mentira. De repente, quase na casa dos 40, o ator descobria que John e Ethel May, os seus pais, eram afinal os seus avós. June Nicholson, a irmã de uma vida, era a sua mãe biológica. A outra irmã, Lorraine, era então a sua tia.
O abanão à árvore genealógica deveu-se a uma atribulada história na década de 30, altura em que a sua mãe June era uma dançarina de cabaré e sonhava em ser, também ela, uma estrela. Nunca o conseguiu.
Engradivou apenas com 17 anos e viria a casar-se com Donald Furcillo, que até à sua morte reclamou ser pai do ator — algo que Nicholson nunca reconheceu ou assumiu. Sem pai biológico identificado, os rumores foram inevitavelmente surgindo. Muitos suspeitam que o seu verdadeiro pai poderá ser Eddie King, que a certa altura foi agente da mãe. Se June sabia quem era o pai, nunca o revelou.
À época, a gravidez seria um escândalo, até porque Furcillo já era casado com outra mulher. Para que tudo ficasse dentro da família, John e Ethel decidiram criar Jack como se fosse o seu próprio filho — e todos combinaram que o segredo nunca lhe seria revelado.
June saiu de casa quando Jack tinha apenas quatro anos. Mudou-se para Miami e eventualmente para Los Angeles, à procura de uma forma de se tornar famosa no mundo do cinema. Aos 17 anos, Nicholson decidiu que também queria tentar, fez as malas e foi atrás dela. “Já que a pouca família que tinha era a June, e ela estava lá, decidi ir dar uma vista de olhos”, revelou em 1986 à “Rolling Stone”.
A revelação feita pela “Time” acabou por chegar em 1974, tarde demais. June morreu em 1963, vítima de cancro, mas ainda teve tempo para ver o filho tornar-se num ator conceituado. Ethel, a avó, morreu em 1970.
A revelação feita ao telefone pelo jornalista foi um choque. “Um gajo ligou-me e disse-me que o meu pai ainda está vivo, que a Ethel não era realmente a minha mãe, que era a June. Esta foi a coisa mais lixada que alguma vez ouvi”, terá dito ao cunhado imediatamente após lhe ter sido revelado o segredo, segundo a biografia “Jack’s Life”. Lorraine, a irmã que afinal era tia, confirmou toda a história ao telefone.
Apesar de caracterizar a revelação como “dramática”, Nicholson mostrou ser pragmático. “Não foi propriamente traumatizante”, revelou. “Fiquei muito impressionado com a capacidade deles de manterem o segredo”.
O que ficou por revelar foi mesmo a verdadeira identidade do pai. Seria Eddie, Don ou outro homem não identificado? A verdade é que Don Furcillo manteve a intenção de assumir a paternidade até à morte, em 1998, altura em que pediu à filha para continuar a tentar legitimar a situação.