“Um humorista tem de ser multiforme”, escreveram no catálogo da primeira exposição individual de Almada Negreiros, em 1913. Esta frase é lembrada por Mariana Pinto dos Santos, a curadora da exposição do artista que começou a 3 de fevereiro na Fundação Calouste Gulbenkian. Foi um artista plástico, performer, cenógrafo, ator, escritor e bailarino – mas estas nomenclaturas não chegam para conter a extensão da criação de Almada Negreiros nem para conter o conceito de modernidade na qual ela se inscreve. A variedade da produção de Almada é mostrada na Gulbenkian até 5 de junho.
A exposição “José de Almada Negreiros: uma maneira de ser moderno” estende-se por duas salas – na Galeria Principal e na Galeria do Piso Inferior da Sede da Fundação. Está dividida em oito núcleos, que sugerem um percurso pelo seu trabalho através de temas que se querem fluidos e intercomunicantes, sem divisões estanques cronológicas e sem hierarquias entre as diversas linguagens artísticas que se podem aí encontrar.
A diversidade de formatos com que trabalhou é surpreendente. Os visitantes podem ver obras a óleo, grafite, tinta-da-china, gesso, obras literárias, pinturas em mural, narrativa gráfica, ilustração, azulejo, e um vitral, que como muitas outras obras, é inédito. Inédita também é a lanterna mágica “O Naufrágio da Ínsua” de 1934, obra com 64 desenhos que causa a surpresa do visitante.
Almada Negreiros fez parte de um movimento de revolução cultural em Portugal, tendo impulsionado a introdução da modernidade nas letras e artes. O artista esteve ligado à revista Orpheu, de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, na qual colaborou com poemas e teve um papel na componente artística da revista, insistindo para que fosse mais do que literária. Com Santa-Rita Pintor, provocou a vida urbana de Lisboa em manifestações futuristas. A exposição vai levá-lo pelas pesquisas de Almada pela matemática e geometria, pelas várias obras concebidas para edifícios públicos e privados, pela narrativa gráfica, pelo cinema e pelo auto-retrato (que é uma componente importante do seu trabalho). O programa inclui ainda outras atividades complementares, como a peça de teatro da autoria de Almada Negreiros, “Antes de Começar” e um concerto com a reconstituição de um espectáculo de lanterna mágica concebido por Almada para a música do compositor catalão Salvador Bacarisse, desempenhado pela orquestra Gulbenkian.
Pode visitar a exposição “José de Almada Negreiros” entre as 10 e as 18 horas. A Fundação está aberta todos os dias, excepto às terças-feiras. O bilhete inteiro custa 5€; fica a 4€ para portadores de LX Card; e a 2,50€ para jovens e seniores. A entrada é gratuita para crianças até aos 12 anos.