Animais gigantes feitos com plásticos reciclados e outros materiais são a imagem de marca de Bordalo II. Contudo, as suas criações não são monotemáticas. Na quarta-feira passada, 16 de agosto, partilhou uma nova intervenção na sua página de Instagram que se destaca pela diferença.
O artista pintou vários sinais rodoviários que indicam a direção do Campo Pequeno, em Lisboa, com tinta vermelha. A intervenção foi feita precisamente na parte da sinalética com o símbolo de um toureiro com o touro.
Além de várias imagens, Bordalo II partilhou um vídeo que mostra o momento em que usou a lata de tinta para tapar a imagem. “Anti-tourada”, escreveu na descrição. “Que o Campo Pequeno sirva apenas para espetáculos não barbaro-labregos.” Como sempre, a peça aliou o seu tom provocatório aos materiais pouco convencionais para passar uma mensagem.
Os símbolos de tourada foram repostos nos sinais rodoviários quatro anos depois de, em 2019, Fernando Medina os ter alterado a pedido do PAN. A solução passou por tapar o símbolo com um quadrado de vinil branco.
Inês Sousa Real, líder do PAN, em declarações à SIC, diz que o partido já solicitou uma reunião com o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e pediu um esclarecimento acerca da reposição das imagens presentes nos sinais. “Muito nos espanta uma cidade, com um provedor do animal, que se diz de respeito pela vida animal, esteja agora a promover a tauromaquia”, refere a líder partidária.
“Vamos continuar a trabalhar para haver abolição [da tauromaquia] e para que a praça de touros seja reconvertida”, diz, lamentando o “retrocesso”.
Entretanto, a publicação de Bordalo II acumula mais de 31 mil likes e está a dividir opiniões. “Isto é um verdadeiro ato repugnante de vandalismo, que menospreza a nossa tradição e história! O respeito pelas raízes culturais é fundamental, e isto é inaceitável e vergonhoso!”, escreve um utilizador. Outro questiona: “Danificar equipamento público. Agora vais pagar a limpeza, é isso?”
Muitos seguidores não demoraram a criticar Bordalo II, dizendo que a ação do artista não passou de um mero ato de vandalismo e que, por isso, deve ser punido. Por outro lado, outros saíram em defesa do artista plástico e elogiaram a ação.
“Falamos todos, mas poucos têm a tua coragem, obrigada por falares por todos nós. CHEGA”, comentou uma seguidora. “O [Carlos] Moedas não tem descanso”, apontou o humorista Diogo Faro. “Que seja um artista como tu a acordar os políticos deste país! Continua!!”, pode ler-se noutro comentário.
Esta não é a primeira vez que o artista se posiciona contra a tauromaquia. Já em 2021, Bordalo tinha-se protestado contra as touradas, num momento de homenagem a João Moura. Escreveu um enorme “não” à entrada da mesma praça de touros. “Não, tourada, não”, acrescentou. “A tinta é fácil de apagar, mas a ideia fica entranhada nas pedras da calçada, é a evolução dos tempos, habituem-se.” A intervenção foi, na época, uma crítica à homenagem ao toureiro João Moura, que na altura era suspeito de crimes por maus-tratos a animais (crimes esses pelos quais será julgado em setembro).
Bordalo II também já fez obras que abordavam outros problemas sociais como os abusos sexuais na Igreja ou a igualdade de género. Leia também a entrevista da NiT ao célebre artista português, que fez recentemente uma exposição a solo em São Paulo, a maior cidade do Brasil.
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