Teatro e exposições

Bruno Duarte: o bailarino português que já participou em 3 produções da Netflix

Só começou a dançar aos 16 anos e poucos acreditaram nele quando decidiu mudar-se para Londres. Dois meses depois estava nos MTV EMA.
Bruno Duarte tem 27 anos.

Quando perguntavam à turma do curso de Ciências Forenses e Criminais quem não queria seguir aquela profissão, Bruno Duarte era dos poucos que levantavam a mão. “Quero ser bailarino”, dizia o jovem de Almada, para espanto dos professores. “Na altura, muitos riam-se e perguntavam o que estava ali a fazer.”

Hoje, aos 27 anos, Bruno Duarte é um dos principais bailarinos portugueses — tendo já uma prolífica carreira internacional, que continua a consolidar. A 17 de março, a Netflix estreou a competição “Dance 100”, que conta com o bailarino português como um dos protagonistas.

“Consiste numa competição entre oito coreógrafos pelo título de next superstar choreographer e um prémio de 100 mil dólares. É a única competição de dança alguma vez produzida em que os bailarinos decidem quem passa e quem é eliminado. Todas as semanas há diferentes desafios e o número de bailarinos por coreógrafo duplica. Até à final, em que cada coreógrafo terá de apresentar duas peças — uma com 50 bailarinos e outra com 100”, explica Bruno Duarte sobre o programa.

“Este conceito de ter os bailarinos como protagonistas era inédito. Foi muito gratificante estar envolvido numa série assim porque trabalhamos bastante, todos os dias para sermos melhores e estarmos sempre a evoluir. Investimos muito dinheiro e tempo na nossa formação para conseguirmos chegar a grandes palcos — e quando lá chegamos nem sempre o nosso mérito é reconhecido, porque normalmente somos bailarinos de apoio, dançamos atrás do artista. Poder ser um dos bailarinos escolhidos para protagonizar uma série da Netflix é extraordinário. Algo com que sempre sonhei”, conta.

Acima de tudo, Bruno Duarte sempre foi um atleta. Fez ginástica quando era miúdo, jogou ténis, fez natação de competição e esteve numa equipa de basquetebol. Na adolescência foi o melhor marcador do seu clube de futebol, o Beira Mar Atlético Clube de Almada. “Sempre soube que o meu futuro não iria passar por ficar sentado a uma secretária. Sempre soube que faria algo relacionado com atividade física. Sabes aquele miúdo irritante que é bom a tudo nas aulas de Educação Física? Eu era esse rapaz [risos].”

A dança também é uma paixão antiga, embora só se tenha revelado mais tarde. “Os meus pais sempre me mostraram os videoclipes do Michael Jackson, essa foi a minha primeira influência. E sempre acompanhei a MTV, os vídeos do Usher, do Justin Timberlake. Lembro-me de que a minha mãe me deixava mais cedo na escola primária porque ela entrava às oito da manhã e eu ficava com o meu melhor amigo da altura a ver a MTV e a tentar imitar os passos de dança dos videoclipes.” 

Aos 16 anos, assistiu a um espetáculo de dança da NEXT — coletivo de dança próximo do estilo hip hop que tem uma escola em Almada. “Fiquei: uau, é isto que quero fazer, tenho de experimentar. Lembro-me de na altura tentar convencer os meus pais, eles não estavam assim muito convencidos de que queriam pôr o filho na dança, porque ainda existia muito o tabu de que rapazes que dançam… E assim que experimentei foi amor à primeira vista. O sentimento que tive foi único, de me poder expressar sem falar, e de poder sentir tudo de uma maneira tão bela. Desde esse dia que nunca mais parei e sempre soube que era o que queria fazer da vida.”

Começou por ter duas aulas por semana e foi aprimorando a técnica. Aos 18 anos, quando entrou na faculdade no tal curso de Ciências Forenses e Criminais, já dava algumas aulas e fazia trabalhos pagos. “Os meus pais meio que me obrigaram a fazer um curso superior [risos]. Mais tarde, percebi a posição deles. Mas na minha cabeça nunca houve um plano B, a dança sempre foi o plano A, sempre soube que era aquilo que queria e aquilo que ia seguir. Após acabar o curso, aos 21 anos, mudei-me para Londres e foi aí que a minha carreira realmente deu um pulo gigante.”

Menos de dois meses depois de se mudar para Londres, a capital britânica, atuava na gala dos MTV European Music Awards (EMA). “Era o meu sonho número um. Ainda antes de começar a dançar, todos os anos via os prémios e pensava sempre: adorava estar naquele palco um dia. E passado um mês de me mudar para Londres consegui o trabalho da minha vida, e fiquei bastante surpreendido. Porque sabia que ainda estava longe de chegar ao nível a que poderia chegar enquanto bailarino, e conseguir logo um trabalho daqueles deu-me um boost gigante em termos de confiança. Fiquei com a certeza que, a partir dali, era uma questão de tempo até conseguir o resto.”

Bruno Duarte num espetáculo.

Em Londres, mesmo quando esteve alguns meses sem trabalhos, nunca parou de treinar nem pensou em desistir. Praticava entre quatro a cinco horas por dia — em casa, mas também em parques ou em espaços espelhados — além dos treinos físicos. “Sempre vi aquilo que fazia como um trabalho. Ou seja, acordava cedo, tomava um bom pequeno-almoço, treinava, alongava, dançava, aprendia coreografias, coreografava.”

Estava determinado a concretizar os seus sonhos, mas hoje admite que “não estava pronto para tudo”. “Tive de lidar muito com o ego, perceber que temos sempre de continuar a trabalhar para sermos os maiores e continuar a evoluir. Os primeiros meses em Londres fizeram-me perceber isso e mudei o meu mindset. Estava numa cidade com muitas oportunidades mas tinha de estar pronto para elas — e na verdade não estava. Na altura tive uma ex-namorada que me disse que eu era obcecado pela dança. Ri-me e de facto era, e continuo a ser, mas tive que filtrar essa obsessão para a tornar numa paixão. E tive de enfrentar aquela pressão que coloquei a mim próprio: sair do País, ser bem-sucedido. Queria provar a todos os que não acreditaram em mim, que estavam errados, que ia conseguir. E tive de aprender a lidar com a rejeição, porque no nosso trabalho vamos a muitos castings mas ouvimos muitos ‘nãos’. E também andava à procura do tipo de bailarino que queria ser. Porque saí de Portugal a querer mais, mas nem sabia o que era esse ‘mais’. A minha auto-confiança mudou, o meu mindset também, já não ia para os castings a pensar ‘eu quero este trabalho’. Era mais ‘vou mostrar o meu talento e a pessoa que sou, e se eles me escolherem boa, se não escolherem boa na mesma, é porque não era para mim’.”

Profissionalizou-se cada vez mais e começou a ter trabalhos regulares. Deu aulas e fez uma tour de 30 dias com 27 espetáculos pela Alemanha, Áustria e Suíça — numa performance de tributo a Tina Turner que só tinha três bailarinos no elenco. Em 2018, quando Lisboa recebeu a Eurovisão, atuou com Mariza no palco da Altice Arena. 

Curiosamente, iria reencontrar vários dos concorrentes do concurso europeu pouco tempo depois, nas gravações do filme “Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga” (2020), que foi o seu primeiro trabalho para a Netflix. “Poder conhecer um pouco o Will Ferrell e a Rachel McAdams… São atores que desde pequeno conheço da televisão. Foi um pouco surpreendente estar com eles na mesma sala.” Bruno Duarte apareceu enquanto bailarino na performance sueca da história.

Bruno Duarte na atuação de tributo a Tina Turner

Depois de três anos em Londres, em 2021 mudou-se para Varsóvia, a capital da Polónia, após se ter apaixonado. “Na altura da pandemia conheci o amor da minha vida e decidi que isso era mais importante do que a minha carreira e mudei-me para Varsóvia.” Foi lá que conseguiu outro trabalho para a Netflix, ao participar na minissérie “Queen”. 

“Foi um projeto bastante diferente e que me deixou bastante orgulhoso. Não só por ser mais uma produção da Netflix, mas também pelo facto de abordar certos temas tabu, já que na Polónia ainda se sofre muito com questões relacionadas com os direitos humanos: homossexualidade, aborto, etc. Foram buscar o ator mais conhecido da Polónia, o Andrzej Seweryn, e fizeram dele drag queen. Só essa ideia, poder participar numa série que aborda esses temas, que tinha como objetivo chocar as pessoas com aquela mentalidade que já não deveria existir…” Bruno Duarte apareceu como um dos bailarinos que participava na performance do protagonista.

Na Polónia fez também anúncios publicitários para marcas como a Adidas e a Martini, além de dar aulas. Quando vem a Portugal, faz sempre questão de organizar alguns workshops. Não só quer ensinar movimentos de dança, como ambiciona inspirar jovens portugueses a seguirem a carreira de bailarino, mostrando que é possível viver da dança e construir uma carreira internacional.

“Acho que fiz coisas que nenhum outro bailarino em Portugal conseguiu fazer. Isso deixa-me sem palavras. Mas gosto de estar sempre a desafiar-me, a evoluir. Se me perguntares se consegui alcançar todos os sonhos que tinha enquanto bailarino, sim. De facto, quando decidi ser bailarino profissional, estava no meu quarto, quase com 18 anos, a pensar se conseguiria fazer disto carreira. E lembro-me de fechar os olhos e imaginar: o que é que posso conquistar para conseguir afirmar que sou um bailarino de sucesso? E lembro-me de imaginar uma série de dança, uma tour, os MTV EMA. E consegui de facto alcançar todos os meus sonhos e isso deixa-me mesmo muito feliz.”

Agora, deseja focar-se mais nas suas criações. Pretende coreografar digressões e também está a enveredar pela área de direção artística e criativa no meio da publicidade. “Tudo acaba por dar certo, mais cedo ou mais tarde. Ter preocupações ou pensamentos excessivos sobre o futuro, por vezes, é inevitável, mas é algo possível de controlar através do treino da mente e o foco da energia. Existem infinitas possibilidades positivas. Quando o foco são energias de abundância, alegria, gratidão, amor, a nossa energia irá de encontro a tudo o que possui esse tipo de frequência — e é aí que a magia acontece”, acrescenta, sublinhando que era inevitável não deixar uma mensagem positiva e de incentivo para todos aqueles que desejam seguir os seus sonhos.

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