Gabrielle Bonheur Chanel nasceu em 1883, numa pequena cidade do noroeste francês. O primeiro contacto com a costura aconteceu no internato onde cresceu e foi precisamente esse o seu primeiro ofício em idade adulta. Chegou mesmo a abrir uma loja de chapéus em Paris chamada Chanel Modes, que muito sucesso fez entre a burguesia da capital. Não demorou muito até lançar também uma coleção de roupa casual. Sem adivinhar, Coco (como era conhecida entre as pessoas próximas) começava a dar os primeiros passos daquela que se tornaria uma das maiores marcas do mundo da moda no século XX.
A designer acabou por dominar a alta-costura francesa durante quase seis décadas, sendo ela própria um símbolo de elegância que ainda hoje inspira as fashionistas. As suas criações vestiram várias atrizes, cantoras e personalidades importantes da época, como Brigitte Bardot, Grace Kelly e Jacqueline Kennedy, que assumiam ser fãs do estilo de Coco. Conhecida pelas ideias revolucionárias, que vieram alterar a forma como muitas mulheres se vestiam, com menos desconforto e mais vaidade e liberdade, Chanel foi também responsável por popularizar a utilização do preto, até então muito ligado a situações de luto.
Além da moda, Coco Chanel impactou também a indústria das fragrâncias, ao lançar, na década de 20, o Chanel No.5. um dos perfumes mais famosos do mundo e que veio consolidar a força da marca. Quem não se lembra que Marilyn Monroe chegou a afirmar que dormia sem nada, apenas com duas gotas deste perfume?
A designer morreu em 1971, mas deixou um vasto legado que ainda hoje é seguido e respeitado pelos diretores criativos à frente da marca. No entanto, para além da moda, também a vida da francesa despertou sempre muita curiosidade e alguma polémica. Teve várias relações amorosas, com homens e mulheres, e manteve também uma ligação próxima a oficiais nazis, durante a Segunda Guerra Mundial.
Seja ou não fã do estilo e da pessoa, uma coisa é certa: a vida de Coco Chanel foi intensa. E é precisamente esse o mote da nova exposição presente do Centro Cultural de Cascais. “Coco Chanel, Além da Moda” é uma mostra inédita em Portugal, com inauguração marcada para este sábado, 20 de julho. Promovida pela Fundação D. Luís I, com o apoio da Câmara Municipal de Cascais, está inserida no âmbito da programação do Bairro dos Museus e poderá ser visitada até dia 3 de novembro.
Parte do percurso desta incomparável designer de moda francesa é contado a partir de fotografias pessoais, de obras de arte representativas do meio artístico de Paris no século XX, e de peças de vestuário, que ostentam a emblemática camélia, flor símbolo da marca fundada por Coco Chanel há mais de um século.
A mostra pretende aproximar o público do universo de Coco Chanel, através da exploração de uma de suas facetas menos conhecida: a de mecenas e musa de artistas que eram seus contemporâneos.
“Para além do seu brilhante trabalho como revolucionária das tendências estéticas, este é um aspeto cuja importância é indiscutível e que a relaciona diretamente com o desenvolvimento das vanguardas do século XX. Ela não foi apenas mecenas, mas foi também uma musa e, o que é ainda mais importante. Tornou-se uma figura chave na transformação do que estava formalmente estabelecido até então, transcendendo as fronteiras da moda”, refere a curadora da exposição, Maria Toral, doutorada em Belas Artes.
No Centro Cultural de Cascais vai, assim, encontrar imagens de fotógrafos como André Kertesz, Man Ray e François Kollar — incluindo alguns dos retratos mais icónicos de Chanel e cenas do seu lendário apartamento no Hotel Ritz de Paris.
A preencher o espaço estão também obras de Salvador Dalí (que desenhou o frasco do perfume Chanel nº 5), esculturas de Apel.les Fenosa, pinturas de Tamara de Lempicka, Óscar Domínguez e Josep María Sert, e litografias e águas-tintas de Pablo Picasso. A exposição integra ainda uma seção sobre a moda da época, com referências a nomes como Elsa Schiaparelli e Madeleine Vionnet, também elas criadoras cuja influência transcende a passagem do tempo.
“Chanel, além da moda” apresenta, ainda, peças de vestuário da Maison Chanel, como os clássicos sapatos bicolores de salto raso, malas com alças de corrente (uma inovação introduzida por Coco Chanel), vestidos, conjuntos de tailleurs e saias e casacos de tweed, criações das últimas décadas que ilustram o estilo criado por Coco Chanel e que evidenciam o carácter intemporal das suas criações e a influência duradoura do império que construiu.
A exposição está aberta ao público de terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas (última entrada às 17h40). O bilhete custa 5€ (com acesso a todas as exposições patentes no CCC), 15€ (com acesso a todos os equipamentos do Bairro dos Museus durante 24 horas), ou 25€ (com acesso a todos os equipamentos do Bairro dos Museus durante 72 horas).
