Teatro e exposições

Embaixada dos Açores: “Portugal Continental poderia aprender a ser mais autónomo”

O convidado desta semana da rubrica de Luís Filipe Borges é Frederico Amaral, ator de "I Love It" e da peça "O Amante do Meu Marido".
Foi uma das estrelas de "I Love It".

Lembro-me da primeira vez que nos cruzámos, por mero acaso, nas ruas de Ponta Delgada em noite de sair — sexta ou sábado, pouco importa. Aquela empatia imediata de dois açorianos a fazer pela vida em Lisboa, trazendo alguma notoriedade para a nossa terra amada, estabeleceu-se.

Fiquei com um torcicolo só de conversar uns minutos com este amável gigante, na altura a protagonizar a sua primeira grande produção (“I Love It”). Divertido, simpático, humilde, perguntou-me se não me importava de entrar com ele numa discoteca onde “tinha mesmo de ir”. Claro. E assim aconteceu.

Não me lembro do nome do sítio, mas perdi-o na multidão segundos após passarmos a porta. Era uma presença contratada e o Frederico Amaral, amado pelos conterrâneos, teve a modéstia de não mo confessar antes. Daí para cá, sempre que nos encontramos, parecemos velhos amigos — o micaelense e o terceirense que podem passar anos sem se verem, mas têm de pronto temas de conversa. 

Entre a comédia e o drama, a TV e o cinema, o Frederico desenvolve um percurso consistente, versátil, de uma solidez a toda a prova. Ainda não trabalhámos juntos, mas é inevitável que aconteça. Com a sua mulher, a atriz Marta Andrino, desenvolveu um projeto de turismo rural de excelência — a Casa de Família Açoriana; e podem vê-lo sob as tábuas do palco em “O Amante do Meu Marido” ou na série “Salto de Fé”, disponível na RTP Play. Muito em breve interpretará Lurch no espectáculo “A Família Addams — O Musical” que estreia no Teatro Maria Matos a 5 de março.

Um produtor de Hollywood está louco para fazer um filme sobre a tua vida, mas falta convencer o estúdio, que só avança se for o Spielberg a realizar… ora sucede que dás por ti num elevador com o sôr Steven. Como venderias o teu peixe?
Hey Steve. How about a film about an Azorean guy who was born on the most beautiful islands in the world in the middle of the Atlantic Ocean. Some islands that many people think are the ancient Atlantis and with volcanoes that still hibernate… the actor would be me… I’m sure you’ve never filmed an Azorean guy who is 1.93m tal… What do you say?

O dia profissionalmente mais feliz da tua vida foi quando e porquê?
É difícil escolher só um momento porque, felizmente, fui tendo alguns ao longo destes 19 anos de percurso artístico — mas, tendo de escolher um, diria que foi quando fui escolhido para o meu primeiro grande papel em televisão. Era ‘A’ oportunidade de poder mostrar o meu trabalho como ator. Fui escolhido para um dos papéis principais da novela “I Love it” da TVI. Não poderia ter começado melhor a fazer um papel de açoriano cheio de sotaque e calão micaelense. Fui muito feliz!

O que poderia Portugal Continental aprender com os Açores? 
Portugal Continental poderia aprender a ser mais autónomo e não depender quase sempre das normas europeias. Com isso não quero dizer que é mau ser europeu, mas quase todos os países da Europa dependem muito do poder central a partir de Bruxelas.

De que forma o carácter atlântico, a açorianidade, o ser-se ilhéu influencia o teu processo criativo? 
A alma e a natureza de um açoriano é feita de qualidades culturais, sociais e históricas que nos define. Acredito que os açorianos têm a sua forma particular de ver o mundo. Nas veias corre-nos basalto negro, mas também toda essa carga emocional que até pode ser impercetível, todavia vive em nós. Ora, para um ator — que é um atleta emocional — que observa e traduz a complexidade da vida humana aos seus olhos… como não ser influenciado por toda essa herança?

O maior disparate que já ouviste sobre as ilhas é?
“Vocês conhecem-se todos, não é?”.

Que crime cometerias se não houvesse castigo?
Matava ou fazia sofrer, um a um, todos os ditadores deste Mundo que atentam e causam sofrimento à vida humana.

Como reage a tua família reage à tua profissão?
Ficam felizes por me ver feliz a fazer o que gosto. Mas há uns tempos, quando tinha menos trabalho, a minha mãe ainda me dizia que devia arranjar um emprego estável e, como hobbie, ser ator… Mas, o que é um emprego estável hoje em dia? Felizmente a minha mãe nunca mais tocou no assunto! (risos)

Aquele sonho por realizar é?
Cantar o repertório de Frank Sinatra com uma orquestra ao vivo.

Finalmente, para acabar de forma fácil, qual é o sentido da vida?
O sentido da vida é fazermos e descobrirmos o que nos faz sentir bem e felizes. Realizarmos os nossos sonhos e procurarmos ser a nossa melhor versão.

Um restaurante?
Borda d’Agua Lagoa em São Miguel, Açores. 

Vista?
Miradouro da Grota do Inferno, nas Sete Cidades, em São Miguel.

Zona Balnear?
Ilhéu de Vila Franca do Campo.

Ritual?
Fazer caminhadas por trilho.

Artista?
Zeca Medeiros.

Obrigatório visitar?
Estúdio 13 (Espaço de indústrias criativas).

Incidente Diplomático

Há uns mesitos que esta rubrica não dava sinal de vida, mas os incidentes continuam a acontecer e o secretariado desta Embaixada não tem tido mãos a medir. Desta vez, foi necessário enviar dois adidos para atribuir um par de carolos ao autor do seguinte rodapé:

Pois é. Uma hora depois ‘de Portugal’. Somos assim, independentes involuntários. Nem foi preciso uma revolução. Contudo, admito que seremos realmente outra pátria — imaginem que aqui até temos uma profissão chamada “editores”. É googlar, vilanagem.

 

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