Teatro e exposições

Estado compra obra de Paula Rego por 400 mil euros para o novo museu do CCB

A pintura que retrata Salazar irá ficar depositada no antigo Museu Berardo. É a primeira aquisição da tutela para o espaço museológico.
Uma obra de Paula Rego.

“O Impostor” (1964) quadro da artista Paula Rego, que retrata Salazar de forma satírica, é a primeira adquirida pelo Estado para o novo museu a cargo da gestão do Centro Cultural de Belém, em Lisboa. A pintura a óleo e técnica mista  foi adquirida pelo Estado por 400 mil euros à família da artista.

“Há dois motivos que justificam esta aquisição: o ano da morte de Paula Rego e a altura em que teremos um novo espaço museológico onde até agora esteve o Museu Berardo”, revelou o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, em declarações à agência Lusa, citadas pelo “Jornal de Notícias”.

A obra em causa foi escolhida por ser uma referência — tanto pela autora como pelo tema que retrata. “Seria impensável ter um novo museu de arte contemporânea [instalado no Centro Cultural de Belém] que não tivesse uma peça significativa da Paula Rego pertencente ao Estado Português”, sublinhou o ministro da cultura, citado pela mesma fonte, sobre a aquisição que irá ficar em depósito já no ex-Museu Berardo.

Na passada terça-feira, 27 de dezembro, o Governo aprovou a extinção da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea — Coleção Berardo (FAMC—CB). A sua gestão e posse passou para a Fundação Centro Cultural de Belém.

A célebre pintora nasceu em Lisboa a 26 de janeiro de 1935 e morreu aos 87 anos, a 8 de junho de 2022, em Londres. Paula Rego é uma das artistas portuguesas mais reconhecidas internacionalmente e, no final de 2021, foi mesmo considerada uma das 25 mulheres mais influentes do mundo pelo “Financial Times”.

A escolha da obra adquirida pelo Estado terá sido feita a partir de sugestões da família de Paula Rego, com base numa proposta da curadora da Coleção de Arte Contemporânea do Estado (CACE), Sandra Jurgens. Com esta aquisição, a CACE passa a ter dez criações da pintora.

“Sem desvalorizar as outras, esta peça é muito maior, e tem outro significado e relevância para estar exposta num museu de arte contemporânea com um perfil internacional”, sublinhou Pedro Adão e Silva sobre o novo projeto que será desenvolvido ao longo do ano.

O quadro “O Impostor” tem 179 por 158 centímetros e foi pintado em 1964. Fez parte da primeira exposição de Paula Rego em Portugal, que aconteceu em Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1965. Atualmente, está em exposta no Museu de Pera, no centro histórico de Istambul, na Turquia. Após o encerramento da exposição temporária “The Story of Stories”, que arrancou a 23 de dezembro 2022 e termina a 30 de abril de 2023, deverá regressar a Portugal.

Para Nick Willing, um dos filhos de Paula Rego, “é uma honra que uma obra muito importante” da artista, realizada no Albert Street Studio, em Londres, no Reino Unido — país onde a autora se radicou na década de 70 — seja integrada numa coleção do Estado Português. Anteriormente mostrada “em muitos países, é uma honra que fique agora em Lisboa, num dos museus mais importantes de Portugal e a nível internacional”, disse Nick Willing. “Se fosse para Espanha ou para os Estados Unidos da América não seria a mesma coisa.”

No quadro, o chefe do Governo da ditadura aparece retratado como um polvo. “Esta imagem é uma das críticas mais diretas ao regime que ela fez na década de 1960”, salientou o filho de Paula Rego. “Naquela altura, a minha mãe fez muitas obras em estilo figurativo a criticar Salazar. A polícia política estava sempre de olho nela, quando vinha a Portugal.”

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